No último domingo (15), um homem agrediu uma criança de quatro anos durante uma festa junina escolar, depois de o menino ter se desentendido com seu filho durante uma apresentação de dança. A atitude do adulto é configurada como violência infantil, e leva ao debate sobre o que pode ser feito em situações como essa, a fim de garantir a segurança dos pequenos e proteger a criança agredida.
Para que a situação seja mediada da melhor forma possível, o adulto deve estar emocionalmente estável, manter a calma e analisar a situação com parcimônia. “O primeiro passo é interromper a agressão, mas sem agressividade”, explica Lidiane Silva, médica especializada em psiquiatria infanto-juvenil.
Nesses casos, o papel do adulto é mediar a situação, e isso depende do autocontrole. “Os pais precisam investir na saúde emocional deles“, diz Artur Costa, psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC).
Ele afirma que a melhor opção nesses casos é o diálogo com a criança, dando espaço para a expressão e ouvir atentamente o que ela tem a dizer. Além disso, o psicanalista diz que, no momento da agressão, é importante retirar o próprio filho do local.
Monica Gobitta, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) explica que a escola deve ter não só um posicionamento firme em casos de agressões entre alunos, como um investimento de tempo para promover a aprendizagem e orientar os pais de ambas as crianças.
“A escola precisa tentar fazer com que a criança possa entender que tem uma outra pessoa ali. Que a outra pessoa sente dor. E também ajudar a criança agredida a construir a ideia de que não gosta daquilo. Ensinar a criança a falar para o amiguinho ‘eu não gostei do que você fez’.”
Assim, as duas crianças aprendem juntas que a agressão não é o jeito certo de resolver os problemas. A psicóloga também fala que, nessa idade, as agressões surgem mais como uma forma de linguagem e de expressar algo que a criança ainda não tem repertório para dizer. “É muito comum que a criança morde a outra porque ela gosta muito do amiguinho, ou porque está com ciúmes. E ela não sabe dizer isso”, diz.
Outro ponto é que muitas vezes a agressividade das crianças são um reflexo de questões que envolvem os responsáveis, ou até mesmo a vivência em ambientes violentos. Ou até mesmo uma forma de expressão “muitas vezes a criança não identifica que aquilo é uma violência”, diz Costa.
Silva reforça que é importante ter sempre uma abordagem educativa, e não punitiva, ensinando estratégias de enfrentamento saudáveis, sem minimizar ou justificar a atitude da criança agressora.
“A raiva é uma emoção básica e faz parte do desenvolvimento. A criança pequena precisa aprender a lidar com ela e expressá-la de forma segura”, afirma a médica. Para isso, os pais precisam desenvolver a educação emocional da criança.
Se a agressividade for recorrente, os especialistas recomendam procurar um profissional para entender as questões que podem estar envolvidas, como situações de estresse, ambiente familiar agressivo ou outras possíveis causas.