Página Inicial Saúde Jurema Sagrada: povos do Nordeste dialogam com ciência – 27/05/2025 – Virada Psicodélica

Jurema Sagrada: povos do Nordeste dialogam com ciência – 27/05/2025 – Virada Psicodélica

Publicado pela Redação

De 21 a 24 de maio realizou-se na aldeia Tapera, terra Truká em Orocó (PE), o 1º Seminário de Medicinas Ancestrais – Jurema: Ciências, Cuidados e Proteção, às margens do rio Opará (São Francisco). Participaram cerca de 400 pessoas, na maioria indígenas de sete estados do Nordeste e Minas Gerais.

Havia entre os participantes caciques, pajés e profissionais de saúde indígena ligados ao SUS, além de pesquisadores, professores e estudantes de universidades públicas. Outro contingente significativo foi o de representantes de povos de terreiro, na intersecção entre a Jurema Sagrada e a Umbanda.

Jurema é o nome comum a espécies de árvores abundantes na caatinga, no agreste e na zona da mata do Nordeste, com destaque para a jurema-preta (Mimosa tenuiflora). A planta é usada por povos originários da região e está no centro de muitos rituais, como a dança do toré acompanhada da bebida cerimonial conhecida como “vinho da jurema”.

Além da árvore e da bebida, o vegetal também empresta o nome a um culto de matriz indígena e africana no Nordeste, Catimbó/Jurema Sagrada, e a um dos encantados que podem baixar nos terreiros, a Cabocla Jurema. Outros mestres e mestras conhecidos na legião de entidades são Maria do Acais, Mestre Carlos, Zé Pelintra, Joana Pé de Chita, Caboclo Aboiador, Sultão das Matas e Malunguinho.

No centro dos debates esteve a preocupação dos povos juremeiros com a apropriação cultural e intelectual da “ciência da jurema”. A raiz da planta contém dimetiltriptamina (DMT), psicodélico presente também na ayahuasca, ou daime, que vem sendo pesquisado como alternativa de tratamento para depressão.

“Seu uso [da jurema] fora de contextos tradicionais –como em laboratórios de pesquisas, lugares inadequados e para fins turísticos– desperta preocupações éticas, especialmente quanto ao respeito às práticas e aos conhecimentos ancestrais”, diz o documento final.

Houve discussões acaloradas sobre falta de consulta e consentimento indígena para experimentos com jurema. Muito se falou sobre patenteamento, contrabando e risco de extinção da espécie, mas sem exemplos documentados de abusos.

Foi um início tenso de diálogo entre povos originários e academia. Houve, porém, concordância sobre continuar conversando com base nos princípios comuns de cuidado e proteção. Um novo encontro ficou marcado para maio de 2026.

Discutiu-se ainda criar um Conselho de Povos Juremeiros, analisar uma proposta de tombamento da Jurema Sagrada como patrimônio imaterial e intensificar a luta pela preservação do bioma caatinga, em cujo sertão viceja a jurema-preta.

Esses saberes precisam ser conhecidos, reconhecidos e valorizados fora dos territórios onde a jurema é empregada no cuidado das pessoas há séculos. As duas ciências, a indígena e a da universidade, fazem parte da mesma família, a das pessoas que lutam para reduzir o sofrimento no mundo.

Na 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca no Acre, em janeiro, um Conselho de Lideranças Espirituais Indígenas foi criado para retomar o protagonismo indígena sobre a medicina natural e, talvez, um diálogo com pesquisadores que não vinha andando bem. Para dizer o mínimo.

Em Orocó, parece que essa conversa está começando com o pé direito.


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