Em um cenário de alta competitividade entre hospitais privados, as instituições investem em equipamentos de ponta, programas de fidelização e na capacidade de tratar casos clínicos complexos para atrair os melhores profissionais.
“Se você andar duas quadras está no Oswaldo Cruz, se andar quatro quadras, na Beneficência Portuguesa, seis quadras no AC Camargo”, diz Fernando Torelly, presidente do Hcor (Hospital do Coração), na região da avenida Paulista, em São Paulo. “Diferente de quem tem uma empresa que o contrata, o médico atua em quatro, cinco hospitais.”
Por isso o Hcor criou um programa de fidelização com níveis que variam de acordo com o número de internações e atendimentos que o médico direciona ao hospital. Um dos benefícios oferecidos é poder montar consultório no prédio anexo, com valores de aluguel subsidiados pela instituição.
O hospital também oferece desconto nas cobranças por vacinação e eventual internação dos próprios médicos, além de um complemento no valor de algumas consultas por plano de saúde. “Você tem que ser desejado pelo paciente, mas também tem que ser desejado pelo médico”, resume Torelly.
O corpo clínico é o aspecto apontado por 66% dos médicos entrevistados pela pesquisa “Os melhores hospitais do Brasil“, do Datafolha, quando questionados sobre os principais fatores que transformam um hospital em centro de excelência. Na sequência vêm tecnologia e inovação (45%), equipes multidisciplinares (38%) e UTI (37%).
A 800 metros do Hcor, a centenária Beneficência Portuguesa investe na sua capacidade de tratar quadros clínicos complexos, que funcionam como um chamariz para médicos altamente qualificados.
“É muito melhor trabalhar em uma UTI com casos interessantes do que ficar num lugar em que você vai sempre ver a mesma coisa”, diz Veridiana Cordaro, diretora-executiva médica da BP, ao descrever os desafios de gestão de unidades de tratamento intensivo.
O hospital é referência no tratamento de bebês com a síndrome da hipoplasia do coração esquerdo, uma cardiopatia congênita cujo tratamento exige equipamentos e equipe especializados.
Para José Jair James, vice-presidente assistencial da Rede D’Or em São Paulo, é preciso oferecer tecnologia de ponta para atrair os melhores médicos.
Desde 2011, quando chegou a São Paulo, a rede trouxe equipamentos avançados como o CyberKnife, que permite grande precisão no direcionamento da radiação durante as sessões de radioterapia. O aparelho é o único do Brasil, segundo a empresa fabricante.
David Uip, Paulo Hoff e, mais recentemente, o cirurgião Tiago Machuca são alguns dos nomes de peso que a Rede D’Or contratou desde que entrou no estado. O Vila Nova Star, principal hospital da rede em São Paulo, investe ao menos 3% da receita anual na renovação de seu parque de equipamentos e em reformas de estrutura.
Nessa mesma corrida, a Beneficência prevê investir R$ 100 milhões neste ano em modernização de prédio, reforma da UTI e na compra de instrumental cirúrgico, entre outros gastos. Já o Hcor obteve R$ 108 milhões junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa pública vinculada ao governo federal, para investimentos em pesquisa e tratamento de oncologia e cardiologia.
Hospitais privados nem sempre contratam os médicos, mas concedem o chamado privilégio clínico, autorizando o profissional a internar e operar seus pacientes no local. Antes de dar essa permissão, o hospital verifica diploma, título de especialista, residência médica, registro no conselho de medicina e experiência. Em alguns casos, também se levanta o histórico no conselho, exposição negativa na mídia ou nas redes sociais.
“Uma boa gestão de corpo clínico garante que todos os médicos que trabalham no hospital sigam as regras que o hospital define para o atendimento aos seus pacientes”, diz Ana Maria Malik, professora da FGV e especialista em gestão hospitalar, citando normas de segurança do paciente e protocolos de conduta médica.