Página Inicial Saúde Falhas na saúde básica provocam mais internações – 19/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Falhas na saúde básica provocam mais internações – 19/05/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Um levantamento feito pela Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde, com base em dados do SIH-SUS (Sistema de Informações Hospitalares do DataSUS), disponíveis no Observatório da Saúde Pública (OSP), avaliou que milhões de internações no SUS (Sistema Único de Saúde) poderiam ter sido prevenidas ainda na Atenção Primária à Saúde (APS).

A APS é o primeiro contato do paciente com um profissional da área. Ela compreende não só os atendimentos nas USBs (Unidades Básica de Saúde) e nos hospitais, mas também a estratégia de saúde das famílias, as estratégias de prevenção e a educação em saúde.

Thais Junqueira, superintendente geral da Umane, explica que o Brasil tem uma atenção primária fraca, ineficiente e mal-equipada. Se for forte, eficiente e resolutiva, pode atender e resolver de 80% a 90% dos problemas de saúde de uma pessoa ao longo da vida, segundo dados da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).

No total, em 2024, foram 1,6 milhão de internações no SUS por consequência de doenças já instaladas e até já diagnosticadas, como diabetes tipo 2, asma, doenças pulmonares, hipertensão e deficiências nutricionais. A cada 3 minutos, uma pessoa é internada no Brasil devido a complicações destas condições, concluiu o levantamento.

A Folha entrou questionou o Ministério da Saúde sobre atendimentos na atenção primária, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Os dados ainda mostram que, no ano passado, a taxa de internações nessas condições foi de 793,8 a cada 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia da dimensão dos dados, as internações que poderiam ter sido evitadas com prevenção em 2024 representam 11% do total de 14,1 milhões de internações do ano passado, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde.

Fátima Marinho, médica especialista em medicina preventiva, explica que as doenças crônicas, como diabetes tipo 2, cerebrovasculares, como o AVC (acidente vascular cerebral), e as pneumonias bacterianas em crianças pequenas são as maiores responsáveis pelas internações. “A Atenção Primária à Saúde pode controlar as doenças crônicas. Se houver complicação delas, o quadro leva a uma internação”, diz a médica.

Junqueira diz que não só o Brasil, mas o mundo inteiro investe pouco na área de prevenção. “A saúde preventiva tem muito para ser fortalecida. Nós ainda temos a sorte de ter o SUS, que consegue, de certa forma, ter uma estrutura que permite isso. O trabalho das equipes de saúde da família, do agente comunitário, que acontece nas UBSs, é muito propício para prevenção, mas certamente poderia ser investido muito mais.”

A médica e a superintendente concordam que falta cobertura no SUS, especialmente nas áreas mais periféricas das cidades e estados. “Há muita dificuldade em ter equipes completas, com médicos, enfermeiros, psicólogos e agentes comunitários. Houve um esforço grande com o programa Mais Médicos, do Governo Federal, mas ainda não há avaliação de quanto aumentou a cobertura”, diz Marinho.

Reestabelecido pelo governo Lula em 2023, o Mais Médicos registrou 6.729 novos profissionais em 2024, segundo levantamento da gestão no final do ano.

Segundo a Secretaria da Atenção Primária à Saúde (Saps), 80% dos cerca de 3.900 municípios brasileiros com até 52 mil habitantes foram atendidos pelo programa.

Junqueira ainda aponta que as Unidades de Saúde precisam estar efetivamente próximas dos seus usuários. “Um conhecimento do território e do usuário é bom, tanto no nível mais micro, no nível da unidade de saúde, quanto no nível de gestão pelo poder público, para que aja maior organização da rede.”

Ela ainda dá luz para um terceiro ponto, a organização dos processos de trabalho dentro da atenção primária “para possibilitar que esse usuário, que já é conhecido, tenha um a melhor jornada, um melhor fluxo dentro do sistema. Assim, os profissionais de saúde conseguem trabalhar de uma maneira organizada”.

A superintendente cita uma ação da Umane junto ao Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) para melhorar a integração do processo: as Redes de Atenção à Saúde (RAS), que visam garantir que o usuário tenha acesso a cuidados de qualidade e em tempo oportuno.

Os dados levantados pela Umane ainda mostram que, em 2024, as internações que poderiam ser evitadas por prevenção aconteceram, principalmente, entre as pessoas com 65 anos ou mais, somando 606,6 mil pessoas no ano, seguido por 223,4 mil de 55 a 64 anos e 197,8 mil entre 0 e 4 anos.

“Cada vez mais, com o envelhecimento da população, é preciso focar a saúde pública na saúde do idoso“, observa Fátima Marinho. À medida que se chega à velhice, há mais riscos de desenvolver comorbidades, como hipertensão e diabetes. “É preciso fazer a atenção primária, orientar a dieta e o exercício físico”, diz a médica.

Chama a atenção também o número de mulheres em idade reprodutiva hospitalizadas (de 15 a 44 anos), maior que o dos homens nessa faixa etária. “Provavelmente, acontece devido a complicações na gestação, doenças dos órgãos reprodutivos, como câncer de colo de útero, que pode ser prevenido com detecção precoce e vacina. Também devemos considerar a violência contra mulheres e meninas, que atinge principalmente esse grupo e deixa muitas marcas”, diz Marinho.

Na análise por raça, mais pessoas pardas foram internadas nesse quadro, com 945,3 mil, seguidas por 563,2 mil de brancos. Este é um reflexo tanto da demografia brasileira quando da desigualdade no acesso à saúde, diz Junqueira.

Todos os índices de saúde das populações preta e parda analisados pelo Mistério da Saúde, de 2010 a 2020, foram piores que as os dos demais grupos. Foram avaliadas taxas de mortalidade materna e infantil, prevalência de doenças crônicas e infecciosas, piores índices de violência, de acesso a atendimentos de saúde —63% das pessoas pretas são usuários do SUS, diante de 44,1% das brancas, segundo o mesmo levantamento.

“É muito importante que a gente consiga assegurar que as pessoas tenham o mesmo acesso no sistema, independente de onde eles estão, da sua raça, do seu CEP, da região”, diz Junqueira.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde

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