Pessoas com esclerose múltipla que dependem do fumarato de dimetila (tecfidera) na apresentação de 240 mg enfrentam interrupções no abastecimento.
O medicamento é adquirido pelo Ministério da Saúde e repassado aos estados para dispensação aos pacientes. Segundo o órgão, o fornecedor atrasou a entrega devido a dificuldades na importação da matéria-prima, proveniente da Índia. Sem dizer a data, a pasta diz que nova remessa está prevista para agosto e ressalta que o estoque da apresentação de 120 mg encontra-se regular em todo o país.
Somente em 2025, houve atrasos na dispensação do fumarato de dimetila nas farmácias de alto custo do SUS (Sistema Único de Saúde) pelo menos em dois momentos: no início do ano e em meados de maio, segundo relato da Sumaya Afif, diretora de Relações Governamentais e Advocacy da Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla). Desde então, algumas secretarias permanecem desabastecidas. Em São Paulo, por exemplo, alguns dispensários já normalizaram os estoques, mas ainda há atrasos pontuais.
Na opinião de Sumaya Afif, há um descompasso na relação administrativa, entre a compra e a dispensação.
“O desabastecimento dos medicamentos para o controle da esclerose múltipla, de forma geral, é recorrente, ao longo do ano, quer seja porque tem ruptura no fornecimento da indústria, porque os contratos expiram e as compras têm esse delay administrativo de processo. É uma questão que há muitos anos discutimos com o Ministério da Saúde, de melhorar esse processo de compra para que o paciente não sinta essas transições entre um contrato e outro, ou entre a quebra da patente de um medicamento”, afirma Afif.
“A compra é feita pelo Ministério da Saúde. As secretarias de saúde dos estados informam os quantitativos. E as compras são feitas a partir desses quantitativos. Só que existe um delay tão grande entre a remessa da informação, processar a informação, realizar a compra e chegar de volta nas secretarias que as quantidades mudam. Há novos diagnósticos, os pacientes mudam de tratamento, então a gente sempre tem uns gaps de fornecimento, justamente por conta dessa informação não ser automatizada. O processo é arcaico”, comenta a porta-voz da Abem.
O SUS oferece outras opções terapêuticas para o tratamento da esclerose múltipla, como o betainterferona, teriflunomida, acetato de glatirâmer e azatioprina, que estão disponíveis na rede pública de saúde com estoques regulares. A escolha do tratamento é feita pelo médico, de acordo com o quadro clínico do paciente.
Para Sumaya Afif, a substituição por outro medicamento não resolve o problema de quem utiliza o fumarato de dimetila porque o uso é contínuo.
“Substituir o produto não é simples. Há descontinuidade no tratamento e nesse período o paciente fica suscetível a ter um surto, com a instalação de uma sequela permanente. O melhor caminho para um paciente crônico com esclerose múltipla é evitar que ele tenha novos surtos. E só conseguimos evitar com a continuidade no tratamento”, finaliza Afif.