Ainda que na maioria das vezes aconteça dentro de um hospital, o parto não é um procedimento médico como qualquer outro. A chegada de um bebê mobiliza emoções e expectativas que podem tornar a escolha da maternidade uma decisão pautada não apenas em critérios técnicos, mas nos recursos oferecidos para tornar esse momento mais confortável e acolhedor.
As maternidades sabem disso e propõem diferenciais variados —de suítes de luxo a recursos tecnológicos para partos de risco. Para ajudar nessa escolha, a Folha consultou dois obstetras e uma pediatra neonatologista, que indicaram os pontos essenciais que as pacientes devem observar.
Vale lembrar que o primeiro quesito a entrar nessa equação costuma ser o orçamento do casal ou a cobertura do plano de saúde. Quando há mais de uma possibilidade no horizonte, ouvir a opinião do médico que acompanha o pré-natal é um bom começo.
“O obstetra pode saber de detalhes técnicos não facilmente disponíveis ou visíveis para a paciente”, afirma Elias Ferreira de Melo Jr., presidente da comissão de Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Melo Jr. pondera que a percepção do médico também se baseia na conveniência para ele, inclusive financeira e logística. O melhor, então, é que a gestante visite as maternidades que deseja e, depois, tome essa decisão em conjunto com o obstetra.
A maioria dos profissionais é credenciado para atuar em mais de um estabelecimento. “Atendo em quatro maternidades e tenho uma que prefiro, mas seria deselegante dizer que tem que ser naquela específica”, diz o obstetra Guilherme Lobo, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Procuro não ser impositivo. A decisão final é do casal”, completa.
Segundo Lobo, um dos fatores que mais preocupam as pacientes —a proximidade de casa— não deveria ser eliminatório. “É quase uma alucinação achar que o bebê vai nascer tão rápido, no carro. Via de regra, o trabalho de parto é longo, e a maioria começa à noite ou de madrugada, quando não há muito trânsito”, afirma.
Outra preocupação comum das gestantes é se o hospital tem salas de parto normal, com recursos não farmacológicos para alívio da dor e indução ao nascimento, como banheira, bola de pilates, banqueta e apoios especiais.
Neste caso, os médicos consultados disseram que faz toda a diferença. “É um grande avanço, que está presente inclusive em muitos hospitais públicos. Esse ambiente mais acolhedor para a parturiente estimula o parto normal e inibe a cesariana“, diz Lobo.
Ele também afirma que alguns hospitais dão mais autonomia para o médico conduzir o trabalho de parto, o que facilita na evolução para um parto normal. “Às vezes a paciente pergunta: ‘Mas se você e sua equipe fazem parto normal, isso não é suficiente?’ Eu digo que mais ou menos. Os hospitais têm protocolos, o que é positivo, mas alguns são muito rígidos e engessados e acabam ferindo a autonomia do médico. A gente fica um pouco refém”, explica.
Essas diretrizes podem incluir o acionamento de plantonistas após um certo número de horas ou a necessidade de que o parto seja agilizado dependendo dos resultados de um exame de monitoramento do feto.
Para as mulheres que desejam um parto normal, a dica é perguntar a taxa de cesariana de cada maternidade, além de quais medidas vêm sendo tomadas para reduzir esse índice. O Brasil é um dos países com maior índice de cesáreas no mundo, com quase 60% dos partos realizados por essa via —bem acima da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 15%.
A maioria dos partos acontece sem intercorrências, mas, ao escolher a maternidade, é importante se certificar de que há estrutura para atender mãe e bebê caso ocorra alguma complicação.
Esse cuidado é ainda mais importante quando a gravidez é de risco. Especialista nesses casos, Elias Melo Jr. diz que é fundamental se informar sobre a estrutura de suporte existente —que inclui UTIs neonatal e adulto e profissionais experientes para lidar com casos de maior complexidade.
Algumas maternidades têm leitos e equipes específicas para cuidar de gestação de alto risco, além de centros de medicina fetal, com a possibilidade de fazer procedimentos com o bebê ainda dentro da barriga ou logo após o nascimento.
“A gente só pensa no lado bom, mas, se tiver qualquer dificuldade, o local tem que dispor de recursos tecnológicos e profissionais competentes para dar esse suporte”, diz a pediatra neonatologista Maria Augusta Gibelli, diretora geral da maternidade São Luiz Star e ex-diretora técnica do Centro Neonatal do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da USP. “É legal ter um centro cirúrgico que comporte procedimentos complexos, equipamentos diagnósticos para não precisar transportar a paciente ou o bebê para fazer exames fora e uma equipe que saiba fazer esses laudos.”
No caso da UTI neonatal, ela cita como diferenciais a ambientação silenciosa, incubadoras tecnológicas e com abertura lateral, que permitem acesso ao bebê por todos os lados, e aparelhos que fazem uma ventilação mecânica mais gentil. “Isso diminui a chance de a criança desenvolver doença pulmonar crônica no futuro”, diz.
A existência de um banco de leite, que permita a pasteurização e o armazenamento do líquido por mais tempo, é outro diferencial, que pode ajudar especialmente quando o bebê nasce prematuro e precisa passar um tempo na UTI.
A amamentação, aliás, é um tema que deve estar no radar dos casais que esperam um filho —que muitas vezes focam só no parto e esquecem das dificuldades que podem surgir após o nascimento.
Em geral, toda maternidade proporciona algum apoio à lactação, mas vale perguntar que tipo de treinamento é oferecido à equipe de enfermagem e se há atualizações periódicas.
Grávida de 22 semanas, a engenheira civil Cristhiane Piazza, 37, estava em dúvida entre três maternidades cobertas por seu plano. Observou pontos como a proximidade de sua casa e a qualidade das UTIs neonatal e adulto.
Acabou optando pela Pro Matre, que ela já conhecia —bem de perto. “Trabalhei um tempo com engenharia hospitalar e tive acesso aos bastidores. Vi que eles têm muito cuidado com a estrutura: os equipamentos são de ponta e a manutenção é excelente”, diz.
A experiência da instituição também contou. “Eu nasci lá. Eles são muito antigos e são especialistas, são muitos anos fazendo só isso, considero um ponto positivo”, diz ela, que trocou de obstetra para poder ser acompanhada desde o pré-natal pela equipe da maternidade.
Outra preocupação sua era em relação às diretrizes médicas. “Na visita, eles costumam falar mais de hotelaria, mas eu queria saber dos protocolos, se eram bem definidos. Liguei para a enfermeira-chefe para ter mais informações”, conta.
Hotelaria
Alguns hospitais oferecem comodidades que fazem brilhar os olhos dos casais durante as visitas. Suítes amplas com sala de estar privativa, serviço de concierge, parceria com salões de beleza, pacotes de cobertura fotográfica e de vídeo e lounge com janelas para a sala cirúrgica, que permitem à família acompanhar o nascimento, são alguns exemplos.
Grega casada com um brasileiro, a professora Julie Kartali, 39, ficou surpresa ao ver o grau de conforto de algumas maternidades particulares de São Paulo. Mãe de dois filhos e grávida de 28 semanas do terceiro, ela conta que, no primeiro parto, estava preparada para ter o bebê pelo sistema público, como é praxe em seu país.
Quando seus colegas de trabalho quiseram lhe dar de presente um valor para o parto em um hospital privado, ela visitou as maternidades Santa Joana e do hospital São Cristóvão. Saiu da primeira impressionada com a hotelaria, mas acabou optando pela outra opção, que era mais econômica.
“Claro que eu gostei, quem não gostaria? Mas tinha tanto o valor do médico quanto da internação e era bastante caro. Eu não queria um hotel cinco estrelas, queria ter um filho, então não me importei com uma opção mais humilde”, conta.
No nascimento do segundo filho, ela já tinha plano de saúde e escolheu o Hospital Luz, que era coberto pelo seguro. Gostou da experiência e deve repeti-la no terceiro parto.
“É claro que é melhor você ter um quarto onde cabe mais gente, onde o acompanhante pode dormir em uma cama confortável, e não em uma cadeira dura. São fatores que o médico não leva muito em consideração, mas que fazem parte da experiência do cliente e, desse ponto de vista, fazem sentido”, diz Guilherme Lobo, da Unifesp.
Esses detalhes ajudam a deixar o ambiente “com menos cara de hospital e mais cara de casa”, segundo Maria Augusta Gibelli, da maternidade São Luiz Star. “Hoje em dia, existe todo um campo de arquitetura hospitalar, que propõe cores acolhedoras, luz natural para ajudar no ritmo circadiano… Se você abrir a janela e tiver a fortuna de ver uma paisagem, fica ainda mais condizente com aquele momento que você está vivendo, que é a maternidade.”