Beber é prejudicial à sua saúde em qualquer idade. Mas, à medida que você envelhece, os riscos se tornam maiores —mesmo com a mesma quantidade de bebida.
O álcool afeta “praticamente todos os sistemas de órgãos do corpo”, incluindo músculos e vasos sanguíneos, sistema digestivo, coração e cérebro, diz Sara Jo Nixon, diretora do Centro de Pesquisa e Educação em Dependência da Universidade da Flórida (EUA). “Ele prejudica particularmente os adultos mais velhos porque já existe algum declínio ou impacto nessas áreas.”
“Há todo um conjunto” de fatores de risco à saúde para bebedores mais velhos, diz Paul Sacco, professor de serviço social da Universidade de Maryland, que estuda o uso de substâncias e envelhecimento. As pessoas podem não perceber que as bebidas que costumavam tolerar bem agora estão afetando seus cérebros e corpos de maneira diferente, diz ele.
O álcool pode causar novos problemas na idade avançada —particularmente aos 65 anos ou mais—, mesmo para bebedores que fazem um consumo leve ou ocasional. Adultos mais velhos tendem a ter menos massa muscular e retêm menos água em seus tecidos, na comparação com pessoas mais jovens, o que pode aumentar a concentração de álcool no sangue, diz Aaron White, consultor sênior do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo. Isso significa que é necessária uma quantidade menor de bebida para que pessoas mais velhas se sintam intoxicadas, aumentando o risco de lesões graves por quedas.
Beber álcool pode aumentar o risco de desenvolver condições como demência, diabetes, câncer, hipertensão e doenças cardíacas. Também pode piorar o quadro de saúde da maioria dos adultos mais velhos que já vivem com doenças crônicas, diz Aryn Phillips, professora assistente de política e administração de saúde da Universidade de Illinois, que estuda álcool e envelhecimento.
As interações medicamentosas também entram em jogo. Misturar álcool com medicamentos prescritos, como aqueles para tratar diabetes ou hipertensão, pode tornar esses remédios menos eficazes ou causar efeitos colaterais prejudiciais como úlceras e batimentos cardíacos irregulares. Benzodiazepínicos, quando combinados com álcool, podem retardar a respiração e atuar como um poderoso sedativo.
Mesmo medicamentos de venda livre podem ser perigosos. A aspirina, que algumas pessoas mais velhas tomam para reduzir o risco de doenças cardiovasculares (apesar dos potenciais efeitos colaterais), pode causar sangramento gastrointestinal grave, para o qual os pacientes já apresentam maior risco, diz Michael Wheeler, professor de ciência da nutrição da Universidade East Carolina que pesquisa doenças hepáticas induzidas pelo álcool.
Alguns adultos mais velhos também afirmam que a ressaca piora com a idade. Embora não haja evidência científica forte que apoie isso, as ressacas podem parecer piores porque o álcool pode exacerbar outros sintomas do envelhecimento, como sono ruim, diz White.
Como reduzir riscos
Especialistas dizem que o uso de álcool entre adultos mais velhos parece ter aumentado nos últimos anos, embora as tendências nacionais sejam difíceis de rastrear fora de pesquisas autorrelatadas. Uma pesquisa federal de 2023 mostrou que 12% dos adultos com 65 anos ou mais —cerca de 7 milhões de pessoas— relataram beber pelo menos quatro ou cinco doses em uma única ocasião no mês anterior.
Após décadas de mensagens contraditórias sobre os danos e benefícios do álcool à saúde, estudos recentes deixaram claro que nenhuma quantidade de álcool é boa para você. Ainda assim, Sacco reconhece que “beber tem significado para as pessoas” e reduzir o consumo ou parar completamente “é uma decisão que você deve tomar em consulta com seu médico e seus entes queridos”.
Mas qual é uma quantidade “segura” de bebida para os mais velhos? Isso é difícil de dizer. Os estudos disponíveis que tentam estabelecer exatamente quanta bebida alcoólica é necessária para aumentar os riscos à saúde em populações mais velhas usam diferentes referências para beber moderadamente, tornando difícil chegar a um consenso. “Mesmo como especialista neste campo, entendo a confusão”, diz Wheeler.
Nixon afirma que adultos com 65 anos ou mais não devem consumir mais de uma dose por dia e não mais de sete por semana. O NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism) não estabelece diretrizes sobre o consumo de álcool, mas os Centros de Controle e Prevenção de Doenças definem que beber moderadamente, para adultos de todas as idades, corresponde a duas doses ou menos por dia para homens, e uma dose ou menos por dia para mulheres.
Todos os especialistas enfatizaram que as pessoas mais velhas devem prestar muita atenção à resposta de seus corpos ao álcool e parar de beber ou reduzir o consumo se sentirem que a bebida os está afetando física ou cognitivamente.
“Se você não está bebendo atualmente, não comece”, diz Phillips. E se você bebe, seja honesto com seu médico sobre seu consumo e faça isso em um ambiente seguro, sabendo que sua tolerância pode não ser a que costumava ser, acrescenta ela.
“A resposta não precisa ser a abstinência”, diz Nixon. Mas o envelhecimento saudável “provavelmente não inclui várias bebidas por dia para a maioria das pessoas”.