Existe um mercado crescente e competitivo para pós, bebidas e comprimidos eletrolíticos. Em 2024, a indústria de bebidas eletrolíticas foi avaliada em cerca de US$ 38 bilhões (cerca de R$ 209 bilhões).
Os produtos são projetados para serem consumidos antes, durante e depois do exercício —e os fabricantes afirmam que eles potencializam a hidratação, saúde e desempenho. Há opções para complementar a hidratação diária, independente se há a prática de exercício físico.
No entanto, especialistas discutem se realmente é necessário repor eletrólitos perdidos no suor e se bebidas esportivas e suplementos são a melhor maneira de fazer isso.
Como funcionam os eletrólitos?
Eletrólitos são minerais —como sódio, potássio, cálcio e magnésio— que carregam uma carga elétrica, influenciando a maneira como a água se move no corpo.
“Eles ajudam a manter o equilíbrio de fluidos”, explica Amy West, médica esportiva da Northwell Health, rede de saúde norte-americana. Esses minerais auxiliam no movimento de fluidos para dentro e para fora das células e a regular a pressão arterial, o ritmo cardíaco e a função muscular e nervosa.
Embora sejam encontrados em suplementos e bebidas esportivas, também estão presentes nos alimentos diários.
“Quando falamos de potássio, por exemplo, falamos de um componente presente na banana”, diz Heidi Skolnik, nutricionista do Hospital de Cirurgia Especializada, em Nova York. “Quando se come um pretzel, há sódio nele.”
Ao transpirar, é normal perder fluidos e eletrólitos e, se perder fluidos em quantidade suficiente, pode haver desidratação. O volume de sangue no corpo cai e “o coração precisa bombear com mais força para que a mesma quantidade de sangue circule”, afirma Skolnik.
É necessário substituí-los?
Quando se perde uma quantidade excepcionalmente grande de água e eletrólitos, como pode ocorrer em caso de diarreia grave, é necessário repor ambos. Nessas situações, os médicos recomendam uma solução de reidratação como o Pedialyte (bebida isotônica), que contém mais sódio e potássio do que uma bebida esportiva comum.
Mas especialistas afirmam que provavelmente não será necessário recorrer a bebidas esportivas durante treinos regulares. Mesmo em treinos extenuantes ou em climas quentes, beber água quando estiver com sede é suficiente para se manter hidratado. O açúcar e os carboidratos encontrados em muitas bebidas esportivas podem ajudar atletas competitivos a manter a energia, mas os eletrólitos têm pouco impacto.
Na década de 1990, a recomendação médica padrão era consumir bebidas ricas em sódio durante qualquer exercício com duração superior a uma hora. Porém, pesquisas mais recentes mostram que, mesmo com a perda de sódio pelo suor e pela urina, o corpo mantém a concentração de sódio no sangue. Em vários estudos de pequeno porte, os atletas não perceberam diferença de desempenho entre treinar com água e bebidas com eletrólitos, mesmo após cinco horas de corrida em um calor de 30°C.
Já é sabido há pelo menos uma década que os eletrólitos não contribuem significativamente para o desempenho, diz Ricardo da Costa, professor de dietética esportiva na Universidade Monash, na Austrália. “Mas as estratégias de marketing das empresas de bebidas esportivas são mais poderosas do que os pesquisadores.”
“Todo mundo acha que precisa repor os eletrólitos perdidos imediatamente”, afirma Tamara Hew-Butler, cientista de medicina esportiva da Universidade Estadual Wayne. “Você não precisa. Geralmente, é compensado nas refeições.”
Na maioria das vezes, basta beber água quando sentir sede. Se você passa horas ao ar livre, no calor, por vários dias, e começa a sentir sintomas de desidratação, como tontura, poderia optar por uma bebida esportiva ou suplemento, especialmente se não estiver consumindo eletrólitos suficientes na dieta, segundo Robert Kenefick, professor de ciências biomédicas e nutricionais da Universidade de Massachusetts-Lowell.
Em casos raros, é possível ter muito líquido, mas pouco sódio no sangue, uma condição chamada hiponatremia, que pode causar náuseas, fadiga e, nos casos mais graves, convulsões ou morte. Isso é mais provável se a pessoa tiver certas condições médicas, como problemas cardíacos, hepáticos ou renais.
Para atletas, isso pode ocorrer se bebessem muito líquido antes, durante e depois de treinos longos, a ponto de diluir os eletrólitos no sangue. No entanto, a maioria das bebidas esportivas não contém sódio suficiente para prevenir isso, afirma da Costa.
Existe alguma desvantagem?
Além do custo, especialistas afirmam que são poucas as desvantagens em consumir bebidas com eletrólitos. Desde que se esteja saudável, elas não contêm eletrólitos suficientes para sobrecarregar o organismo (hipernatremia), diz Kenefick. E o sabor doce pode incentivar a hidratação.
No entanto, como a maioria dos suplementos, os produtos com eletrólitos não são bem regulamentados e podem até estar contaminados, afirma Hew-Butler. Em 2015, ela e sua equipe encontraram níveis perigosos de arsênio em pós Muscle Milk e Gatorade fornecidos a atletas universitários. Os atletas não apresentaram sinais de danos causados pela exposição.
O nome “arsênico” não vem no rótulo de um suplemento, mas é importante verificar a quantidade de açúcar nas bebidas, que pode ser quase tão alta quanto a de alguns refrigerantes. Ao ler o rótulo, Kenefick alerta os compradores para serem céticos quanto ao que é prometido.
“O mercado de bebidas é muito competitivo e todos buscam uma vantagem competitiva”, diz ele. “Muitas das bebidas disponíveis no mercado usam eletrólitos como ferramenta de marketing.”