Página Inicial Saúde Exercícios alteram funções cerebrais e previnem Alzheimer – 29/06/2025 – Equilíbrio

Exercícios alteram funções cerebrais e previnem Alzheimer – 29/06/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Pesquisadores desvendaram o mecanismo fisiológico pelo qual a atividade física ajuda na prevenção do Alzheimer. O trabalho mostrou que a prática de exercícios é capaz de modular a expressão gênica de células cerebrais, revertendo parcialmente alterações associadas à doença

O estudo foi conduzido com camundongos geneticamente modificados para desenvolver o Alzheimer. Metade dos roedores tiveram acesso, voluntariamente, a uma roda de corrida. A outra metade foi mantida sem atividades físicas, servindo como grupo controle. Em seguida, a atividade cerebral dos animais foi analisada.

No caso dos neurônios, é muito difícil isolar cada célula para investigar o seu comportamento. Para contornar esse problema, os cientistas usaram uma tecnologia chamada snRNA-seq (do inglês, single-nuclei RNA sequencing).

Quando um gene é ativado, ele é transcrito em uma fita de RNA mensageiro (mRNA), que carrega as instruções para a produção de proteínas. Essa técnica captura o mRNA presente nos núcleos e converte esse material em DNA complementar (cDNA), que, depois de extraído, é sequenciado para revelar os genes ativos. Dessa forma, os pesquisadores conseguem reunir a informação sobre o funcionamento de cada uma das milhões de células envolvidas em determinado processo fisiológico.

Como já era esperado, os animais que praticaram mais exercícios físicos tiveram uma progressão menor da demência. As análises mostraram que o hipocampo, região do cérebro relacionada justamente à memória e ao aprendizado, foi a mais afetada.

Dois tipos de células responderam mais fortemente ao tempo passado na roda de corrida. Uma delas, as microglias, são células do sistema de defesa do cérebro. Já as outras, uma subpopulação específica de astrócitos, não eram conhecidas e foram chamadas de astrócitos associados ao sistema neurovascular (NVA), pois estavam ligadas aos vasos sanguíneos desse órgão.

O exercício modificou a atividade genética nessas células, indicando que elas estão diretamente envolvidas nos benefícios neuroprotetores da atividade física. Um gene em particular, Atpif1, foi identificado como um possível regulador-chave associado à formação de novos neurônios. Isso sugere que ele pode ser um alvo terapêutico promissor.

Wellington Cavalcanti de Araújo, profissional de educação física do hospital da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB/Ebserh), explica que a atividade aumenta o fluxo sanguíneo como um todo e, subsequentemente, do cérebro. Isso, segundo o especialista, estimula a produção de neurotransmissores e substâncias neuroprotetoras, que trazem melhorias.

Os cientistas também compararam os dados obtidos nos camundongos com um banco de dados de cérebros humanos com Alzheimer e encontraram padrões semelhantes de expressão gênica, o que reforça a relevância clínica da descoberta.

O trabalho possui um conflito de interesse. A autora principal do estudo, Christiane Wrann, é cofundadora de uma startup chamada Aevum Therapeutics, que desenvolve medicamentos inspirados nos efeitos do exercício. O estudo foi publicado na revista científica Nature Neuroscience.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda de 150 a 300 minutos de exercícios moderados a intensos por semana. Isso equivale a atividades feitas cinco vezes na semana de 30 minutos a 1 hora, combinando cardio com exercícios de força, como a musculação. Para idosos, a recomendação é a mesma, mas com a prática de treinos mais leves e funcionais.

Além das atividades físicas, existem outros fatores que contribuem para a prevenção do Alzheimer e de outras doenças, entre eles a alimentação balanceada sem consumo de ultraprocessados, o envolvimento com atividades cognitivas, como leitura de livros e jornais, e o engajamento social.

Sonia Brucki, professora da USP (Universidade de São Paulo), também chama a atenção para a necessidade de tratar todas as doenças associadas que o paciente tenha, bem como o uso de óculos e aparelho auditivo para correção de déficits sensoriais. “E manter o bom humor”, acrescenta.

A prevenção é ainda mais relevante no Brasil, país que só diagnostica 2 em cada 10 casos de demência, segundo um relatório publicado neste ano pela Economist Impact. Para comparação, países desenvolvidos são capazes de identificar ao menos metade dos casos. Nos Estados Unidos, o diagnóstico atinge 63% dos pacientes. São quase 1,8 milhões de idosos com mais de 60 anos que sofrem com alguma variedade de demência no nosso país, dentre as quais o Alzheimer é a mais prevalente.

Os avanços nas técnicas de diagnóstico, entretanto, podem ajudar a mitigar esses números preocupantes. Em especial, pesquisadores têm se concentrado na busca por marcadores que possam ser encontrados em exames de sangue, mais simples e menos invasivos.

Essas pesquisas já estão chegando no país. Neste ano, especialistas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e da Universidade Federal do Rio de Janeiro publicaram os resultados de um estudo que avaliou a presença de diferentes biomarcadores da doença em 145 pacientes brasileiros.

Os resultados revelam diferentes níveis de confiança para as várias substâncias analisadas, mas uma proteína em particular, pTau217, levou a um acerto superior a 90% no diagnóstico. Trabalhos como esse são necessários para validar o uso dessa tecnologia no país, já que a população brasileira apresenta características fisiológicas diferentes de norte-americanos ou europeus, onde a maioria dos estudos são conduzidos.

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