O que acontece quando, na ausência de qualquer outra informação ou planejamento prévio, você usa a lógica e segue a placa da estrada que aponta no sentido correto? A resposta, como eu descobri recentemente, não é necessariamente progresso na direção de casa.
Nos velhos tempos em que a gente precisava consultar mapa e planejar a rota inteira antes de pôr o carro na estrada, as placas rodoviárias eram apenas indicadores que confirmavam o que você já esperava: sim, você está no caminho certo. Quem tem um objetivo e um plano traçado de antemão só precisa de marcos que ofereçam o feedback de que está tudo indo conforme planejado para continuar no caminho.
Mas aí chegou o navegador por GPS, e os humanos delegaram todo planejamento a algoritmos que permitem ao condutor ignorar a rota da viagem e se satisfazer com apenas a instrução da vez.
Esta neurocientista não se satisfaz.
Não me basta saber o que estou fazendo agora (“siga 500 metros nesta direção”), e também não me satisfaço em saber apenas o que vem logo depois (“e vire à direita na rua Tal”). Eu quero sempre saber quais são as próximas DUAS coisas que eu vou fazer. Vou virar à direita, e depois fazer o quê? Sair na rampa? Seguir em frente? Qual das três pistas eu pego?
Sem os dois passos à frente de cada bifurcação na estrada, a vida se limita a responder aos eventos conforme eles acontecem. Um passo à frente é melhor do que nada, mas ainda não oferece mais do que mera expectativa do sinal que exigirá resposta.
É o segundo passo à frente que realmente estende o horizonte de possibilidades e dá tempo para pensar a respeito das escolhas futuras. São esses dois passos à frente dos acontecimentos que fazem toda a diferença para o comportamento inteligente: pela minha definição, aquele que mantem portas abertas, e a gente no controle das escolhas que atendem aos nossos interesses.
O córtex pré-frontal cheio de neurônios, que milhões de anos de contingências evolutivas me deram, me permite estar sempre dois passos à frente dos acontecimentos, antecipando o futuro e mantendo aberto meu leque de possibilidades, e não abro mão de usar minha prerrogativa como humana inteligente.
Se estou sozinha no carro indo a um destino desconhecido, consulto o mapa e a rota de antemão para saber o que esperar. Se eu tenho companhia no carro, e como o GPS é burro, quero desfrutar da inteligência da minha companhia para olhar adiante e prever o futuro para mim. Meus filhos já estão bem treinados na posição de navegadores. “Você vai pegar a saída 12A e depois virar à esquerda no sinal, então sai e fica logo na pista da esquerda”. Perfeito. Se houver qualquer imprevisto, eu já tenho um plano e posso agir a respeito.
Mas eu estava pela primeira vez na estrada com meu novo marido, que ainda achava que bastava me dizer a instrução da vez do GPS. Quando o celular dele se recusou a funcionar logo antes da placa que me forçava a escolher entre seguir a estrada para o sul (no sentido de casa) ou para o norte (no sentido oposto) e eu não tinha um plano, fiz o que mandava a lógica: sul, oras. Mas sul era Memphis; para Nashville, era preciso seguir adiante mais um pouco, contra a lógica, e pegar outra estrada. Foi um desvio inesperado de 20 quilômetros pelos pântanos de Kentucky até encontrar um retorno —e o celular se dignar a funcionar de novo.
Agora ele já sabe: dois passos à frente, sempre.
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