Com a queda das temperaturas, aumentam os casos de pediculose (infestação por piolhos) em escolas. De acordo com especialistas em dermatologia, pediatria e controle de parasitas ouvidos pela reportagem, isso ocorre devido a fatores comportamentais e ambientais.
Piolhos gostam de calor, por isso procuram lugares quentinhos para se abrigar.
“Com a chegada das temperaturas mais baixas, as crianças passam a usar acessórios como gorros, toucas, cachecóis e casacos com capuz, que muitas vezes são compartilhados entre os colegas, facilitando a transmissão indireta”, afirma a médica dermatologista Thaísa Modesto.
Além disso, atividades em espaços fechados aumentam a proximidade entre as cabeças. A transmissão ocorre por contato direto ou compartilhamento de objetos, uma vez que o parasita não voa nem salta.
“A temperatura não influencia diretamente, mas o maior contato físico, sim”, acrescenta Polyane Saraiva, que com o marido infectologista montou a Dr. Piolho, especializada no tratamento da pediculose.
Riscos físicos e emocionais
O sintoma mais comum é a coceira intensa no couro cabeludo, que pode levar a feridas. “Essas lesões facilitam a entrada de bactérias, podendo evoluir para infecções secundárias como o impetigo, caracterizado por crostas amareladas”, diz Modesto.
O problema também afeta o bem-estar psicológico, podendo causar isolamento social, bullying e baixa autoestima. “Em alguns casos, a coceira persistente atrapalha a qualidade do sono e a concentração nas atividades escolares”, afirma a dermatologista.
Na avaliação da médica Renata de Castro, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a pediculose é um problema de saúde pública.
“É bem comum na infância e não tem relação com falta de higiene. É fundamental que as famílias e as escolas trabalhem juntas com comunicação aberta e sem estigmatizar as crianças afetadas”, diz Castro.
A pediatra reforça que, com tratamento correto, o problema é resolvido rapidamente, na maioria das vezes sem complicação alguma.
Como evitar piolho?
Perceber o problema é o primeiro passo no combate à pediculose. “Muitas vezes, as famílias demoram a identificar os primeiros sinais de manifestação, permitindo que ela se espalhe mais amplamente no ambiente escolar”, diz Modesto.
O médico Leonardo Spagnol Abraham, do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), afirma que é importante evitar o compartilhamento de itens de uso pessoal, como pentes, escovas e bonés.
“Também é recomendado fazer inspeções regulares no couro cabeludo das crianças, procurando por piolhos, lêndeas [ovos] ou mesmo por feridas na cabeça, que podem ser sinais de coceira intensa”, acrescenta Abraham.
As áreas atrás das orelhas e a nuca costumam ser os pontos mais afetados e merecem atenção especial.
Tratamentos e mitos
Os especialistas recomendam nunca usar receitas caseiras. Vinagre, óleo, alho ou maionese, por exemplo, são ineficazes e perigosos. “Podem causar irritações na pele e até reações alérgicas. Também não se deve raspar a cabeça como primeira medida, há tratamentos eficazes e menos drásticos”, diz Abraham.
O protocolo correto envolve aplicação de loção ou xampu específicos, recomendados por um dermatologista ou pediatra, e uso de pente-fino diário por sete dias para remover lêndeas.
É indicado, ainda, lavar roupas e objetos em água com temperatura acima de 55°C ou isolar as peças em sacos plásticos por 14 dias.
Em empresas especializadas é possível usar um aspirador especial. “A Dr. Piolho nasceu de uma dor familiar. Trouxemos o método dos EUA e aperfeiçoamos”, conta Saraiva.
Abraham reforça que tratar o problema com rapidez e informar a escola e os familiares próximos (para que todos possam se cuidar) é essencial. Depois disso, basta manter vigilância contínua para evitar novas infestações.
“Ter piolho não tem relação com falta de higiene. Qualquer pessoa pode ser afetada, independentemente do nível de limpeza”, afirma o médico.