Uma variante genética comum está ligada a um risco dobrado de demência para homens mais velhos, sugere uma análise recente na Neurology.
O estudo utilizou dados do Aspirin in Reducing Events in the Elderly (ASPREE), que acompanhou pacientes idosos nos Estados Unidos e Austrália sem histórico de doenças cardiovasculares, demência ou declínio cognitivo entre 2010 e 2017.
Os pesquisadores focaram em 12.174 australianos de ascendência europeia com mais de 70 anos, e procuraram variantes no gene HFE. O gene é crítico para regular os níveis de ferro do corpo, e variantes são comuns entre pessoas de descendência europeia.
Aqueles que carregam duas cópias da variante p.C282Y no gene HFE podem desenvolver hemocromatose, uma condição que causa sobrecarga de ferro no corpo, e condições resultantes como cirrose hepática, câncer de fígado, fragilidade, artrite e demência.
Uma em cada três pessoas carrega uma variante genética chamada H63D, e 1 em 36 carrega duas cópias, diz John Olynyk, professor do Instituto de Pesquisa Médica Curtin em Perth, Austrália, em um comunicado sobre o novo estudo.
“Ter apenas uma cópia desta variante genética não impacta a saúde de alguém ou aumenta seu risco de demência. No entanto, descobrimos que ter duas cópias da variante mais que dobrou o risco de demência em homens [previamente saudáveis], mas não em mulheres”, diz Olynyk.
No geral, homens com duas cópias da variante H63D HFE tiveram uma incidência 2,39 vezes maior de demência do que aqueles sem variantes no gene HFE. Nenhuma associação semelhante foi observada em mulheres.
Homens no estudo tinham níveis de ferritina (ferro) “significativamente mais altos” do que mulheres, como esperado, mas o estudo não encontrou uma associação entre os níveis de ferritina no início e o risco de uma pessoa desenvolver demência.
O estudo se baseia em evidências anteriores de que variantes no gene HFE podem desempenhar um papel na demência. Enquanto a variante p.C282Y causa demência através do desenvolvimento de sobrecarga de ferro, a variante p.H63D no mesmo gene HFE pode causar inflamação cerebral e danos levando à demência na ausência de sobrecarga evidente de ferro, escrevem os pesquisadores. O motivo por trás da diferença no risco de demência entre homens e mulheres não ficou claro.