Página Inicial Saúde Estudo associa poluição do ar a morte de crianças no Rio – 31/07/2025 – Ambiente

Estudo associa poluição do ar a morte de crianças no Rio – 31/07/2025 – Ambiente

Publicado pela Redação

A poluição do ar na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro contribui para mortes e internações de crianças com até cinco anos de idade. É o que aponta um estudo conduzido por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da UVA (Universidade Veiga de Almeida).

O trabalho analisou a concentração de material particulado fino, o chamado PM 2.5, de abril a novembro de 2023 nos distritos de Bangu e Santa Cruz. A região tem grande atividade industrial, especialmente de siderúrgicas, além de emissões provocadas por veículos.

Usando uma metodologia validada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), os pesquisadores estimaram que 8,5% dos óbitos de crianças de até cinco anos por doenças cardiorrespiratórias poderiam ser evitados nos dois distritos caso o nível de PM 2.5 seguisse a recomendação internacional.

O estudo considerou dados do sistema EpiRio, da Prefeitura do Rio. Em todo o ano de 2023, a mortalidade de crianças menores de um ano por 1.000 nascidos vivos foi de 11,3 em Bangu e 13,8 em Santa Cruz. De 8% a 11% dos óbitos foram relacionados a doenças respiratórias.

O período seco, de junho a setembro de 2023, teve a pior qualidade do ar. Em mais da metade dos dias analisados, a medição de material particulado fino ultrapassou o limite considerado seguro pela OMS, de 15 microgramas por metro cúbico (μg/m³).

É o mesmo valor definido pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) em resolução de 2024, mas o órgão prevê uma redução gradual na concentração do poluente, que deve chegar a esse patamar apenas a partir de 2044.

A pesquisa considerou duas estações de referência do Inea, órgão ambiental estadual, além de monitores de baixo custo. Em Adalgiza Neri, por exemplo, 87% dos dias do período seco superaram a marca de 15 μg/m³. O limite foi rompido em 62% dos dias no Largo do Bodegão e em 58% em Paciência.

“É preciso fiscalizar e controlar as emissões atmosféricas, além de aumentar o monitoramento de poluentes. Apesar de ser uma região crítica, só há duas estações em Santa Cruz que avaliam o PM 2.5”, diz Cleyton Martins, pesquisador na UVA e um dos autores do estudo publicado no último dia 11 no Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology.

O material particulado fino tem alta capacidade de penetração nos pulmões e pode alcançar a corrente sanguínea, causando inflamações e o agravamento de doenças respiratórias. As crianças são mais vulneráveis, por terem um sistema imunológico ainda em desenvolvimento.

Simulações da circulação de massas de ar mostraram que as áreas industriais influenciam a poluição de forma significativa, incluindo a região de Seropédica e Itaguaí. As queimadas também pioram a qualidade do ar e são mais comuns no período seco.

Para Ana Luisa Queiroz, coordenadora de projetos do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, a pesquisa mostra “racismo ambiental“, já que Santa Cruz tem uma população majoritariamente negra e empobrecida.

“Não existe caminho de reparação, de melhoria da saúde das pessoas, sem a responsabilização dos que causam esses problemas e lucram com o adoecimento do povo. A justiça social e ambiental não se concretizará na cidade do Rio de Janeiro se não olharmos com cuidado para a zona oeste”, afirma.

A Secretaria Municipal de Saúde, em nota, disse reconhecer a relevância do estudo e afirmou que a cidade tem protocolos para prevenir, diagnosticar e tratar doenças respiratórias e cardiovasculares em cada faixa etária.

A Política Municipal sobre Mudança do Clima e Desenvolvimento Sustentável, de 2011, estabeleceu que as emissões de gases do efeito estufa do complexo siderúrgico da zona oeste do Rio são contabilizadas em separado das demais emissões do município. Já o Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática, de 2021, definiu que a cidade tem a meta de reduzir as emissões em 20% até 2030 em relação ao ano de 2017, sem contar as siderúrgicas.

Os gases-estufa não têm relação direta com o material particulado, mas a queima de combustíveis fósseis é uma das formas de produzir o poluente.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima alega que o plano não contabiliza as emissões causadas pelas indústrias por se tratar de uma atividade sobre a qual não há influência do município. A pasta afirma que dispõe de 30 monitores de baixo custo, além de oito estações de referência, e planeja ampliar o acesso à informação sobre qualidade do ar.

O Inea diz que regula as emissões industriais e conta com uma rede de cinco estações que monitoram o material particulado fino.

Queiroz critica especialmente a atividade da Ternium Brasil, antiga CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), a maior siderúrgica instalada no distrito industrial de Santa Cruz.

Por contrato, a Ternium mantém três estações de monitoramento da qualidade do ar em Santa Cruz e deve reportar os dados ao Inea. Em setembro do ano passado, a TV Globo mostrou que uma das estações apresentou falhas na medição do PM 2.5.

Na média de todo o ano de 2024, as estações de Adalgisa Nery e Largo do Bodegão, de responsabilidade da empresa, registraram o triplo do nível de material particulado fino considerado seguro pela OMS: 52,1 μg/m³ e 48,5 μg/m³, respectivamente. A medição não considera somente as emissões industriais e também abrange a poluição causada por veículos e queimadas.

A Ternium afirma que a qualidade do ar nas estações se mantém como boa ou moderada ao considerar todos os poluentes monitorados. A empresa diz que investiu R$ 450 milhões para melhorar a performance ambiental desde 2017 e está construindo uma escola técnica voltada para moradores da região.

Em nota, a Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz, que representa 15 companhias —além da Ternium, integram a entidade Gerdau, Ball, Etex, Furnas, Casa da Moeda e Fiocruz, entre outras—, diz que está comprometida com a preservação ambiental e afirma que os limites de material particulado do complexo seguem a legislação brasileira.

O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.

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