A farmacêutica Novo Nordisk apresentou os resultados preliminares de um estudo que demonstrou que a dose experimental de 7,2 mg de semaglutida injetável foi mais eficaz que a dose atualmente aprovada, de 2,4 mg, para perda de peso em adultos com obesidade. A semaglutida é o princípio ativo dos medicamentos Wegovy e Ozempic, ambos comercializados pela empresa dinamarquesa.
Os dados serão divulgados neste sábado (21) durante o congresso da American Diabetes Association (ADA), em Chicago, nos Estados Unidos.
Segundo a endocrinologista Paula Pires Nascimento Giacomini, que não participou do estudo, pacientes com obesidade e diabetes tipo 2, especialmente aqueles com resistência à insulina e acúmulo de gordura abdominal, podem se beneficiar de doses mais altas de semaglutida.
Os dados mostram que a dosagem de 7,2 mg aumentou as chances de alcançar perdas de peso mais expressivas (de 20% a 25%) em comparação à dose atual. Após 72 semanas de tratamento, 86% dos pacientes que utilizaram 7,2 mg atingiram uma redução de pelo menos 10% do peso corporal, enquanto essa porcentagem foi de 78% entre os que usaram 2,4 mg e de apenas 20% no grupo placebo.
“Alguns pacientes não respondem adequadamente à dose padrão de 2,4 mg, mantendo dificuldade para perder peso ou controlar o apetite”, diz Giacomini, que é especialista em obesidade.
A dose mais elevada também se mostrou mais eficaz para perdas de peso mais acentuadas, segundo os dados apresentados: 70% dos pacientes alcançaram uma redução de 15% ou mais (contra 58% com 2,4 mg, e 8% com placebo); 51% atingiram 20% ou mais (enquanto 35% atingiram esse patamar com 2,4 mg, e 3% com placebo); e 33% apresentaram perda de 25% ou mais do peso corporal —resultado alcançado por 17% dos pacientes com a dose de 2,4 mg e por nenhum participante do grupo placebo.
A farmacêutica afirma que a transição de 2,4 mg para 7,2 mg foi segura, sem aumento significativo de efeitos colaterais.
De acordo com a endocrinologista, a dosagem gradual da semaglutida, principalmente no começo do tratamento, é fundamental para a segurança do paciente. “Esse esquema de dosagem progressiva permite ao organismo ajustar-se adequadamente à medicação e facilita a mudança nos hábitos alimentares”, diz Giacomini.
A previsão da Novo Nordisk é publicar o estudo completo em revista científica em quatro ou cinco semanas. A farmacêutica diz ainda que pretende submeter a nova dose para aprovação na União Europeia já no segundo semestre, e depois em outros mercados onde o medicamento já é aprovado. A empresa diz avaliar se a nova dosagem será incorporada à marca Wegovy ou lançada com nova denominação comercial.
Efeitos colaterais
Recentemente, a Anvisa emitiu um alerta sobre um evento adverso raro associado à semaglutida, que pode causar perda de visão súbita e irreversível, chamado Neuropatia Óptica Isquêmica Anterior Não Arterítica (Noiana). A agência solicitou a inclusão dessa informação nas bulas dos medicamentos, seguindo análise do Comitê Europeu (PRAC/EMA). A ocorrência é considerada “muito rara”, mas requer atenção médica. Esse evento adverso não foi reportado no estudo com a dose de 7,2 mg.
Os dados ainda mostraram que os efeitos adversos mais frequentes com a semaglutida foram gastrointestinais, padrão para a classe dos análogos de GLP-1. A maioria desses eventos foi de leve a moderada intensidade e ocorreu principalmente durante o período de aumento gradual da dose, diminuindo com o tempo
Especificamente com a dose mais alta (7,2 mg), 3,3% dos pacientes interromperam o tratamento devido a esses efeitos adversos, taxa ligeiramente superior aos 2% observados com a dose de 2,4 mg. Nenhum participante do grupo placebo abandonou o estudo por problemas gastrointestinais.
A jornalista viajou para Chicago a convite da Novo Nordisk.