A Kraft Heinz, o gigante alimentício mais conhecido no Brasil por seu ketchup, anunciou, nesta terça-feira (17), que removerá todos os corantes químicos de seus produtos até o final de 2027.
A empresa afirmou que a mudança afeta apenas cerca de 10% de seu portfólio em termos de vendas. Um porta-voz confirmou que afetaria marcas como Kool-Aid, Jell-O, Crystal Light e outras bebidas e sobremesas que contêm corantes como o vermelho nº 40 e o azul nº 1.
A Kraft Heinz é a primeira grande empresa alimentícia a anunciar oficialmente planos para parar de usar cores artificiais. Em abril, Robert F. Kennedy Jr., secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, disse que havia chegado a “um entendimento” com fabricantes de alimentos para remover corantes alimentares artificiais comumente usados em produtos até 2026.
Kennedy, como parte de sua agenda “Make America Healthy Again” (Tornar a América Saudável Novamente, em tradução), há muito critica os corantes artificiais usados em alimentos processados como parte de um sistema alimentar que, segundo ele, contribui para doenças crônicas e saúde precária.
O departamento esperava encorajar as empresas alimentícias a remover os corantes voluntariamente, em vez de passar pelo árduo e demorado processo de mudança das regulamentações alimentares, o que poderia ter se transformado em uma batalha judicial sobre ciência e segurança.
Especialistas em nutrição e saúde podem ficar satisfeitos em ver alguns corantes à base de petróleo desaparecerem, observando que alguns estudos encontraram ligações entre certos corantes alimentares artificiais e problemas comportamentais. Mas outros afirmaram que não está claro se a remoção dos corantes artificiais terá um efeito significativo na obesidade infantil, diabetes ou outras doenças crônicas.
Também não se sabe se outras grandes empresas alimentícias seguirão o exemplo da Kraft Heinz. Em meados de abril, executivos da PepsiCo, que fabrica bebidas Pepsi e Gatorade, além de lanches populares como Doritos e Cheetos, disseram a analistas de Wall Street que migrariam suas várias marcas para cores naturais ou forneceriam aos consumidores opções de cores naturais nos próximos anos. Os executivos da PepsiCo afirmaram que cerca de 60% de seus negócios vinham de produtos sem cores artificiais.
Mas a Kraft, como outros gigantes de alimentos e bebidas, enfrentará inúmeros desafios ao tentar replicar seu Kool-Aid de cereja vermelho brilhante ou o laranja em seus mix de bebidas Crystal Light a partir de fontes naturais. Especialistas em corantes alimentares alertam que pode ser complicado combinar os tons com ingredientes naturais, podendo exigir mudanças nas formulações e ser mais custoso, já que são necessários significativamente mais ingredientes naturais para alcançar os tons brilhantes e saturados encontrados em cores artificiais.
A Kraft, que silenciosa e bem-sucedidamente removeu as cores artificiais de seu popular produto de macarrão com queijo laranja brilhante em 2016, substituindo-as por cúrcuma e páprica, disse que não introduziria nenhum novo produto usando corantes sintéticos, com efeito imediato.
“A grande maioria de nossos produtos usa cores naturais ou nenhuma cor”, disse Pedro Navio, presidente da América do Norte da Kraft Heinz, em um comunicado à imprensa na terça-feira. Ele observou que a empresa vinha trabalhando para reduzir o uso de cores artificiais em todo o seu portfólio.
A empresa disse estar mobilizando uma equipe para descobrir como remover as cores artificiais de todos os seus produtos. Essa equipe removeria as cores quando não fossem críticas para a experiência do consumidor, substituiria os corantes artificiais por cores naturais ou criaria novas cores e tons, disse a Kraft Heinz.