O Mounjaro (tirzepatida) começou a ser comercializado no Brasil na última segunda-feira (5) no que as farmácias definiram como “pré-venda”. A estimativa inicial de venda do medicamento estava prevista, no entanto, para 7 de junho.
Campanhas e anúncios, inclusive com instruções de uso, começaram a surgir em redes sociais e nos sites das principais redes de farmácia do Brasil. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), contudo, afirma que é vedada a propaganda para o público, pois se trata de um medicamento sujeito à prescrição médica (tarja vermelha). A propaganda desta categoria é restrita aos profissionais prescritores, segundo a agência.
Da farmacêutica Eli Lilly, o Mounjaro é um agonista de GLP-1 e, assim como Ozempic e Wegovy, ganhou popularidade por ter demonstrado eficácia na perda de peso. Em países como Estados Unidos, o medicamento é vendido também para controle de peso e obesidade.
Professor e pesquisador de farmacologia no ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade) e na Universidade Vila Velha, Thiago de Melo diz que drogas como a tirzepatida são úteis para o tratamento de diabetes e, como a Anvisa ainda não liberou a venda do produto para emagrecimento, seu uso para este fim deve ser feito com parcimônia.
“Essa nova linha dos medicamentos agonistas de GLP1 começou com a liraglutida e depois com semaglutida. Já existem publicações que mostram efeitos adversos do uso, mas sinto que falta uma discussão maior com essas informações para a sociedade”, completa.
No Brasil, a prescrição do Mounjaro para emagrecimento é off label, ou seja, fora do que é indicado na bula. Crítico à venda indiscriminada, Melo diz que a alta procura pode estar mais relacionada a pessoas que querem perder peso do que àquelas que têm diabetes. Ainda, para ele, isso pode atrapalhar os pacientes diabéticos que fazem uso do fármaco para controle da doença.
“Pode tirar a chance do diabético usar. Vemos um descompasso com grandes farmácias fazendo anúncios de pré-venda”, afirma Melo.
Em nota, a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) diz ver com preocupação o uso da tirzepatida para fins estéticos, o que pode prejudicar quem necessita do medicamento.
Vice-presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e diretor da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), o médico Bruno Halpern diz que o lançamento do produto no Brasil é, sim, um marco importante porque demonstrou resultados antes nunca vistos em redução de glicemia, além de também ter demonstrado eficácia para o tratamento de doenças associadas, como a obesidade e doença hepática.
O médico ressalta que, no momento, a tirzepatida não está aprovada no Brasil para o tratamento puramente da obesidade, e essa aprovação seria importante para ampliar o número de pessoas que se beneficiam da medicação. “Mas, vale destacar, que ainda há muito a fazer —principalmente em relação ao acesso a esse tipo de tratamento”, completa o especialista.
A farmacêutica Lilly afirma estar distribuindo o fármaco para as principais redes de farmácia do país e, por questões de segurança, diz que não divulga informações sobre volume e logística do produto.
“Algumas redes varejistas podem já ter o medicamento disponível e cabe a elas a prerrogativa de definir suas estratégias comerciais, incluindo preço e canais de vendas”, informa o comunicado da farmacêutica.
Questionada se a alta procura pelo medicamento, especialmente em prescrições para emagrecimento, poderia impactar o abastecimento do fármaco para diabéticos, a Lilly não respondeu.
Em nota, o grupo DPSP, responsável pelas Drogarias São Paulo e Pacheco, informou que iniciou a pré-venda de Mounjaro com reserva do medicamento pelos canais digitais das farmácias, sem disponibilidade nas lojas físicas. Questionados sobre a procura ou se existia fila de espera pelo medicamento, o grupo não respondeu.
Em nota, a RD Saúde, responsável pelas redes Raia e Drogasil, informou que não trabalha com pré-venda de medicamentos e assim foi com o Mounjaro. Segundo a rede, as vendas foram iniciadas no dia 3 deste mês nos canais digitais do grupo e no dia 5 nas lojas físicas.
A rede Panvel informou que todas as lojas dos estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná estão abastecidas com o medicamento e diz garantir estoque para atender a alta demanda.
Já a rede Pague Menos de farmácias afirmou que a venda de Mounjaro acontece nos canais oficiais da marca e não há unidades com estoque esgotado. Eles afirmam ainda que esse modelo de pré-venda não foi feito com outros medicamento e é um teste da marca neste modelo. Sem especificar números, o grupo disse ainda que houve grande procura pelo medicamento desde o início das vendas, mas não divulgaram números.
Nos sites das farmácias, os medicamentos são vendidos sob prescrição, mas sem retenção de receita. Os valores do Mounjaro variam de R$ 1.700 a R$ 2.400.
Em 24 de abril, a Anvisa publicou uma norma que determina receita em duas vias para a classe de medicamentos agonistas de GLP-1 (como o Mounjaro, Ozempic e Wegovy) com início previsto para 60 dias, ou seja, em 23 de junho. Até a última semana, o início das vendas de Mounjaro estava previsto para 7 de junho.
Ainda segundo a agência, a partir do registro, concedido à Lilly em setembro de 2023, a empresa pode inserir o produto no mercado e a estratégia de distribuição do medicamento não passa pela Anvisa. No entanto, todas as normativas referentes ao comércio, dispensação e propaganda de medicamentos deve ser observadas.