Página Inicial Saúde Deixem a cerveja frequentar outros lugares que não um parque – 09/06/2025 – Vida de Alcoólatra

Deixem a cerveja frequentar outros lugares que não um parque – 09/06/2025 – Vida de Alcoólatra

Publicado pela Redação

Todo dia vou a um determinado parque, é o meu preferido. Caminho e olho as árvores, os pássaros, observo as pessoas que correm, andam, descansam. Escolho uma música ou um podcast para me acompanhar.

Introduzi atividades físicas na minha vida há oito anos, desde que parei de beber. Acatei essa sugestão dos meus companheiros de AA, se bem que não era nenhuma descoberta da pólvora: qualquer médico recomenda fazer exercícios, por toda parte leio matérias dizendo que eles são um santo remédio para depressão.

Sinto que conheço cada canto do parque —vejo uma planta crescer, uma flor nova brotar. As crianças brincam de pega-pega, um ou outro adulto corre com o carrinho de bebê para otimizar o tempo.

Certo dia observei uma propaganda estampada em um totem: “Brindar sem álcool? Agora você pode!”. Na foto, duas cervejas sem álcool lado a lado, como que encostadas para um brinde. Quem disse que eu não posso brindar com água?

Pronto: a tal publicidade me provocou uma série de sensações péssimas. Lembrei que odeio toda vez que rola um brinde numa festa, num jantar. “Pega um copo para comemorar, Alice.” Argh! “Só falta você!”. Para não criar um climão, faço uma força e obedeço.

O parque foi privatizado, e a poluição visual de certa forma comprometeu seu encanto. Por outro lado, não posso ser hipócrita e não reconhecer que agora está mais cuidado. Acho uma pena, mas entendo. Gostei mesmo quando proibiram os outdoors nas ruas, a paisagem urbana melhorou demais. Não durou muito: logo inventaram os totens…

Aquela propaganda de cerveja ficou entalada na minha garganta. O parque é um lugar onde sempre me refugiei para não ficar passando em frente a bares. Não que eu tenha vontade de beber, sei bem o que o álcool fez e poderá fazer comigo. No entanto, às vezes anseio por não ser alcoólatra, só para imaginar que não teria passado os perrengues que passei. Mas a vida a gente vive, não dá pra passar a limpo.

Não vou deixar de ir ao parque por causa do tal totem, mas adoraria que os criadores dessa propaganda e os responsáveis por divulgá-la num parque lessem essa coluna. Deixem a cerveja frequentar outros lugares em que ela não perturbe quem vai ao parque em busca de uma vida mais saudável.


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