Página Inicial Saúde Dor ao colocar DIU deve ser levada a sério, diz entidade – 16/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Dor ao colocar DIU deve ser levada a sério, diz entidade – 16/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Uma organização nacional americana que define padrões de prática para médicos delineou, pela primeira vez, como os profissionais podem oferecer opções de alívio da dor durante a inserção do DIU (dispositivo intrauterino), e outros procedimentos ginecológicos comuns.

As novas diretrizes, publicadas na quinta-feira (15) pelo Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG, na sigla em inglês), pedem que os médicos “não subestimem a dor sentida pelas pacientes”, marcando uma mudança significativa na postura da organização.

Em anos anteriores, o ACOG reconhecia que procedimentos ginecológicos comuns podem ser dolorosos, mas evitava fazer recomendações por conta de evidências conflitantes sobre a eficácia dos métodos de controle da dor. Essas novas diretrizes seguem as emitidas no ano passado pelo CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) sobre dor na inserção do DIU, mas vão além, cobrindo o manejo da dor em uma série de outros procedimentos, incluindo biópsia cervical, biópsia endometrial e exames de imagem intrauterina.

Para reduzir a dor associada a esses procedimentos, o ACOG agora recomenda o uso de creme anestésico, spray ou anestesia local injetável, conhecida como bloqueio paracervical.

Essa mudança é, em parte, uma resposta ao crescente número de reclamações de pacientes nas redes sociais, na mídia e diretamente aos médicos. “Existe uma demanda real das nossas pacientes para entender quais são as opções disponíveis para elas”, dizKristin Riley, obstetra e coautora das novas diretrizes. “Todos nós estamos nas redes sociais, e todos vimos isso”, afirma. Esse retorno das pacientes “certamente estava em nossas mentes”.

Após avaliar os dados disponíveis sobre o controle da dor, o grupo reconheceu que as evidências sobre a eficácia durante procedimentos ginecológicos comuns ainda são limitadas e conflitantes, mas observou que os médicos devem orientar suas pacientes sobre o que esperar e discutir as opções possíveis. A organização também destacou que populações particularmente vulneráveis —como pessoas com histórico de dor pélvica crônica, vítimas de violência sexual ou abuso, ou com transtornos por uso de substâncias— devem receber atenção especial, pois podem ter tolerância diferente à dor ou resistência a medicamentos para dor.

A atualização representa uma mudança positiva para uma área da medicina que, no passado, foi acusada de ignorar a dor das mulheres, segundo Ashley Jeanlus, ginecologista e especialista em planejamento familiar complexo em Washington, D.C. “O ACOG está deixando muito claro que devemos tratar nossas pacientes com equidade, dignidade e confiança, garantindo que elas não sejam mais obrigadas a simplesmente ‘aguentar’”, afirma.

A entidade também afirma que o modo como a dor foi historicamente gerenciada tem sido influenciado por racismo e sexismo. Estudos revelam que profissionais de saúde muitas vezes subestimam a dor relatada por pacientes do sexo feminino e não a percebem como algo urgente, afirma Amanda Williams, pesquisadora da dor e professora de psicologia clínica da saúde no University College London.

Em um estudo de 2016 coassinado por Williams, 63 médicos da dor e estudantes de medicina foram apresentados a imagens de pessoas com dor e questionados sobre o tratamento adequado. Os participantes sugeriram mais encaminhamentos médicos para as imagens masculinas e mais encaminhamentos para psicólogos ou psiquiatras para as femininas. Os resultados reforçam a ideia de que “mulheres não conseguem distinguir dor de emoção, enquanto os homens conseguem suprimir suas emoções e relatar a dor de forma ‘pura’”, acrescenta ela.

Cerca de oito anos atrás, Brianne Hwang se curvou de dor em um elevador de um hospital em Los Angeles. Ela acabara de inserir um DIU, e a dor —cólicas que ela descreveu como uma “contração que nunca termina”— começou quase imediatamente. “Cambaleei até o banheiro do hospital e precisei me sentar ali”, conta.

Já em casa, “liguei para meu médico dizendo ‘acho que isso não está certo —acho que está me perfurando’”, diz Hwang, hoje com 38 anos. “Eles disseram ‘ah, sim, isso pode acontecer’”, mas não a alertaram sobre essa possibilidade nem ofereceram soluções para aliviar a dor.

As novas medidas do ACOG são apenas o começo. Os médicos ainda precisarão descobrir como incorporá-las à prática de rotina, diz Eve Espey, chefe do departamento de obstetrícia e ginecologia da Universidade do Novo México. O bloqueio paracervical, por exemplo, é uma injeção que pode ser desconfortável para algumas pacientes.

Para outras medidas anestésicas, as diretrizes sugerem aguardar cerca de três minutos para que o medicamento faça efeito — o que pode colocar médicos e pacientes em uma situação incômoda. “Esperar três minutos com o espéculo no lugar é muito tempo”, observa. “Você fica ali parado? Cobre de novo com o lençol? Não dá para tirar o espéculo, porque dói colocá-lo novamente.”

Esses passos extras podem ser a razão pela qual a maioria dos médicos nos EUA historicamente não oferece medicamentos para dor às pacientes, diz Espey, mesmo que a maioria esteja treinada e capacitada para aplicá-los.

Mas, mesmo apenas saber que essas opções existiam já teria sido um alívio enorme, diz Hwang. “Eu teria aceitado qualquer uma dessas opções”, afirma. “Eu teria aceitado até mesmo só um aviso prévio.”

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