Estudo do Inca (Instituto Nacional de Câncer) divulgado nesta quarta-feira (28) aponta que o governo federal gasta R$ 5 com doenças ligadas ao fumo para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco.
A mesma pesquisa atribui uma morte para cada R$ 156 mil de lucro das empresas com a venda de cigarros legais. O levantamento cruzou dados de 2019 e considerou as mortes relacionadas ao tabagismo, como por doenças cardíacas isquêmicas, AVC (acidente vascular cerebral) e câncer de pulmão.
O estudo “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta” foi apresentado em evento do Ministério da Saúde em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado oficialmente em 31 de maio.
A pasta e o Inca ainda lançaram a campanha de mídia “Sem Cigarro, Mais Vida”, com foco no combate ao uso de vapes e outros dispositivos eletrônicos para fumar. “Fique longe dos cigarros convencionais e eletrônicos. Eles causam dependência”, diz uma das peças da campanha.
“Temos de fazer a propaganda contrária [aos derivados do tabaco]. Divulgar impactos negativos na área da saúde, na economia”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT).
O Ministério da Saúde afirma que o custo direto médio e o custo total médio (somando valores diretos e indiretos) equivalentes a uma morte pelas doenças selecionadas foram estimados em R$ 361 mil e R$ 796 mil, respectivamente, em 2019.
“Ao combinar essas duas equivalências, obtém-se que, para cada R$ 1 lucro obtido pela indústria do tabaco, o Brasil gasta 2,3 vezes esse valor com custo direto do tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e 5,1 vezes esse valor com o custo total dessas doenças”, diz o Ministério da Saúde.
Pesquisador do Inca e um dos autores do estudo, André Szklo afirmou que há um “ciclo perverso” da indústria de “recrutamento” de novos fumantes, agora fortalecido pelos cigarros eletrônicos.
A secretária-executiva da Conicq (Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro sobre o Controle do Tabaco), Vera Luiza da Costa e Silva, disse que a tributação sobre o cigarro está defasada, e que existe a expectativa de o imposto seletivo, previsto na reforma tributária, consiga “mudar a curva de aumento do consumo”.
Em 2024, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) manteve a proibição da comercialização de DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar), conhecidos como vapes ou cigarros eletrônicos.
A agência proíbe desde 2009 a importação, publicidade e comercialização dos produtos oficialmente chamados de DEF (Dispositivos Eletrônicos para Fumar).
Como a Folha mostrou, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas pressionou a Anvisa a liberar a comercialização do produto, e disse que a repressão ao vape era “enxugar gelo”.
O Ministério da Saúde também afirma, em estudo publicado anteriormente, que o Brasil gasta R$ 153,5 bilhões por ano com os danos provocados pelo tabagismo, “somando custos com tratamento médico e perdas econômicas por morte prematura, incapacidades e cuidados informais”.
“Esse valor equivale a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A arrecadação de impostos federais com o setor alcançou R$ 8 bilhões em 2022, o que cobre apenas 5,2% dos custos totais causados pelo tabagismo ao país”, diz a Saúde.