Se você tem filhos, provavelmente nem tempo de ler esta coluna você tem, porque está, assim como eu, buscando desesperadamente um ateliê de pintura, curso de circo ou qualquer outra atividade que ocupe seu rebento durante as próximas semanas sem aula.
Apesar de julho ser o mês das férias, para quem tem filhos, esse período está longe de ser sinônimo de descanso. Se você não trabalha nessa época, vira automaticamente monitor de festa infantil. Tem que inventar brincadeiras, rolar no chão, correr atrás das crianças, fazer pintura e massinha. Se, assim como eu, você segue trabalhando, sua vida se transforma num áudio de WhatsApp acelerado na velocidade 2,5.
É preciso executar as tarefas de um dia em meia hora, cozinhar, arrumar a casa e, ainda assim, inventar brincadeiras, rolar no chão, correr atrás das crianças, fazer pintura e massinha —tudo isso entre uma reunião e outra. Quando você percebe, o dia acabou, a criança continua pulando com 99% da bateria, e você tem 150 emails não respondidos. Você quer se jogar no sofá e chorar de cansaço, mas a sala virou um acampamento com barracas feitas de lençóis arrancados da cama.
Todo ano, a aproximação de julho me dá calafrios. Não tenho avós, tios ou primos com quem deixar minha filha. No ano passado, tentei montar a tal “rede de apoio” com a mãe de uma amiguinha da escola. Combinamos de nos revezar nas férias: uma semana as meninas ficaram comigo para ela poder trabalhar, na outra semana ficariam com ela. Quando chegou a minha vez de deixar a criança, a cidadã me informou que tinha “esquecido” que ia viajar. A rede de apoio dela era: “eu me apoio em você, deito na rede e você balança.”
Este ano comecei a buscar opções de lazer para julho antes mesmo do Carnaval. Mas o capitalismo é mais selvagem que seu filho de férias. Aproveitando-se de pais desesperados, escolinhas montessorianas construtivistas armam um tanquinho de areia com um pato de borracha no meio e vendem “experiências lúdico-sensoriais” pelo preço de um mês na Bahia. Acampamentos com beliches puídos cobram o mesmo que hotéis de luxo, e as atividades gratuitas ou estão lotadas, ou não duram mais que uma hora. Se nem você tem tempo de ficar com seu filho, por que outras pessoas fariam isso e de graça ainda por cima?
Aproveito, aliás, para abrir um parêntese: quem ensina nossos filhos deveria ganhar muito, mas muito melhor. Um mês sem aula é a prova concreta de que um professor salva mais sua vida do que um médico.
Enquanto a tão sonhada “volta às aulas” não chega, meu marido e eu vamos nos revezando, numa espécie de batata quente da parentalidade, jogando nossa criança de um lado para o outro. Alguém precisa continuar trabalhando para pagar pelas férias. As férias dela, claro.