A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) abriu consulta pública para avaliar a inclusão da semaglutida 2,4 mg (Wegovy) no SUS (Sistema Único de Saúde). A consulta, que vai até 30 de junho no site gov.br, busca coletar opiniões do público e médicos sobre a possível inclusão do medicamento no sistema público de saúde brasileiro.
Se aprovado, o fármaco será o primeiro tratamento específico para obesidade disponível no SUS. Estudos comprovam que ele é benéfico para pacientes a partir de 45 anos com histórico de doença cardiovascular e sem diabetes. A proposta foi apresentada pela Novo Nordisk, fabricante do Wegovy, além do Ozempic e do Rybelsus —todos com semaglutida como princípio ativo.
O cardiologista Marcelo Heitor Vieira Assad, coordenador do Serviço de Lípides e Diabetes do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), explica que “a obesidade é um problema de saúde pública mundial, com taxas muito elevadas, e é uma doença crônica como a hipertensão, o colesterol alto e o diabetes, precisando de tratamento adequado e multidisciplinar”.
De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, divulgado pela Federação Mundial da Obesidade, mais de um bilhão de pessoas vivem com sobrepeso globalmente, número que pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030.
A obesidade é uma doença que desencadeia múltiplos problemas de saúde, como hipertensão, diabetes e colesterol alto, aumentando significativamente o risco cardiovascular. O excesso de peso também está ligado a depressão, dores articulares e redução da expectativa de vida.
O controle do peso, comprovado por resultados como os da cirurgia bariátrica, melhora todos esses fatores de risco, afirma o especialista. Tratar a obesidade não é questão estética, mas de saúde pública, pois impacta diretamente na prevenção de doenças graves e na longevidade, completa Assad.
O cardiologista ainda ressalta que debater publicamente a inclusão de medicamentos como a semaglutida no SUS tem impacto significativo na saúde populacional. Acredito que isso deva ser feito de uma forma bastante criteriosa por questões de custo e que seja direcionado, na minha opinião, para centros específicos que possam avaliar a real indicação e o benefício do medicamento”.
A endocrinologista Maria Edna de Melo, coordenadora da Comissão de Advocacy da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade) e diretora do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), também destaca a importância da incorporação de medicamentos para obesidade no SUS, mesmo que inicialmente para grupos específicos.
“A liraglutida também está em consulta pública, com indicação para pacientes com obesidade, diabetes e doença cardiovascular. A solicitação foi feita pela Abeso com apoio da SBEM e da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes)”, afirma a média. “No entanto, assim como no caso da semaglutida, a recomendação preliminar da Conitec foi pela não incorporação, o que frustra expectativas e limita ainda mais o tratamento.”
A decisão final da Conitec será tomada após análise de todas as contribuições recebidas durante a consulta pública, considerando não apenas a eficácia do medicamento, mas também seu custo-benefício para o sistema público de saúde.
A endocrinologista Maria Edna de Melo destaca que, embora limitado, qualquer avanço no tratamento da obesidade no SUS já representa progresso e pode beneficiar muitas vidas.