Na véspera, a moeda norte-americana teve alta de 0,32%, cotada a R$ 5,6614. A bolsa encerrou em queda de 0,44%, aos 132.273 pontos. Haddad sobre medidas econômicas do governo: ‘Na direção correta’
O dólar opera em alta nesta sexta-feira (23), perto dos R$ 5,70, analisando o discurso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad sobre o recuo do Ministério da Fazenda sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na máxima, chegou a R$ 5,7406.
Os ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento anunciaram nesta quinta-feira (22) um bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano. Também foi determinado um aumento do IOF, inicialmente com o objetivo de arrecadar R$ 20,5 bilhões a mais neste ano e R$ 41 bilhões em 2026.
Mas houve um recuo: o Ministério da Fazenda informou no fim da noite que decidiu voltar a zerar o IOF para aplicações de investimentos de fundos nacionais no exterior. Com isso, a alíquota zero está mantida nestes casos. O governo não revisou as contas.
O governo brasileiro vive o desafio de manter o crescimento do país e a população empregada, mas sem que a inflação dispare. O mercado considerou o bloqueio positivo, mas o relatório mostra que as despesas foram revisadas para cima e a alta do IOF foi considerada apenas mais uma medida paliativa.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
O dólar opera em alta de 0,49%, cotado a R$ 5,6903. Veja mais cotações.
Com o resultado, acumulou:
recuo de 0,13% na semana;
queda de 0,27% no mês; e
perda de 8,39% no ano.
Na véspera, a moeda americana fechou em alta de 0,32%, cotado a R$ 5,6614.
a
📈Ibovespa
O Ibovespa opera à partir das 10h.
Com o resultado, o índice acumulou:
queda de 1,38% na semana;
avanço de 1,63% no mês; e
ganho de 14,12% no ano.
Na véspera, o índice fechou em queda de 0,44%, aos 132.273 pontos.
O que está mexendo com os mercados?
No Brasil, as atenções do mercado financeiro ficaram voltadas para a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas do governo. O bloqueio foi de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano.
Para calcular a necessidade de bloqueio no orçamento, o governo fez uma nova estimativa das receitas e despesas para este ano. O detalhamento de quais ministérios serão atingidos pelo bloqueio será divulgado até o fim deste mês.
O bloqueio acontece por conta do limite de gastos do arcabouço fiscal, a nova regra para as contas públicas aprovada no ano passado, e também para cumprir a meta fiscal.
No caso arcabouço, a equipe econômica estimou que as despesas, previstas para este ano, estão de R$ 10,6 bilhões acima do limite do arcabouço.
Além disso, há um contingenciamento (também um tipo de bloqueio) de R$ 20,7 bilhões, com o objetivo de buscar o cumprimento da meta fiscal deste ano.
🔎 Para este ano, a meta é zerar o déficit das contas, que somou R$ 43 bilhões em 2024.
O governo pode ter um déficit de até 0,25% do PIB sem que o objetivo seja formalmente descumprida, o equivalente a cerca de R$ 31 bilhões.
Para fins de cumprimento da meta fiscal, também são excluídos outros R$ 44,1 bilhões em precatórios, ou seja, decisões judiciais.
O governo ainda informou que vai aumentar o IOF como forma de arrecadar mais, pois, caso contrário, o bloqueio de gastos orçamentários precisaria ser ainda maior.
➡️ Atualmente, o IOF é cobrado da seguinte maneira:
Uma alíquota de 0,38% na contratação de crédito, incidente sobre o valor total;
Um valor adicional diário de 0,0082% por dia para operações de até 30 dias;
Um valor adicional diário de 0,0041% para operações entre 31 e 90 dias;
Alíquota zero a partir do 91º dia;
Financiamentos de imóveis residenciais são isentos de IOF;
Alíquota de 3,38% para compras no exterior com cartão de crédito ou cartões pré-pagos internacionais (carregados com dólar);
Alíquota de 1,1% para compra de moeda estrangeira em espécie (dinheiro vivo);
Importações, exportações, remessa de lucros, dividendos ao exterior e movimentações de capital estrangeiro tem alíquota zero.
➡️ Com a mudança, vai ficar assim:
Uma alíquota de 0,95% na contratação de crédito por empresas (com exceção do Simples), incidente sobre o valor total;
Uma alíquota de 0,38% na contratação de crédito para empresas do Simples, incidente sobre o valor total;
Um valor adicional diário de 0,0082% por dia para empresas de forma geral;
Um valor adicional diário de 0,00274% por dia para empresas do Simples;
Planos de VGBL, de previdência complementar, com aportes mensais acima de R$ 50 mil terão uma alíquota de 5%;
Nas operações cambiais, haverá uma alíquota de 3,5% para cartões internacionais, remessas ao exterior e empréstimos externos de curto prazo;
Operações comerciais, remessas de lucros, dividendos e movimentações de capital estrangeiro seguem com alíquota zero.
Os receios fiscais dos investidores também têm sido ampliados pelos pedidos de reembolso dos aposentados e pensionistas vítimas da fraude dos descontos associativos do INSS. Segundo o instituto, mais de 1,8 milhões de pessoas já haviam solicitado a devolução até quarta-feira (21).
Por fim, o mercado ainda avalia os impactos da nova medida provisória do governo que altera regras do setor elétrico e amplia descontos na tarifa de energia. Segundo dados do governo, cerca 55 milhões de brasileiros serão beneficiados com desconto e 60 milhões com a isenção da conta de luz.
Pelo fato de o governo ter uma política fiscal expansionista (gasta em excesso), o Banco Central do Brasil (BC) tem mantido a taxa de juros básica da economia brasileira em patamar elevado (14,75%).
🔎 A lógica é que juros mais altos desestimulam o consumo, pois fica mais caro fazer empréstimos ou compras a prazo. Ao reduzir o consumo, a demanda por produtos diminui, o que ajuda a controlar a inflação, que ocorre quando a oferta não acompanha a demanda.
Na última segunda-feira (19), o presidente do BC, Gabriel Galípolo, reforçou que, diante do cenário atual, faz sentido manter os juros em patamar alto por mais tempo.
O BC tem dito claramente que uma desaceleração, ou seja, um ritmo menor de crescimento da economia, faz parte da estratégia de conter a inflação no país.
Cenário fiscal dos EUA
Já para os mercados globais, a notícia do dia é a aprovação pela Câmara dos Deputados dos EUA do “One Big Beautiful Bill Act” (“Um projeto grande e bonito”, na tradução), nomeado pelos republicanos em homenagem ao presidente Donald Trump.
O pacote, que agora segue para o Senado, busca tornar permanentes os cortes de impostos de renda individual e sobre herança aprovados no primeiro mandato de Trump, em 2017, além de promulgar promessas que ele fez na campanha de 2024 de não tributar gorjetas, horas extras e juros de alguns empréstimos para automóveis.
Para compensar parcialmente a perda de receita, a legislação propõe cancelar incentivos à energia verde aprovados pelo ex-presidente democrata Joe Biden e restringe a elegibilidade para programas de saúde e alimentação para os pobres.
Mesmo assim, as medidas devem adicionar cerca de US$ 3,8 trilhões à dívida americana, que já corresponde a 124% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Segundo o presidente-executivo do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, apesar de o projeto sobre impostos e gastos ter potencial para ajudar a trazer estabilidade para o país, ele não é propício para a redução do déficit público.
“Acho que eles deveriam fazer a lei tributária. Acho que isso estabilizará um pouco as coisas, mas provavelmente aumentará o déficit”, afirmou o executivo na Cúpula Global da China do JPMorgan em Xangai.
A preocupação com a situação fiscal dos EUA foi, inclusive, um dos argumentos usados pela agência Moody’s para rebaixar a nota de crédito dos EUA.
Segundo a companhia, “as sucessivas administrações e o Congresso dos EUA falharam em chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e custos crescentes de juros”.
Incomodados com essa situação, e também com as medidas tarifárias de Trump, os investidores estão vendendo cada vez mais o dólar e outros ativos americanos que constituem a base do sistema financeiro global.
Nesta quarta-feira (21), 12 estados norte-americanos entraram com uma ação judicial para suspender as tarifas do republicano, alegando que Trump extrapolou sua autoridade ao declarar emergência nacional para taxar parceiros comerciais.
Agenda de indicadores e noticiário global
Entre os indicadores do dia, o mercado repercute a divulgação dos novos dados de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que registraram uma queda na semana passada, para 227 mil. O número sugere que a economia manteve um ritmo constante de crescimento do emprego em maio.
Além disso, a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) dos EUA, divulgada pela S&P Global mostrou que a atividade empresarial norte-americana acelerou neste mês, em meio à trégua comercial com a China. As tarifas abrangentes de Trump sobre produtos importados, no entanto, elevaram os preços para empresas e consumidores.
Ainda nos EUA, a Associação nacional de Corretores de imóveis do país informou que as vendas de moradias usadas caíram de forma inesperada em abril, apesar de uma queda temporária nas taxas de hipotecas e do aumento da oferta. A expectativa é que esse número se mantenha em meio à crescente incerteza econômica por lá.
Na Ásia, um membro da diretoria do Banco Central do Japão (BoJ, na sigla em inglês), Asahi Noguchi, afirmou nesta quinta-feira que não vê necessidade de uma intervenção no mercado de títulos para conter os recentes aumentos acentuados nos rendimentos de prazos mais longos.
Já na Europa, o banco central alemão afirmou que a economia do país deve ficar estagnada novamente neste trimestre, uma vez que as tarifas dos EUA afetam as exportações e os novos planos de gastos de Berlim não irão sustentar o crescimento até o próximo ano.