Mais da metade da população brasileira, cerca de 90 milhões de pessoas com 16 anos ou mais, nunca consultou um dermatologista, o que corresponde a 54% da população. Por outro lado, 41% notaram o surgimento de sinais na pele, cabelo ou unhas nos últimos 12 meses. Os dados fazem parte de um levantamento do Datafolha, desenvolvido em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a divisão de Beleza Dermatológica do grupo L’Oréal no Brasil.
O Datafolha ouviu 2.008 pessoas maiores de 16 anos entre os dias 9 e 12 de junho de 2025 em 136 municípios de todas as regiões do Brasil. Entre eles, 48% eram homens e 52% mulheres.
Carlos Barcaui, presidente da SBD, vê com preocupação os resultados da pesquisa. “Existem condições crônicas que afetam significativamente a qualidade de vida dos indivíduos e que se manifestam pela pele, como câncer de pele [que tem maior incidência no Brasil], infecções e desequilíbrios hormonais”, afirma.
Nathalia Harnam, gerente de comunicação científica do grupo L’Oreal, destaca que a incidência de doenças de pele é alta, visto que é o maior órgão do corpo e está constantemente exposto a agressões externas, como sol e poluição. “Muitas vezes as pessoas não sabem o que fazer ou não sabem quem procurar”, diz. “Com um dado como esse, entendemos que é uma questão de saúde pública”.
A L’Oréal tem adotado iniciativas para ampliar o acesso à dermatologia, como o programas de combate ao câncer de pele em regiões remotas e pesquisas sobre pele negra para suprir os déficits de conhecimento. Entre os que nunca foram ao dermatologista, por exemplo, o número era maior entre as pessoas negras (58%), do que entre as brancas. (42%).
O número se manteve semelhante ao encontrado em 2016, quando outra pesquisa sobre saúde da pele foi realizada. Essa estabilidade, segundo o médico, demonstra barreiras estruturais e culturais no país. Entre elas o desconhecimento da importância do cuidado com a pele, a dificuldade de acesso ao especialista no Sistema Único de Saúde (SUS) e a ideia equivocada de que o dermatologista é um médico voltado apenas para a estética. O levantamento mostrou que sete em cada dez pessoas (69%) identificam dermatologistas como médicos especialistas, enquanto 17% não identificam tais profissionais como médicos ou da área da saúde.
“O acesso à dermatologia tem que ser ampliado nos serviços públicos”, diz Barcaui. “Temos que promover campanhas educativas de grande alcance, mostrar que a pele é uma questão de saúde e não apenas de aparência”, afirma. A pesquisa é lançada justamente no dia em que se celebra o Dia Mundial da Saúde da Pele, em 8 de julho.
O tema foi destaque na última Assembleia Mundial da Saúde, realizada em maio de 2025. No evento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a pele como prioridade mundial de saúde.
Entre os 46% das pessoas que já foram ao dermatologista alguma vez, 27% consultaram a especialidade no último ano —12% da população total. Somente 37% das pessoas afirmaram verificar a própria pele, cabelos e unhas para identificar possíveis doenças, ao passo que 20% raramente ou nunca fazem isso. Para o médico, os dados reforçam a importância de saber identificar o que merece atenção médica. “Muitas pessoas ignoram ou menosprezam os sinais que podem indicar doenças”, diz Barcaui.
Apenas 7% afirmaram ter alguma condição na pele, sendo dermatite atópica e psoríase as mais comuns. O índice é maior entre quem já fez procedimento estético e quem costuma ir ao dermatologista com mais frequência e mantém uma rotina fixa de cuidados com a pele.
Esse grupo, segundo o médico especialista, está mais atento ao corpo de maneira geral e tem mais acesso ao diagnóstico. “Isso indica que a prevalência real de doenças crônicas na população pode ser bem maior do que os 7% identificados”, afirma. “O dado reforça que quanto maior é o acesso e autocuidado do indivíduo, maior a chance de identificar doenças precocemente para tratamentos mais eficazes.”
Dos brasileiros adultos, 20% afirmaram ter uma rotina diária de cuidado com a pele. Outros 29% usam apenas o básico, como sabonete e protetor solar, o que já pode ser considerado um avanço, principalmente por conta da proteção solar, afirma Harnam. Outros 14% das pessoas variam o cuidado de acordo com a necessidade da pele e da época do ano. “O fato de apenas 20% manter uma rotina de cuidado diário mostra que há muito espaço ainda para educação em saúde. As garantias básicas de cuidado ajudam muito na prevenção de envelhecimento e controle de doenças, como a acne”, diz.
Entre os brasileiros, o principal fator que os faz buscar cuidados com a pele é a prevenção de doenças, com 38%. Em seguida, com 34%, vem a higiene pessoal —mais relevante entre os homens do que entre as mulheres— seguida pela autoestima, maior entre os jovens de 16 a 24 anos (23%).