Página Inicial Saúde Mounjaro de pobre: fibras e suplementos não são remédios – 03/05/2025 – Equilíbrio

Mounjaro de pobre: fibras e suplementos não são remédios – 03/05/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

O Mounjaro, medicamento para tratar diabetes tipo 2, deve chegar às farmácias brasileiras na primeira quinzena de maio, segundo anunciou a fabricante Eli Lilly. A novidade tem chamado atenção, já que o produto vem sido procurado por acelerar o processo de emagrecimento.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou a comercialização do Mounjaro apenas para tratamento da diabetes tipo 2. A outra possível indicação do medicamento, contra a obesidade, ainda não foi liberada pela pasta, mas pode ser receitada por médicos como uso off-label, ou seja, fora daquilo que está descrito na bula. Em ambos os casos será necessária a retenção de receitas médicas.

Acontece que o fármaco virou febre nas redes sociais na era da busca constante pelo corpo magro. Por isso, alternativas para o medicamento também têm feito sucesso. “Mounjaro de pobre” é um dos termos relacionados que mais têm sido buscados na internet e nas redes sociais.

Dados do Google Trends mostram que o interesse de busca por “mounjaro de pobre” está mais alto do que nunca. As pesquisas pelo termo começaram a crescer neste ano e continuam em ascensão. As pessoas buscam receitas e preços dessa alternativa.

O mesmo efeito é observado nas buscas por Mounjaro, que teve um crescimento expressivo entre janeiro e abril de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Nesse intervalo, as buscas pelo termo aumentaram 512,5%, refletindo a crescente popularização do medicamento no Brasil.

Fibras, como o psyllium, e emagrecedores, sejam eles fármacos ou naturais, são associados como a opção barata do Moujaro ou do seu concorrente, Ozempic.

Uma conta do TikTok mostra a evolução no emagrecimento da dona do perfil usando o “mounjaro de pobre”. Ela mostra a diferença entre antes de usar e a diminuição do inchaço abdominal após um mês de uso. A cada vídeo, ela divulga o produto “Slim Gota Black”, um suplemento alimentar emagrecedor que tem magnésio, zinco, triptofano e betacaroteno na composição. O “Ozenvitta” é outro conhecido como “Ozempic de pobre”.

Todos os vídeos prometem perda de peso e diminuição do inchaço abdominal, com o adicional de serem mais baratos e não terem efeitos colaterais. Antes de chegarem às farmácias, um mês de tratamento com o Mounjaro, direto do “fornecedor”, podia chegar a R$ 4.000. O preço nas farmácias será de R$ 1.406 a R$ 2.384.

De acordo com médicos, no entanto, as fibras e os suplementos não são uma opção mais barata do Mounjaro. Não funcionam da mesma forma, não têm o mesmo efeito e não são um substituto para quem é indicado a usar a medicação.

Como funciona o Mounjaro

“A tirzepatida, componente do Mounjaro, é uma associação de dois peptídeos intestinais, o GLP-1 e o GIP, que ajudam no controle glicêmico, no controle do esvaziamento gástrico, manejam a saciedade em centros reguladores do apetite no sistema nervoso central, tendo uma eficácia excelente para a perda de peso, tratamento da obesidade e controle do diabetes”, diz a endocrinologista Lorena Lima Amato.

O GIP envolve a liberação de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas responsável por retirar da circulação sanguínea o açúcar obtido dos alimentos e botá-lo dentro das células, onde será usado como fonte de energia. Por isso, portadores de diabetes, que não produzem insulina, têm o uso recomendado.

O GIP e GLP-1 também aparecem em células do cérebro responsáveis por controlar o apetite. Com isso, o fármaco ajuda a regular a ingestão de alimentos —o que pode levar à perda de peso.

O Mounjaro é considerado mais eficaz no controle da diabete e na perda de peso por associar o GIP ao GLP, que atua como o glucagon, regulando os níveis de glicose no sangue. O Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, atua somente sobre o GIP.

Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), diz que o Mounjaro tem ação melhor na impulsão do metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas, tira a gordura extra infiltrada no músculo e trata a fibrose hepática (formações de cicatrizes no fígado).

“Isso é extremamente importante para o tratamento do fígado e daquela gordura toda de barriga. Então, ele reduz muito mais a gordura visceral, a infiltração e a inflamação muito melhor, quando comparado à semaglutida. Ele ajuda a perder mais gordura do que músculos”, diz Barca.

Além de pessoas com diabetes ou com obesidade, o Mounjaro vem sendo indicado para pessoas com comorbidades que precisam perder peso, segundo a médica. “A pessoa pode ter uma síndrome metabólica, alterações no colesterol, nos triglicérides. Pode ser usado também com pessoas magras que tiveram processos inflamatórios”, diz a médica.

‘Mounjaro de pobre’

Pessoas fora dos fatores recomendados para o uso dos medicamentos podem recorrer a fibras e fitoterápicos, como o psyllium, o akkermat e o Ozenvitta, para ajudar no controle do peso corporal. Mas os efeitos são praticamente incomparáveis ao Mounjaro, dizem as especialistas.

O psyllium é uma fibra solúvel que, ao entrar no corpo, forma um gel no intestino. Em contato com a água corporal, esse gel retarda o esvaziamento gástrico (processo de digestão e absorção de nutrientes), prolonga a saciedade e reduz o apetite. Também diminui a absorção de glicose e gorduras, ajudando no controle glicêmico e lipídico.

O akkermat é um fitoativo que estimula a Akkermansia muciniphila, uma bactéria intestinal associada à redução da inflamação metabólica e à melhora da sensibilidade à insulina. Quando estimulada, ela fortalece a barreira intestinal e modula hormônios como GLP-1 (semelhante à tirzepatida, que imita GLP-1 e GIP), podendo ajudar indiretamente na regulação do apetite.

Segundo a endocrinologista, enquanto o akkermat somente atua na modulação de GLP-1 e do metabolismo energético via microbiota, o Mounjaro o faz diretamente, por ação farmacológica.

“Apesar de serem boas opções para ajudar o controle de peso, essas alternativas não substituem medicamentos e não são indicadas para todas as pessoas”, diz a nutricionista Sabrina Theil. Nem todos são aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e uso inadequado pode trazer riscos reais à saúde, como a perda de massa muscular e feitos colaterais sérios.

“O uso de medicações sem acompanhamento de médicos, nutricionistas e educadores físicos pode levar ao efeito rebote com o retorno rápido ou maior ao peso anterior —muitas vezes com acúmulo de gordura e perda de massa muscular, piorando a composição corporal. O emagrecimento duradouro exige mudança de hábitos, reeducação alimentar e suporte emocional”, conclui Theil.

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