O Hospital Israelita Albert Einstein deixou de ser apenas um hospital faz tempo. Eleito o melhor do Brasil na opinião de médicos ouvidos pelo Datafolha, o complexo com sede de quase 270 mil metros quadrados no Morumbi, zona sul de São Paulo, reúne, além do serviço de assistência à saúde, um centro de cirurgia robótica, uma incubadora de startups e uma faculdade com oito cursos de graduação.
Fundada pela comunidade judaica em 1955, a instituição sem fins lucrativos vive em constante expansão. Além da estrutura em São Paulo, tem uma unidade em Goiânia e, desde o ano passado, é responsável pela administração de um hospital da Unimed em Florianópolis.
Também soma 27 clínicas e núcleos de cuidado privado em São Paulo e faz a gestão de 31 unidades do Sistema Único de Saúde em cinco estados –Bahia, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. No total, são mais de 588 mil pacientes por dia, 60% na rede pública, e cerca de 73 mil cirurgias por ano —a maioria em unidades privadas (60%).
Em todas elas, o Einstein procura manter os mesmos protocolos de qualidade e segurança construídos desde a década de 1990.
“São processos complexos, que vão da identificação do paciente aos tratamentos para garantir que ele não tenha nenhum dano adicional causado pelo hospital, ou seja, que tudo que precise ser feito seja bem feito”, diz Henrique Neves, diretor-geral do Einstein.
Muitos desses processos são certificados por organizações internacionais. Hoje, a instituição tem 24 acreditações, entre elas a Magnet Recognition, que garante padrões de excelência em enfermagem. É o único hospital da América Latina com o certificado, que vale apenas para a unidade Morumbi.
“Demoramos 11 anos para conseguir a designação Magnet, porque tínhamos que atender algumas exigências, uma delas era acabar com a úlcera de pressão, aquelas lesões na pele de pacientes acamados”, explica Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein.
Ele lembra que quando a instituição assumiu a gestão do Hospital Municipal Iris Rezende Machado, em Aparecida de Goiânia (GO), em 2022, o índice de úlceras de pressão na UTI era alto. “Em três meses, chegamos a zero, porque estabelecemos o mesmo protocolo usado em São Paulo, que envolve, entre outras coisas, mudar o paciente de posição de tempos em tempos.”
A aplicação dos processos pelos profissionais é acompanhada pela CMOA (Central de Monitoramento Assistencial), uma sala inspirada em centros de controle de companhias aéreas, com telas que exibem dados em tempo real, além de imagens do centro cirúrgico.
Os telões mostram desde um medicamento que está atrasado até indicadores que ajudam a avaliar o estado de pacientes internados. Tudo é acompanhado por uma equipe com médicos e enfermeiros.
“Temos um algoritmo que analisa os sinais vitais e prevê se o quadro de saúde vai piorar. Hoje, já conseguimos antecipar um evento em até seis horas e atuar para evitar que esse paciente vá para a UTI ou tenha uma complicação”, explica Miguel Cendoroglo Neto, diretor médico do Einstein.
Quando necessário, um dos especialistas liga diretamente para quem está cuidando do paciente.
“Já conseguimos detectar situações de tromboembolismo pulmonar, risco de obstrução das vias aéreas, infecção. Em todas essas situações conversamos com a equipe e conseguimos transferir o paciente mais precocemente e evitar procedimentos invasivos, como a colocação de catéteres ou entubação”, conta Vanessa Jonas Cardoso, enfermeira sênior da CMOA, especialista em terapia intensiva.
Desde que foi criado, em 2018, o centro de monitoramento já ajudou a reduzir em 30% o número de eventos adversos graves no centro cirúrgico. Por enquanto, a sala acompanha dados da unidade do Morumbi e do Hospital Municipal Gilson de Cássia Marques de Carvalho, na Vila Santa Catarina, zona sul de São Paulo.
“A ideia é expandir para todos os nossos hospitais e usar a inteligência artificial para melhorar a capacidade preditiva”, explica o diretor médico.
A análise de big data também ajuda a agilizar a liberação de leitos na rede pública e privada, o que acontece em outra sala de monitoramento, o CCO (Centro de Controle Operacional).
O objetivo é reduzir o tempo de permanência dos pacientes e evitar leitos ociosos. Na mesma linha, o hospital criou um programa de pertinência do cuidado, em que um grupo de especialistas avalia a necessidade de internações, exames e procedimentos.
Atualmente, o programa acompanha os pedidos de realização de dez procedimentos, como cirurgias para tratamento de endometriose e de coluna e exame de ecoendoscopia. Quando o caso não preenche critérios de pertinência estabelecidos pela instituição, é encaminhado para uma segunda opinião.
“São cirurgias caras. É preciso olhar se há benefício para o paciente, se o procedimento é realmente pertinente e se todos os materiais pedidos são necessários”, diz a médica Paula Tuma, diretora de qualidade e segurança do Einstein.
Em 2024, o programa monitorou mais de 4.000 procedimentos, e 2,3% deles não foram realizados, o que resultou em uma economia de mais de R$ 6 milhões.
Outra frente para reduzir complicações é o investimento em cirurgia robótica. Além de usar a tecnologia nos procedimentos –como o tratamento de hérnias lombares–, a instituição tem um centro de treinamento de profissionais que já formou mais de mil cirurgiões, incluindo médicos do Peru e do Equador.
A busca pela inovação dentro do hospital alimenta outros projetos, entre eles o centro de genômica, com rastreamento de doenças hereditárias, as pesquisas com terapias celulares e gênicas e a incubadora de startups Eretz.bio, que já impulsionou o desenvolvimento de mais de 150 iniciativas.
“Tudo isso não é com o objetivo de criarmos um unicórnio [empresa de tecnologia avaliada em mais de US$ 1 bilhão] e de ganhar dinheiro, mas de criar uma cultura e uma mentalidade inovadora”, diz o presidente Sidney Klajner.
Ele destaca ainda a coordenação que existe entre ensino e prática. A faculdade do Einstein oferece, por exemplo, uma graduação em engenharia biomédica e, neste ano, passou a ter o curso de psicologia. Quase ao mesmo tempo, foi inaugurada em fevereiro deste ano a primeira unidade da instituição com foco em saúde mental, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
O espaço reúne médicos do corpo clínico do hospital além de psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, nutricionistas e assistentes sociais. A proposta é concentrar em um só lugar consultas, grupos terapêuticos e tratamentos para diferentes tipos de transtorno, tanto em crianças e adolescentes quanto em adultos.
A estrutura não inclui internação, mas lá é possível realizar procedimentos prescritos que só podem ser feitos em ambientes controlados, como estimulação magnética intracraniana, eletroconvulsoterapia e aplicação de medicamentos endovenosos.
Diferentemente do hospital, que atende usuários de 26 planos de saúde, o centro de saúde mental só recebe pacientes particulares e colaboradores do próprio Einstein ou de empresas que contratam a instituição. Por enquanto, não há previsão de cobertura pelas operadoras. Uma consulta com um psiquiatra no local custa R$ 1.200, e uma sessão de terapia com psicólogo, R$ 330.
Para o futuro, os planos de expansão da instituição incluem a inauguração de mais uma unidade em São Paulo, o Parque Global, que deve reunir tudo da área de oncologia e hematologia, desde tratamentos até ensino e pesquisa. O complexo já está em construção, na Marginal Pinheiros, e deve ser inaugurado em 2027.