Página Inicial Saúde Estudo mostra alto teor nutricional de frutos do Cerrado – 04/08/2025 – Equilíbrio

Estudo mostra alto teor nutricional de frutos do Cerrado – 04/08/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Abacaxi-do-cerrado, angelim-rasteiro, araçá-do-campo, araticum, caraguatá, lobeira e pequi são os frutos esmiuçados por pesquisadores em uma parceria da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ambas no interior paulista.

Publicado recentemente no periódico científico Brazilian Journal of Food Technology, o trabalho detalha a composição nutricional desses alimentos. “A ideia de analisar essas espécies surgiu de outro estudo nosso, sobre a dieta do lobo-guará e do cachorro-do-mato”, conta o biólogo Renato D’Elia Feliciano, da UFSCar, um dos autores da pesquisa.

Segundo Feliciano, os hábitos alimentares desses animais deram pistas sobre o potencial para uso humano. “A pesquisa mostra que a lobeira, o angelim-rasteiro e o abacaxi-do-cerrado apresentam grande disponibilidade de proteínas”, comenta. Já o araçá-do-campo, o araticum (Annona crassiflora) e o caraguatá se destacam pela quantidade de carboidrato.

Enquanto a proteína é macronutriente fundamental para a constituição dos órgãos e ajuda na manutenção dos músculos, o carboidrato é sinônimo de energia e disposição. “Alguns dos teores desses nutrientes são comparáveis aos encontrados em frutas comerciais”, afirma o biólogo.

Novas pesquisas devem ser feitas para determinar a quantidade de micronutrientes, isto é, vitaminas e sais minerais, bem como de fitoquímicos e outros compostos potencialmente benéficos. “A população de outras regiões precisa conhecer a riqueza das espécies nativas do Cerrado“, diz o nutricionista Leandro Baptista, do Hospital de Urgências de Goiás (HUGO), unidade pública em Goiânia gerida pelo Einstein Hospital Israelita.

O nutricionista enfatiza a importância de contar com mais opções no cardápio do dia a dia e combater a monotonia alimentar, aumentando a oferta de nutrientes. “E, cada vez mais, vale incentivar o consumo de frutas, especialmente em um momento em que elas têm sido envolvidas em fake news“, afirma Baptista.

A frutose é um dos principais alvos da desinformação. Em excesso, esse tipo de açúcar pode desencadear distúrbios metabólicos e favorecer o ganho de peso. Entretanto, o problema não está nas frutas: está relacionado com a frutose encontrada em produtos ultraprocessados, caso de refrigerantes, achocolatados, sucos de caixinha, entre outros.

Prazer, frutos do Cerrado

O conhecimento sobre as variedades nativas ainda valoriza as tradições alimentares. E esse tipo de movimento chama a atenção para a preservação do meio ambiente e práticas sustentáveis, o que é urgente no Cerrado, um dos biomas que mais sofre com desmatamentos.

A seguir, conheça algumas características dos frutos analisados:

  • Abacaxi-do-cerrado (Ananas ananassoides)

Chamado popularmente de abacaxizinho-do-cerrado, por apresentar tamanho menor do que os abacaxis convencionais, ele tem apelo ornamental e seu uso alimentício é muito restrito às populações locais.

Além do bom teor proteico, apontado no estudo, outras análises mostram que concentra fibras e, assim como demais integrantes da família Bromeliaceae, oferece bromelina, uma enzima que tem a capacidade de quebrar proteínas e seria aliada da digestão.

De sabor bastante ácido, é consumido em forma de sucos e doces, por exemplo.

  • Angelim-rasteiro (Andira humilis)

A espécie ostenta uma flor belíssima, de tons que variam entre o rosa e o roxo, mas seu fruto não conta com a mesma popularidade. Há poucas informações sobre sua composição e, apesar do uso medicinal pelos povos originários, são necessários estudos para avaliar sua potencial toxicidade.

  • Araçá-do-campo (Psidium grandifolium)

Ele faz parte da família Myrtaceae, que conta com espécies muito distintas, entre as quais a goiaba e o cravo-da-índia. Existem diversos tipos de araçás, sendo o de nome científico Psidium grandifolium um dos mais desconhecidos. O fruto, de coloração amarelo-claro, quando maduro tem gosto suave.

  • Araticum (Annona crassiflora)

O araticunzeiro atinge de três a oito metros de altura e cada fruto pode chegar a 2 quilos e 10 centímetros de diâmetro.

Também chamado de marolo ou panã, sua polpa perfumada é rica em fibras, as guardiãs do intestino. Oferece ainda minerais como o potássio, aliado dos músculos, e compostos fenólicos de ação antioxidante e protetora das células.

Além de fazer sucesso in natura aparece em receitas de compotas, sorvetes e sucos.

  • Caraguatá (Bromelia balansae)

Mais um integrante da família Bromeliaceae, a mesma dos abacaxis, que também contém a bromelina, com suas propriedades digestivas. Os frutos são agrupados em cachos.

A polpa amarelada, ácida e bastante perfumada, é rica em fibras e tem sido utilizada na produção de refrescos e até de uma farinha que enriquece biscoitos, entre outros produtos.

  • Lobeira (Solanum lycocarpum)

Também chamado de fruta-do-lobo, justamente porque o lobo-guará é um dos maiores consumidores, o fruto faz parte da família Solanaceae, a mesma do jiló e do tomate.

Aromática, verde-amarelada e levemente azeda, a lobeira costuma ser usada no preparo de geleias e compotas. Quando está verde, concentra altos teores de alcaloides que podem ser tóxicos, daí a recomendação de utilizar depois de madura.

  • Pequi (Caryocar brasiliense)

O fruto do pequizeiro, que tem o apelido de “ouro do Cerrado”, é matéria-prima de conservas, licores, doces, entre outros produtos. Enriquece o arroz e realça receitas como a de galinhada, com sua cor amarela.

Essa coloração vem dos carotenoides —grupo de substâncias de potente ação antioxidante, ou seja, que neutraliza os radicais livres, moléculas que, em excesso, danificam as células.

Sua polpa suculenta envolve um caroço cheio de espinhos, que requer muita cautela para ser consumida. É rica em gorduras benéficas.

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