Página Inicial Saúde Influenciadora associa pilates ao autoritarismo nos EUA – 07/07/2025 – Equilíbrio

Influenciadora associa pilates ao autoritarismo nos EUA – 07/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

No início de abril, MaryBeth Monaco-Vavrik, uma influenciadora fitness de 24 anos que vive em Washington, nos Estados Unidos, estava sentada no aeroporto esperando para embarcar quando teve uma ideia para um reels do Instagram.

Monaco-Vavrik estudou ciências políticas e comunicação na Davidson College. Em entrevista recente, ela diz que tornou-se um hábito “sempre conectar coisas aleatórias que não parecem relacionadas”. Naquele momento, ela conectou dois conceitos que estavam em sua mente: pilates e o presidente Donald Trump.

Sorrindo para a câmera e dublando um clipe popular do TikTok sobre o musical da Broadway “Wicked”, Monaco-Vavrik apresentou seu argumento: “Alguém quer que eu explique a conexão entre a popularização do pilates e da corrida, em detrimento do treino de força, e a ascensão do extremo autoritarismo americano?”.

Na legenda ela disse que o conservadorismo estava correlacionado a “corpos menores” e que as curvas estavam fora de moda. Dado o clima político atual, ela não achou surpreendente que a tendência dos “braços de pilates” estivesse crescendo.

Monaco-Vavrik era nova na criação de conteúdo no espaço fitness —ela postou em fevereiro seus primeiros reels no Instagram, focados em dicas de treinamento e conselhos de exercícios— e essa postagem em particular foi, segundo ela, um tanto espontânea. “Fiz aquele reels em cinco minutos, sentada no aeroporto, só para colocar a ideia para fora”, conta.

Mas ela não estava preparada para a reação: 2 milhões de visualizações em dois dias e 5 milhões até a último fim de semana.

Seu post se espalhou amplamente —mas não porque todos concordavam. Alguns entusiastas do pilates chamaram o post de absurdo. Outras disseram que só queriam ser saudáveis e femininas.

“Fui acusada de ser misógina”, disse Monaco-Vavrik. “Fui acusada de odiar mulheres.”

O teor dos comentários variou do ceticismo à ofensa pessoal. Muitos ficaram indignados com a sugestão de que poderiam ser apoiadores de Trump, enquanto outros pareciam irritados com a noção de que uma forma de exercício pudesse ser descrita em termos partidários.

“A reação negativa foi intensa”, afirmou Monaco-Vavrik. “Acho que isso ofendeu profundamente essas mulheres brancas mais ricas que afirmam ter alinhamento progressista, mas que realmente não conseguiam entender o que eu estava dizendo.”

Ela disse ainda que a reação negativa logo a seguiu offline. Outros treinadores no estúdio onde ela ensinava barra a repreenderam por seus comentários, e ela disse que a postagem teve consequências para sua carreira, alegando que o vídeo foi citado como motivo para não conseguir um trabalho com uma marca fitness.

Foi a experiência viral completa. “No início foi ótimo, porque era tipo: ‘oba, as pessoas estão vendo minha página’. Depois foi tipo: ‘droga, agora estou desempregada’.”

O pilates foi desenvolvido na Europa na década de 1920 por Joseph Pilates, um treinador alemão de autodefesa que originalmente chamou a prática de “contrologia”. Embora Pilates tenha escrito livros sobre o assunto e instruído dançarinos em seu estúdio em Nova York após a Segunda Guerra Mundial, foi somente décadas após sua morte que o pilates entrou no mainstream, encontrando ampla aceitação junto ao aumento de popularidade do ioga.

A prática também ganhou impulso mais recentemente: em 2024, a plataforma de fitness ClassPass disse que o pilates foi o tipo de aula mais popular do ano. As aulas de hoje são mais acessíveis do que nunca, oferecidas em estúdios dedicados, franquias e redes de academias.

Associar essa popularidade ao clima político atual, no entanto, é um pouco menos claro.

“Nunca ouvi isso, nem nunca vi qualquer conexão”, afirma Amy Nelms, proprietária do estúdio Flatiron Pilates, em Nova York, com os olhos arregalados de incredulidade enquanto a ideia era apresentada a ela. “Não consigo imaginar Donald Trump fazendo pilates.”

Para Monaco-Vavrik, o problema não é o exercício em si, mas a forma como ele tem sido promovido. “O pilates é ótimo para a força do core e para pessoas que sofrem de fraqueza do tecido conjuntivo”, conta. “Mas como separamos isso do fato de que seu marketing é extremamente excludente? É extremamente embranquecido. É baseado na riqueza. É baseado na magreza.”

Ainda assim, ela admitiu que as nuances de seu ponto de vista podem ter se perdido no que parecia uma acusação contra os entusiastas do pilates. “Não se trata da sua filiação política pessoal. Ninguém vai ao pilates pensando: ‘Vou ser fascista hoje’.”

Monaco-Vavrik diz que a forma como o pilates é comercializado é separado do exercício em si. “Isso talvez não tenha sido transmitido muito bem”, acrescentou, referindo-se à mensagem de seu vídeo.

Grande parte desse “marketing” é, na verdade, uma massa amorfa de conteúdo de mídia social, produzida por influenciadores de pilates que se identificam como “garotas do pilates” ou “princesas do pilates”. No TikTok, criadores de conteúdo oferecem conselhos sobre como alcançar “braços de pilates” —bíceps magros e fibrosos que não parecem excessivamente musculosos— ou, de forma mais ampla, um “corpo de pilates”, que normalmente significa apenas ser magra.

Monaco-Vavrik diz que essas são maneiras codificadas de dizer às mulheres que elas precisavam se fazer pequenas e ocupar menos espaço —que, em vez de desenvolver força levantando pesos, as mulheres estavam sendo “empurradas para apenas fazer uma aula de pilates e tomar um smoothie depois”. “O que isso diz sobre nossa cultura?”, questionou.

Anita Chahaun, uma fã de pilates em Toronto e que tem certificação na prática, diz que achou o argumento de Monaco-Vavrik “um pouco tênue”, mas concordou que “há algo a ser analisado sobre a estética e a acessibilidade do pilates, especialmente no momento cultural atual”.

De sua perspectiva como mulher negra, Chahuan afirmou: “O pilates ainda parece um espaço predominantemente branco e mais rico”, com clientela e instrutores que são “esmagadoramente brancos, frequentemente magros e geralmente em conformidade com uma estética de bem-estar muito específica”.

“A obsessão da indústria de bem-estar pode se sobrepor desconfortavelmente a estruturas excludentes ou até mesmo fascistas”, acrescentou. “Então, embora eu não ache que o pilates seja inerentemente autoritário, ele definitivamente foi embalado de maneiras que se alinham a esses valores.”

Para algumas pessoas que assistiram ao vídeo de Monaco-Vavrik, a própria ideia de conectar política e pilates era censurável, mesmo que houvesse razão para acreditar no contrário.

“Acho que por muito tempo houve uma tendência a pensar que o fitness não é político, é apenas exercício”, disse Natalia Mehlman Petrzela, professora de história na New School e autora do livro “Fit Nation: The Gains and Pains of America’s Exercise Obsession”. “Mas o fitness está sempre ligado à dinâmica de poder e à sociedade, e muitas vezes é muito mais do que apenas academia.”

“Eu acho que quando você olha para a estética dominante e as mensagens em torno das princesas ou garotas do pilates, isso definitivamente sustenta estéticas muito tradicionais de beleza feminina”, continuou.

Ela, no entanto, estava disposta a concordar com a ideia apenas até certo ponto. “Eu aprecio esse tipo de análise, mas ela meio que se desfaz quando você a examina profundamente. Porque o pilates realmente te deixa muito, muito forte. É um treino realmente intenso.”

Embora já tenha se passado alguns meses desde que o post ganhou atenção pela primeira vez, o reels de Monaco-Vavrik continua a atrair visualizações e provocar debate.

“Não olho para os comentários há um tempo, porque eles me deixam muito irritada”, disse. “Muitas pessoas simplesmente interpretaram mal o que eu disse.”

“De novo: eu não posso provar exatamente”, acrescentou. “Não posso provar, mas eu sei que está lá. Eu sei que a ordem, a graça, a quietude, o minimalismo —está tudo conectado.”

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.

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