No reality show Shark Tank, empresários aspirantes pedem a endinheirados que financiem ideias mirabolantes de negócio.
Algo semelhante ocorre no hospital paulistano Sírio-Libanês, que completa 60 anos em 2025. Um programa criado em 2023 e batizado de “Impulso” reúne ideias de funcionários para melhorar a qualidade assistencial.
Todos podem participar. Os funcionários, geralmente divididos em grupos, apresentam cerca de 100 ideias por ano, que são triadas para 20 finalistas e depois até quatro vencedoras da temporada.
Algumas das últimas ideias vencedoras: a adoção de um braço com veias artificiais que reduziu em 50% o tempo de treinamento de punções no hospital, um chatbot que usa as informações inseridas pela equipe de um turno para conversar com a do turno seguinte, e um dispositivo que mede o tempo do paciente parado na mesma posição para evitar lesões por pressão.
Em alguns casos a tecnologia é desenvolvida dentro do próprio hospital, como é o caso do chatbot, criado por duas enfermeiras e um analista de sistemas. O programa está sendo testado no andar de pediatria, e a instituição pretende publicar um artigo com os resultados da iniciativa.
“São projetos que surgem de baixo para cima, quando damos voz aos colaboradores”, diz Daniel Greca, diretor de Inovação e Saúde Populacional no Hospital Sírio-Libanês, apontado como o segundo melhor do país por médicos entrevistados pelo Datafolha.
Ele diz que já ganharam equipes com funcionários do setor administrativo, enfermagem, engenharia, manutenção e finanças, além de médicos.
Curso de medicina
O hospital também se prepara para fechar uma lacuna no seu sistema de educação. Inaugurou na quinta-feira (22) um curso de medicina, em cerimônia realizada com a presença do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin, além de ministros e deputados.
O Sírio tem cursos de fisioterapia, psicologia e enfermagem desde o fim de 2023, além de residências médicas (estas mais antigas). Faltava, para se igualar a outras instituições como Hospital das Clínicas e Hospital São Paulo, vincular-se a um curso de formação de médicos.
O curso deve começar em agosto, com mensalidades de R$ 12.400. Um décimo do dinheiro obtido com os alunos irá para o SUS e outro para bolsas integrais para alunos.
O corpo docente é formado em grande parte por médicos que atuam no hospital. Liao Yu Chieh, diretor de ensino da faculdade Sírio-Libanês, diz que um dos diferenciais será o campo de estágio dos alunos. Além do próprio Sírio, os discentes poderão estagiar nos sete hospitais públicos geridos pela organização social de saúde do Sírio em São Paulo e no interior.
O lançamento ocorre em meio ao endurecimento das regras da educação superior de saúde no Brasil e questionamentos sobre a qualidade dos cursos de medicina, que quintuplicaram desde 1990.
Saúde Populacional
Desde 2017 o hospital oferece a empresas e planos de saúde um serviço de atenção primária à saúde de seus funcionários.
Paciente elegíveis se consultam no ambulatório do Sírio e são direcionados para linhas de cuidado específicas (para diabéticos ou hipertensos, por exemplo), ficando vinculados a uma mesma equipe. O programa tem 330 profissionais e 400 mil beneficiários.
A ideia é evitar gastos com cirurgias e outros procedimentos fazendo um trabalho preventivo com os pacientes, explica Greca. “Pacientes que frequentam nosso serviço custam menos que os pacientes que não o frequentam”.
Hospital das Celebridades
O Sírio-Libanês é conhecido por tratar políticos, empresários e artistas famosos. O presidente Lula tratou um câncer de laringe no hospital em 2011 e também se submeteu a uma cirurgia para drenagem de hematoma ali no ano passado, após cair e bater a cabeça em casa.
A cantora Preta Gil ficou dois meses internada no hospital após cirurgia para tratar um câncer no intestino. O maestro João Carlos Martins, a atriz Taís Araújo e o influenciador Pablo Marçal também passaram pelo hospital nos últimos anos.
“Para o sucesso da instituição, eu preciso que o paciente queira estar aqui e reconheça que estar aqui é bom”, diz Fernando Ganem, diretor-geral do hospital. Ele afirma que, além das condições tecnológicas, de estrutura e hotelaria, o diferencial do hospital é o acolhimento ao paciente.
“Eu sou credenciado em cinco hospitais de São Paulo e tive experiências muito boas em vários deles, alguns que não são citados [na pesquisa Datafolha]”, afirma Ganem. “Mas vejo que o Sírio-Libanês consegue reunir aquelas principais condições para o profissional exercer o bom cuidado.”
Colaborou Juliana Vines