Com a chegada do inverno no hemisfério sul, alguns estados já têm experimentado a queda brusca de temperatura, principalmente no início da manhã e à noite. Mais do que fazer você tirar o pó dos casacos, o frio pode interferir também na forma de se exercitar.
Assim como o calor extremo, o tempo gélido tem um impacto no corpo humano e em como reagimos ao movimento. Cristina Milagre, cardiologista e médica do esporte do Hcor (Hospital do coração), explica que as baixas temperaturas causam a contração dos vasos sanguíneos e aumento da pressão arterial e do trabalho cardíaco.
Isso faz com que o nosso corpo trabalhe para reter o calor, já que perdemos calor mais fácil para o ambiente. “Quando estamos tremendo de frio, significa que o nosso corpo está tentando gerar calor”, afirma a médica.
A atividade física naturalmente faz com que libere ainda mais o calor, sendo que os mecanismos biológicos estão trabalhando para retê-lo, diz o professor do departamento de educação física da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).
Por isso, ele explica que é preciso preparar o corpo para o exercício. “No frio, temos que adaptar o treino para um aquecimento mais longo e progressivo“. Se em temperaturas mais amenas, o seu aquecimento dura entre cinco e dez minutos, pode prolongar para entre dez e 15 minutos, com movimentos mais amplos e contínuos.
Outra dica é fazer exercícios dinâmicos e mais leves. “E sempre evitar começar treinamento com uma intensidade mais alta, com movimentos mais explosivos e velozes depois do aquecimento”, afirma Kokubun.
Ele também diz que é importante, nesse período, focar em exercícios que não sejam estáticos ou com muitas pausas, para que o corpo não esfrie. Como caminhadas rápidas, corridas leves, circuitos funcionais e apostar em um fluxo de movimento maior se for fazer yoga ou pilates.
Milagre lembra que tudo deve ser feito com cuidado e moderação, já que os músculos ficam mais rígidos no frio, aumentando o risco de lesões, estiramentos e contraturas, principalmente em locais externos. “Os exercícios de explosão são sempre os mais contraindicados neste caso.”
Se tiver que fazer exercícios em ambientes externos, ela orienta estar bem agasalhado. O vento e a umidade do ar podem favorecer as chances de hipotermia. Manter a alimentação adequada também ajuda nesse cenário. “A baixa ingestão calórica pode agravar a perda de calor do corpo.” Outro ponto de alerta é não deixar de se hidratar.
Kokubun lembra que, apesar dos cuidados extras, o frio não deve ser um impedimento para o exercício. “É preciso atender às recomendações, de acordo com as características de cada um e respeitar os seus limites”, diz.
De cuidados adicionais, Milagre diz que portadores de doenças crônicas, como hipertensão arterial ou problemas cardíacos e respiratórios devem redobrar a atenção. “Por conta da vasoconstrição e maior consumo de oxigênio pelo coração, sabemos que no inverno temos maior número de infarto e AVC, principalmente nas primeiras horas do dia.”
Ela explica que não é recomendado fazer exercícios com gripe ou outras infecções virais ou bacterianas, pois o corpo está em estresse e o esforço do exercício pode comprometer a imunidade.
“Além disso, álcool, sedativos e drogas, de forma geral, são substâncias que podem comprometer a regulação da nossa temperatura corporal”, recomenda.