Página Inicial Saúde Dar espaço ao adolescente melhora relação de pais e filhos – 29/07/2025 – Equilíbrio

Dar espaço ao adolescente melhora relação de pais e filhos – 29/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Para muitas famílias, a chegada da adolescência representa um período de distanciamento e conflito com os filhos. A criança carinhosa, que antes queria estar na companhia dos pais, agora prefere se isolar no quarto, rejeita passeios em família e contesta toda e qualquer regra da casa. As conversas animadas à mesa são substituídas por respostas monossilábicas, e os pais deixam de ser as pessoas preferidas na vida dos filhos. Parece triste, mas especialistas ouvidos pela Folha afirmam que essas mudanças são normais.

A educadora parental Cláudia Alaminos, especializada em adolescência, explica que o distanciamento da família prepara o jovem para a vida adulta. “Já pensou se os adolescentes continuassem grudados nos pais como eram na infância? Dificilmente conseguiriam se transformar em adultos”, afirma. “Questionar os pais, buscar independência, se irritar com regras, virar os olhos, não é sinal de que algo vai mal ou que os pais fracassaram na educação dos filhos.”

Esse afastamento também marca a busca do adolescente pela própria identidade, um momento em que o jovem se volta para si para descobrir quem ele é e quem pretende ser. “A adolescência é marcada pela busca de identidade —profissional, sexual e de valores. É preciso romper com os pais para formar um ‘eu’ próprio”, diz o psiquiatra da infância e adolescência Miguel Angelo Boarati.

A questão é que alguns pais ficam apegados ao passado e tentam resgatar uma criança que não existe mais. “Muitos continuam tratando o adolescente do mesmo modo que faziam quando ele era pequeno. Isso vai causar uma certa rebeldia, que é um modo do adolescente dizer que cresceu”, afirma Alaminos.

A jornalista Luciana Finazzi percebeu que precisava mudar a forma de se relacionar com a filha assim que ela entrou na adolescência. “Até os 11 anos, ela era minha companheira, meu grudinho. Assim que entrou na puberdade, mudou completamente. Começou a me contestar. Deixei de ser a pessoa com quem ela queria ficar o tempo todo. Agora, ela quer ficar com o namorado, sair com amigos, ter a vida dela. E é lógico que ela tem que ter isso, dou a maior força. Mas meu coração fica pequenino porque morro de saudade.”

Para não perder o vínculo com a filha, que hoje tem 16 anos, Luciana decidiu que era hora de compreender melhor esse período de transformações. “Quando estava grávida, li muito sobre bebês, me informei bastante. Quando chegou a adolescência, vi que estava na hora de fazer novamente essa imersão. E aí comecei a entender que muitas atitudes eram típicas da idade, não eram contra mim.”

Para a educadora parental, é essencial que as famílias entendam que esse momento não significa um rompimento real e permanente, mas sim um sinal de que é necessário revisar a relação. “Levar isso para o pessoal e encarar essa ruptura como algo que nunca mais vai se reestabelecer é dar um peso que não existe”, diz Alaminos. “O que a gente precisa, como adulto, é testar novas formas de conviver com os filhos.”

Como atualizar a relação com o adolescente

Se a rebeldia faz parte da adolescência, aprender a lidar com ela pode ser a chave para melhorar a relação. Não existe receita pronta, mas um bom caminho é aprender a escutar o adolescente. “Às vezes, ele mal começa a falar e o adulto já quer dar conselho, impor limite ou dizer que errou. É preciso escutá-lo até o fim, perguntar sua opinião. Quando o adolescente se sente respeitado e ouvido, a tendência é baixar a guarda e se abrir mais para o diálogo”, afirma a educadora parental.

Além disso, ela defende que os pais repensem as regras da casa, analisem se há espaço para flexibilizar alguns limites e oferecer gradualmente mais autonomia.

Foi isso que Luciana fez. “Quando você é mãe de um bebê, está no comando. Mas o adolescente quer pilotar a própria vida. Nós, como pais, precisamos relaxar e mostrar a eles que confiamos na direção que estão tomando. Para mim, foi essencial me recolocar como mãe no papel de copiloto. Foi impressionante a diferença.”

No fim das contas, não se trata de resistir à mudança, mas de entender que ela é inevitável — e que pode ser bonita. “Vejo minha filha se tornando uma mulher incrível, com ideias, empatia, presença. Dá saudade? Dá. Mas tem muito encanto nessa fase também”, resume Luciana.

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