Dois grupos globais de saúde que financiam bilhões de dólares em ajuda médica essencial —desde vacinas infantis até tratamentos contra a malária— estão em negociações para fundir algumas funções a fim de ajudar a combater uma crise de financiamento, dizem seus diretores executivos à Reuters.
Os grupos –o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária e a organização de vacinas Gavi– afirmam que vinham discutindo formas de trabalhar juntos com mais eficiência há vários anos, mas um enorme recuo nos orçamentos de ajuda financiados pelos governos, liderado pela administração Trump, deu mais urgência às conversas.
“Acho que a crise –e é uma crise, o que estamos enfrentando na saúde global agora– é um impulso para pensarmos seriamente sobre a forma e a estrutura do ecossistema de saúde global”, diz Peter Sands, diretor executivo do Fundo Global, à Reuters.
Gavi e o Fundo Global criaram um grupo de trabalho no outono do ano passado para colaborarem mais estreitamente e explorarem a fusão de algumas funções, com a participação do Mecanismo de Financiamento Global do Banco Mundial para mulheres e meninas. O trabalho do grupo, que está em andamento, não havia sido divulgado anteriormente.
“A ideia não é juntar essas estruturas massivas, a ideia é trabalhar melhor no nível dos países… para facilitar a vida dos países”, afirma Sania Nishtar, diretora executiva da Gavi.
Sands e Nishtar falaram à Reuters durante a reunião anual da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Genebra, na qual cortes orçamentários e eficiências estavam no topo da agenda.
Nishtar deu um exemplo da Gavi na Nigéria ajudando funcionários de saúde locais a fornecer vacinas contra sarampo e rubéola às crianças, enquanto o Fundo Global os apoiava na distribuição de mosquiteiros aos pais para ajudar a prevenir a malária. Anteriormente, os dois grupos poderiam ter mesas separadas, cadeias de suprimentos, dados, pessoal, logística e diretrizes, e até mesmo armazéns. Isso deveria ser feito melhor, disse ela.
Trabalhar juntos na implementação da vacina contra a malária, liderada pela Gavi, junto com outras ferramentas contra a malária, como medicamentos preventivos, que o Fundo Global gerencia, também estimulou uma maior cooperação.
O Fundo Global está tentando arrecadar US$ 18 bilhões para seu trabalho de 2027-2029, e a Gavi está tentando arrecadar US$ 9 bilhões para 2026-2030.
Doadores disseram à Reuters que estão pressionando por eficiências ao considerarem quanto comprometer para os grupos, que salvaram milhões de vidas desde que começaram a trabalhar no início dos anos 2000.
Um porta-voz da Gavi afirma que havia iniciado um esquema de demissão voluntária entre seus 650 funcionários e consultores e estava trabalhando para simplificar as operações. O Fundo Global tem cerca de 1.200 funcionários e recusou-se a comentar sobre possíveis cortes.
Defensores, incluindo Bill Gates, um importante financiador de saúde global por meio de sua fundação, dizem que ele vinha conversando com governos sobre o papel essencial que as duas organizações desempenham.
“Ser um defensor e garantir que o dinheiro seja bem gasto, isso faz parte do meu papel”, disse ele à Reuters no início deste mês.