Página Inicial Saúde Conheça finalistas do 16º prêmio Octavio Frias de Oliveira – 07/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Conheça finalistas do 16º prêmio Octavio Frias de Oliveira – 07/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) divulgou nesta sexta-feira (4) os finalistas da 16ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, que reconhece pesquisas e inovações em oncologia no Brasil. A iniciativa, em parceria com a Folha, destaca trabalhos que avançam no combate ao câncer, como novas terapias, tecnologias e descobertas genéticas.

Entre os finalistas na categoria pesquisa em oncologia estão estudos sobre um inibidor experimental contra leucemia linfoblástica aguda; identificação de uma variante genética ligada a tumores agressivos; e sobre genes ligados a risco hereditário de tumores neuroendócrinos.

Na categoria inovação tecnológica em oncologia estão um teste que detecta bactéria associada ao câncer colorretal em exame fecal; avanços em terapia celular CAR-T para cânceres hematológicos; e o desenvolvimento de uma nanotecnologia com base em composto natural para tratamentos oncológicos.

O prêmio homenageia, desde 2010, Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de 1962 a 2007, ano da sua morte, com objetivo de estimular a produção de conhecimento sobre prevenção e combate ao câncer.

Os premiados nas três categorias receberão R$ 20 mil cada um e um certificado. A premiação ocorrerá em 5 de agosto no auditório do Icesp, em São Paulo.

Finalistas da categoria pesquisa em oncologia

Inibidor experimental mostra potencial contra leucemia linfoblástica aguda

  • Autores: Jean Carlos Lipreri da Silva, Keli Lima, Benjamin Ede, Mariana Lazarini, Hugo Passos Vicari, Frederico Lisboa Nogueira, Natasha S. Clayton, Katy Pinnell, Wellington Fernandes da Silva, Elvira Deolinda Rodrigues Pereira Velloso, Israel Bendit, Leticia Veras Costa-Lotufo, Eduardo Magalhães Rego, Anne J. Ridley e João Agostinho Machado-Neto
  • Instituição: USP (Universidade de São Paulo)
  • Título: Inibição farmacológica da ezrina reduz o fenótipo proliferativo e invasivo em células de leucemia linfoblástica aguda
  • Artigo: sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0014299924008513

Pesquisadores da USP identificaram um composto químico experimental com potencial terapêutico contra a leucemia linfoblástica aguda. O inibidor, chamado NSC305787, bloqueia a ação da proteína ezrina (EZR), associada ao crescimento e à invasão das células tumorais.

Em testes com amostras de 15 pacientes com a doença, todos apresentaram alta expressão da proteína e responderam ao tratamento, que reduziu a proliferação, sobrevivência e adesão das células cancerígenas a tecidos saudáveis, além de induzir sua morte.

“Como a ezrina é pouco expressa em células normais, o inibidor se torna um alvo seletivo”, explica João Agostinho Machado-Neto, professor do ICB-USP e autor do estudo.

O composto funcionou mesmo em células com diferentes perfis genéticos e níveis de gravidade, o que sugere potencial para atingir um grupo amplo de pacientes. A leucemia linfoblástica aguda é rara em adultos e tem prognóstico ruim: cerca de 70% morrem em até cinco anos, segundo o pesquisador.

Hoje, o tratamento se baseia em quimioterapia, que causa efeitos colaterais severos, e, em alguns casos, transplante de medula. O inibidor pode representar uma alternativa mais eficaz e menos agressiva. Os próximos passos são os testes em animais, que devem durar até dois anos. Se bem-sucedidos, os testes em humanos podem começar em cerca de cinco anos.

Nova variante genética pode indicar tumores agressivos e abrir caminho para tratamentos

  • Autores: Ana Maria Rodrigues, Ana Paula Zen Petisco Fiore, Gabriela D. A. Guardia, Ricardo Jose Giordano, Deborah Schechtman, Michele Pagano, Rebeka Tomasin, André Azevedo Reis Teixeira, Pedro A. F. Galante e Alexandre Bruni-Cardoso
  • Instituição: USP com colaboração de pesquisadores do Sírio-Libanês e da NYU (EUA)
  • Título: Identificação de um novo isoforma de splicing alternativo da quinase Hippo STK3/MST2 com atividades reduzidas de quinase e supressão do crescimento celular
  • Artigo: nature.com/articles/s41388-024-03104-2

A pesquisa identificou uma falha no processamento genético das células que pode favorecer o crescimento de tumores agressivos. A descoberta, feita em células humanas e publicada na revista Oncogene (do grupo Nature), descreve uma variante defeituosa da proteína MST2, que atua como um freio natural da multiplicação celular.

A variante, chamada MST2Δ7, foi detectada em cânceres de mama, pâncreas e pulmão, mas não em tecidos normais, sugerindo seu potencial como marcador da doença. Em tumores de pâncreas, ela está associada a formas mais agressivas e menor sobrevida.

“Essa proteína funciona como um freio natural que impede o crescimento descontrolado das células”, explica o bioquímico Alexandre Bruni-Cardoso, professor da USP e coordenador do estudo. “O que descobrimos foi que, em algumas células tumorais, esse freio está sabotado.”

O estudo começou com células de câncer de mama em laboratório e analisou mais de 4.000 amostras humanas de 11 tipos de câncer sólido, confirmando a presença da variante.

Os próximos passos incluem validar a descoberta em mais amostras, testar estratégias em modelos animais e desenvolver ferramentas para identificar a proteína defeituosa em exames clínicos.

Pesquisa identifica genes ligados a risco hereditário de tumores neuroendócrinos no Brasil

  • Autores: Gustavo F.C. Fagundes, Janaina Petenuci, Felipe Freitas-Castro, Ana Caroline F. Afonso, Ibere C. Soares, Victor Srougi, Nathalia L. Gomes, Lucas S. Santana, Caio A.A. Pereira, Felipe L. Ledesma, Ana Alice W. Maciel, Delmar M. Lourenço, Maria Adelaide A. Pereira, Fabio Y. Tanno, Jose L. Chambo, Maria Candida B.V. Fragoso, Ana O. Hoff, Berenice B. Mendonca, Ana Claudia Latronico e Madson Q. Almeida
  • Instituição: USP
  • Título: Conhecendo o panorama genético dos feocromocitomas e paragangliomas em uma coorte brasileira
  • Artigo: academic.oup.com/ejendo/article-abstract/192/1/1/7926799

O estudo identificou que os genes CHEK2 e BRCA2, associados a outros tipos de câncer, também aumentam o risco de feocromocitomas e paragangliomas —tumores raros que produzem hormônios do estresse e causam sintomas como pressão alta e taquicardia.

Ao analisar 182 pacientes, a pesquisa mostrou que 48,4% tinham mutações hereditárias, uma taxa “muito maior do que a encontrada em estudos feitos fora do Brasil”, segundo Madson Almeida, professor da USP e um dos autores.

O estudo também confirmou o papel do gene SDHB, ligado à produção de energia celular, cuja mutação foi identificada em 16,5% dos casos. Pacientes com alterações no SDHB tiveram maior risco de metástases, presentes em até 50% desses casos.

Atualmente, o SUS não oferece testes genéticos para esses tumores, e a maioria dos planos privados cobra pelos exames. Por isso, o estudo propõe um método de triagem genética simplificado e acessível.

Finalistas da categoria inovação tecnológica em oncologia

Detecção de bactéria melhora triagem do câncer colorretal em teste fecal

  • Autores: José G. Datorre, Mariana B. Dos Reis, Ana C. de Carvalho, Jun Porto, Gabriela H. Rodrigues, Adhara B. Lima, Monise T. Reis, Welinton Hirai, Claudio L. Hashimoto, Denise P. Guimarães e Rui M. Reis
  • Instituição: Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do Hospital de Câncer de Barretos
  • Título: Aprimorando a triagem do câncer colorretal com análise por PCR digital em gotículas de Fusobacterium nucleatum em amostras do teste imunológico fecal
  • Artigo: pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38953141

O estudo avaliou uma forma de melhorar o rastreamento do câncer colorretal ao detectar a bactéria Fusobacterium nucleatum (Fn), um biomarcador promissor, em amostras de fezes usadas no teste imunológico fecal (FIT), com a técnica sensível PCR digital em gotículas (ddPCR).

Realizada com 300 participantes assintomáticos do Hospital de Câncer de Barretos (SP), a pesquisa mostrou que níveis elevados da bactéria estavam associados ao câncer colorretal, especialmente em pacientes com FIT positivo —exame que identifica sangue oculto nas fezes, mas não o câncer diretamente.

O novo teste identificou todos os casos de câncer entre os FIT positivos, ajudando a priorizar quem deve fazer colonoscopia com mais urgência, sem substituir o exame.

“Nosso estudo é pioneiro ao demonstrar que é possível detectar com alta sensibilidade o DNA da Fusobacterium nucleatum em amostras já usadas no FIT, sem coleta adicional”, afirma Rui Manuel Reis, diretor científico do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital e coordenador do estudo.

Ele explica que, embora o FIT seja útil, cerca de 70% dos positivos não apresentam lesões graves, mas todos são encaminhados para colonoscopia. O teste da bactéria pode aprimorar esse fluxo.

Os pesquisadores planejam ampliar o estudo para mais de mil participantes e investigar outras bactérias para aumentar a precisão do rastreamento.

Nova abordagem aumenta a ação das células CAR-T e reduz falhas no tratamento do câncer

  • Autores: Maria Letícia Rodrigues Carvalho, Clara de Oliveira Andrade, Mariela Pires Cabral-Piccin, Gabriela Sarti Kinker, Glauco Akelinghton Freire Vitiello, Raylane Adrielle Gonçalves Cambuí, Luiza de Macedo Abdo, Eduardo Mannarino Correia, Bruno Dalbelo da Silva Elias, Emmanuel Vinicius Oliveira Araujo, Alexandre Silva Chaves, Pedro Henrique Barbosa Pereira, Karina Lobo Hajdu, Amanda Rondinelli, Arianne Fagotti Gusmão, Maria Luisa Marques Pierre, Igor Brasil-Costa, Caroline Pouza Zanella, Marta Maria Moreira Lemos, Marjorie Vieira Batista, Jayr Schmidt Filho, Cheryl Arrowsmith, Vladmir Cláudio Cordeiro de Lima, Martin Hernán Bonamino e Tiago da Silva Medina
  • Instituição: A.C Camargo Cancer Center
  • Título: Alvo na PRC2 aumenta a capacidade citotóxica das células CAR-T anti-CD19 contra malignidades hematológicas
  • Artigo: aacrjournals.org/cancerres/article-abstract/85/12/2234/762878

A terapia CAR-T modifica as células de defesa do corpo (chamadas de linfócitos T) para reconhecer e eliminar células tumorais. O método tem revolucionado o tratamento de cânceres do sangue, como leucemias e linfomas. No entanto, nem todos os pacientes respondem a essa terapia, em grande parte devido à exaustão precoce das células CAR-T.

O estudo liderado pela farmacêutica e doutoranda Maria Letícia Carvalho, do Hospital A.C. Camargo, buscou melhorar a terapia por meio da modulação epigenética —que controla a ativação dos genes para aprimorar o desempenho das células contra o câncer.

“No laboratório, modificamos as células epigeneticamente durante a produção, usando um inibidor químico que altera o epigenoma e aprimora a função dessas células”, explica Carvalho.

Os próximos passos são os estudos clínicos em humanos. “A ideia é modificar as células no laboratório, minimizando riscos e efeitos colaterais, já que o inibidor não é aplicado diretamente no paciente”, acrescenta a pesquisadora.

Composto de planta nordestina vira base para novo tratamento contra o câncer

  • Autores: Claudia do Ó Pessoa, José de Brito Vieira Neto, Maria da Conceição Ferreira de Oliveira, Celina de Jesus Guimarães, Carlos Roberto Koscky Paier, Cristiana Libardi Miranda Furtado, Josimar de Oliveira Eloy, Paulo Roberto Ribeiro Costa, Guilherme da Silva Caleffi, Juliane da Silva Falcão
  • Instituição: UFC (Universidade Federal do Ceará) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
  • Título: Integração da química verde à nanotecnologia médica: uma nova perspectiva para o tratamento do câncer
  • Artigo: trabalho não publicado

Os pesquisadores desenvolveram uma nova tecnologia que combina um composto natural da Platymiscium floribundum com ação antitumoral a uma formulação inovadora baseada em nanotecnologia. A molécula pertence à classe dos pterocarpanos, já conhecida por atacar células tumorais, mas difícil de produzir em laboratório por métodos caros e não tão eficazes.

“Nosso grupo conseguiu criar uma rota sintética nova, mais limpa e eficaz, que não depende da coleta da planta e respeita os princípios da química verde”, explica José Vieira Neto, pós-doutorando na UFC e um dos autores da pesquisa.

O método aumentou a produção em até 30 vezes e reduziu o uso de substâncias tóxicas, tornando o processo mais barato e sustentável.

A pesquisa está na fase pré-clínica, com testes em células. O próximo passo são os estudos em animais para avaliar segurança, absorção e eficácia antes dos testes em humanos.

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