O mercado de tratamentos para obesidade continua em expansão. A popularidade dos medicamentos injetáveis dos últimos anos abriu caminho para explorar alternativas além das opções já conhecidas. Estudos apresentados no congresso da American Diabetes Association (ADA), em Chicago, mostraram que a combinação de análogos hormonais, como visto com GLP-1 e GIP na tirzepatida, é uma alternativa, além de substâncias isoladas.
Neste domingo (22), durante o ADA, a farmacêutica Novo Nordisk trouxe os resultados principais do Redefine 1, publicados no New England Journal of Medicine. O estudo de fase 3 analisou uma nova terapia combinada ao longo de 68 semanas, com 3.417 pessoas com obesidade ou sobrepeso acompanhadas de uma ou mais comorbidades, com peso corporal médio inicial de 106,9 kg.
Os dados o Redefine 2, também apresentados durante o ADA, confirmaram a eficácia de CagriSema também em adultos com obesidade e diabetes tipo 2.
A pesquisa avaliou o uso subcutâneo semanal de CagriSema, uma combinação de dose fixa de cagrilintida 2,4 mg e semaglutida 2,4 mg, comparando-a com os componentes individuais (cagrilintida 2,4 mg e semaglutida 2,4 mg) e placebo.
“Isso é impactante, mas importante contextualizar: não é a média geral, e sim em uma população específica. Precisamos comparar com resultados da cirurgia bariátrica para ter a dimensão completa”, afirma o endocrinologista João Salles, do departamento de doenças associadas da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e presidente eleito da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes). Com essa dimensão daria para afirmar que o medicamento poderia ser alternativa a cirurgia, completa.
Os dados do estudo mostram uma redução média de peso de 22%, um resultado relevante para os especialistas, com um terço dos pacientes alcançando mais de 30% de perda de peso.
A CagriSema proporcionou uma perda de peso média de 22,7%, o que seria o equivalente a 24,3 kg em pacientes com peso inicial médio de 106,9 kg, reduzindo seu peso para 82,6 kg. Esse resultado superou os tratamentos isolados: a semaglutida sozinha levou a uma perda de 16,1% (17,2 kg, peso final de 89,7 kg), enquanto a cagrilintida isolada resultou em 11,8% de redução (12,6 kg, peso final de 94,3 kg). O grupo placebo teve apenas 2,3% de perda (2,5 kg, mantendo 104,4 kg).
Os resultados também mostram pacientes com respostas ainda maiores: 40,4% dos que usaram CagriSema perderam 25% ou mais do peso corporal (equivalente a 26,7 kg ou menos de 80,2 kg), contra apenas 16,2% na semaglutida isolada e 6% na cagrilintida. Mesmo em análises que simulam situações reais, considerando interrupções de tratamento, a combinação manteve superioridade, com perda média de 20,4% (21,8 kg, peso final de 85,1 kg) contra 14,9% com semaglutida (15,9 kg, 91 kg final) e 11,5% com cagrilintida (12,3 kg, 94,6 kg).
Como funciona a combinação do medicamento
O mecanismo de ação duplo do CagriSema promove a perda de peso através da redução da fome e aumento da saciedade, ajudando os pacientes a consumirem menos calorias.
Semaglutida, já conhecido por marcas como Rybelsys, Ozempic e Wegovy, é um análogo do GLP-1 (Glucagon-Like Peptide-1), um hormônio incretínico produzido no intestino após a alimentação. Funciona aumentando a liberação de insulina (reduzindo o açúcar no sangue), diminuindo o apetite através de ação no cérebro e retardando o esvaziamento gástrico.
Já a cagrilintida é um análogo da amilina, hormônio produzido no pâncreas junto com a insulina. Diferentemente do GLP-1, não atua no eixo intestino-pâncreas, mas é mais focado no controle cerebral do apetite, ajudando a reduzir a fome e aumentar a saciedade.
Em termos de segurança, o estudo mostra que CagriSema apresentou perfil bem tolerado, com efeitos adversos predominantemente gastrointestinais e de intensidade leve a moderada, padrão consistente com a classe dos agonistas do receptor GLP-1.
Martin Holst Lange, vice-presidente executivo de desenvolvimento da Novo Nordisk, afirma que os resultados obtidos no estudo serão utilizados para explorar ainda mais o potencial da terapia combinada.
Há ainda medicamentos mais complexos como a retatrutida, medicamento experimental da Eli Lilly para obesidade e diabetes tipo 2, funciona de três maneiras diferentes no corpo, combinando efeitos que aceleram o metabolismo, controlam o açúcar no sangue e reduzem a fome.
E outros medicamentos foram apresentados no ADA, que estão em fase experimental, como versões quádruplas (GLP-1, GIP, glucagon e amilina) e até quíntuplas, que incluem também a calcitonina (hormônio que regula o cálcio e pode ter efeitos no metabolismo).
“Essas abordagens podem revolucionar o tratamento da obesidade e do diabetes no futuro, oferecendo opções mais completas e eficazes”, completa. Segundo o especialista, a importância desses novos medicamentos está no fato de que cada paciente responde diferentemente ao tratamento. Ter mais opções permite que mais pessoas encontrem a forma ideal de tratar a doença, seja com terapias combinadas ou isoladas, sempre somadas a mudanças no estilo de vida.
A repórter viajou a convite da Novo Nordisk.