Página Inicial Saúde Instrutor cadeirante ensina conceitos de ioga acessível – 01/05/2025 – Equilíbrio

Instrutor cadeirante ensina conceitos de ioga acessível – 01/05/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Se a sua imagem sobre a ioga for aquela de corpos flexíveis, performáticos e esbeltos, realizada em estúdios descolados, esfumaçados e com tapetinhos estilosos, ela precisa ser ampliada.

Pelo menos é isso o que preconiza o instrutor Rodrigo Souza, 43, que é cadeirante e tem viajado o mundo mostrando e ensinando que todos os tipos de pessoas, sem excluir os velhos, os acamados, as com mobilidade reduzida e as com deficiência, podem se beneficiar e ter ganhos de impacto com prática.

Acalmar a mente. Isso é ioga. Você pode fazer isso pelo movimento, pela respiração, pela contemplação, com uma música, com um mantra. Meu trabalho é tentar conscientizar as pessoas que elas só conhecem um pedaço da prática, que é a do movimento. Até lavar louça de forma consciente, sentindo a água bater na mão, pode ser ioga”, afirma Rodrigo.

Ele mora na Suécia há 13 anos, onde trabalha na organização Rgaktivrehab, de reabilitação para pessoas com deficiência e que se vale da ioga acessível no processo. O iogue é ainda membro da Accessible Yoga School, que capacita gente do mundo todo para ensinar movimentos para corpos diversos.

No Brasil, Rodrigo já treinou cerca de 200 professores de várias partes do país nos últimos anos dentro do projeto “Lhe Tenho Amor”.

“Educo professores para humanizar a prática, para respeitar todos os corpos. Há gestantes, pessoas com deficiência, pessoas neurodivergentes, idosos, pessoas que não têm equilíbrio. Não se pode ensinar uma prática e esperar que todos entrem no mesmo shape, na mesma postura.”

A professora Danielle Giacominne Gonçalves 44, foi aluna de Rodrigo. Fez o curso dele há dois anos e meio para aprender mais sobre acessibilidade e inclusão. Desde 2024, passou a atuar nas Casas André Luiz, levando a prática para centenas de pessoas com deficiências diversas, principalmente, intelectual.

“Não via pessoas com mais idade, com mobilidade reduzida [na ioga], e percebia que faltava um pouco mais de acolhimento e oferta de variações de posturas consideradas difíceis para quem não tivesse um alongamento tão amplo”, diz.

Para Danielle, o impacto da ioga em corpos diversos é “imenso e gradual”. “Os exercícios de respiração, por exemplo, ajudam muito a acalmar a ansiedade. São pessoas que, muitas vezes, sentem dores e espasmos o dia todo e, sentar-se em roda, harmonizar-se e observar o outro, com movimentos possíveis, afeta positivamente a vida de cada um dos alunos.”

Quando se tornou cadeirante —ele caiu em um barranco, ao ter uma crise de hipoglicemia, durante uma caminhada, e teve uma lesão medular— Rodrigo já tinha formação em ioga, feita em Londres.

“Meu acidente foi no Brasil, mas fiz minha reabilitação na Suécia, onde moro desde 2012. No hospital, descobri o professor Marcos Sanford, da organização Mind Body Solutions, de Mineápolis, nos EUA. Fui bem honesto com ele e disse: ‘Acabei de quebrar as costas, tô no fundo do bolso, por favor, me ajuda’.”

Rodrigo recebeu DVDs, livros e começou a aprender ioga na cadeira de rodas, o ioga acessível, duas semanas após seu acidente.

“Eu fazia fisioterapia duas vezes por semana, mas praticava ioga cinco vezes na semana. Voltei para vida muito rápido. Comecei a morar sozinho, a trabalhar, a dirigir. Em um ano, eu estava reabilitado. Ouvi que minha estabilidade e a força emocional poderiam ajudar muita gente e fui convidado a trabalhar com ioga e meditação no mesmo hospital que fiz a reabilitação.”

Para o especialista, a ioga é uma alternativa para que as pessoas não fiquem apenas no modelo médico de cuidados.

“Se você tem um transtorno pós-traumático, igual eu tenho, a opção não pode ser apenas antidepressivos. Se você tem uma dor neuropática, espasticidade muscular, o tratamento não pode ser apenas com remédios. O importante é estar no corpo. O importante é curar o seu trauma.”

O psicólogo e especialista em inclusão Djalma Scartezini, 42, começou a praticar a ioga acessível há oito meses e é enfático ao dizer que teve sua vida transformada, sobretudo na redução de dores que estavam comprometendo sua qualidade de vida. Ele tem deficiência física e faz as sessões sentado, em casa, com suporte de uma instrutora que foi treinada por Rodrigo.

“Vejo benefícios desde a primeira sessão. O meu nível de dor, naquele momento, numa escala de 0 a 10, era 11, 12, com uso de muitos remédios. Após os exercícios, fiquei quatro horas sem dor. Sinto ganhos diários. As dores diminuíram demais. Tenho menos irritabilidade, minha percepção de mundo é outra, mais tranquila, e meu corpo ficou mais organizado”, declara.

Segundo Djalma, a prática, fez ele se apaixonar novamente pelo próprio corpo, “que tinha uma memória de muita dor, de muita desconexão. As pessoas, fora do público já massificado, precisam conhecer a ioga acessível, pode ser transformacional”.

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