Centenas de funcionários da OMS (Organização Mundial da Saúde) se reunirão com doadores e diplomatas em Genebra a partir desta segunda-feira (19) com uma questão que vem dominando seus pensamentos —como lidar com crises, desde mpox até cólera, sem seu principal financiador, os Estados Unidos.
A assembleia anual, com sua semana de sessões, votações e decisões políticas, geralmente demonstra a escala da agência da ONU, criada para combater surtos de doenças, aprovar vacinas e apoiar sistemas de saúde em todo o mundo.
Este ano —desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, iniciou o processo de um ano para deixar a OMS, com uma ordem executiva em seu primeiro dia no cargo, em janeiro— o tema principal é a redução de gastos.
“Nosso objetivo é focar no material de alto valor”, disse Daniel Thornton, diretor de mobilização coordenada de recursos da OMS à Reuters.
O que exatamente é esse “material de alto valor” está em discussão. Autoridades de saúde afirmaram que o trabalho da OMS em fornecer diretrizes para países sobre novas vacinas e tratamentos para condições que vão da obesidade ao HIV continuará sendo uma prioridade.
Uma apresentação da OMS para o evento, compartilhada com doadores e vista pela Reuters, sugeriu que o trabalho de aprovação de novos medicamentos e resposta a surtos seria protegido, enquanto programas de treinamento e escritórios em países mais ricos poderiam ser fechados.
Os Estados Unidos forneciam cerca de 18% do financiamento da OMS. “Temos que nos virar com o que temos”, disse um diplomata ocidental que pediu para não ser identificado.
A equipe tem se preparado —cortando gerentes e orçamentos— desde o anúncio de Trump em janeiro, em uma onda de diretivas e cortes de ajuda que perturbaram uma série de pactos e iniciativas multilaterais.
O atraso de um ano, exigido pela lei dos EUA, significa que o país ainda é membro da OMS —sua bandeira ainda tremula do lado de fora da sede em Genebra— até sua data oficial de saída, em 21 de janeiro de 2026.
Trump deu declarações contraditórias ao acusar a OMS de lidar mal com a Covid e depois dizer que poderia considerar voltar à agência se a equipe “passasse por limpeza”.
Mas, enviados de saúde global dizem que desde então houve poucos sinais de uma mudança de opinião. Então, a OMS está planejando a vida com um buraco de US$ 600 milhões no orçamento para este ano e cortes de 21% nos próximos dois anos.
China assume a liderança
Enquanto os Estados Unidos se preparam para sair, a China está prestes a se tornar o maior provedor de taxas estatais —um dos principais fluxos de financiamento da OMS, juntamente com doações.
A contribuição da China aumentará de pouco mais de 15% para 20% do total de taxas estatais sob uma reformulação do sistema de financiamento acordada em 2022.
“Temos que nos adaptar a organizações multilaterais sem os americanos. A vida continua”, disse Chen Xu, embaixador da China em Genebra, a repórteres no mês passado.
Outros sugeriram que este pode ser um momento para uma reformulação ainda mais ampla, em vez de continuidade sob uma hierarquia reorganizada de apoiadores.
“A OMS precisa de todos os seus comitês? Precisa publicar milhares de publicações a cada ano?”, questionou Anil Soni, diretor executivo da Fundação OMS, um órgão independente de captação de recursos para a agência.