A primeira infância, período que vai do nascimento até os seis anos de idade, é uma fase crítica para o desenvolvimento de bebês e crianças pequenas. Esse desenvolvimento é fundamental para a saúde ao longo do ciclo de vida e para o capital humano de um país.
O Brasil possui 18,1 milhões de crianças na primeira infância (8,9% da população) e cerca de 8,1 milhões estão em situação de extrema pobreza.
Além da desigualdade e da pobreza, o desenvolvimento da primeira infância enfrenta desafios relacionados à crise climática. Comparadas com crianças nascidas em 1960, aquelas nascidas em 2020 enfrentarão, em média, duas vezes mais incêndios florestais e quase três vezes mais eventos de seca, inundações, ondas de calor e perda de safra.
Esses são alguns dados publicados no último dia 5 pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI). O estudo mostra que a primeira infância é desproporcionalmente afetada pela crise climática e os efeitos se estendem ao longo do ciclo de vida.
Por exemplo, crianças não transpiram tanto quanto adultos, especialmente no calor extremo, o que limita o resfriamento do corpo. O excesso de calor pode levar à desidratação, insuficiência renal, convulsão, coma ou até mesmo à morte.
Mulheres expostas ao calor extremo podem ter partos prematuros, de baixo peso, ou dar à luz a um natimorto. O calor extremo pode gerar estresse que desencadeia um processo inflamatório, o que está associado a desfechos negativos de saúde na vida adulta, como doenças do coração, demência e diabetes, entre outros.
A temperatura elevada em escolas não climatizadas afeta a concentração e o desempenho escolar. Esse é um problema crítico no Brasil. Além da falta de climatização, 43,5% das escolas não possuem área verde no entorno —esse porcentual sobe para 52,4% entre as que ficam em favelas. Ou seja, tornam-se ilhas de calor, com temperaturas até 5°C superiores às de áreas arborizadas.
O efeito do capital humano é evidente. Uma criança brasileira nascida em 2019 atingia apenas 60% de seu potencial de produtividade aos 18 anos. Falhas na escolaridade e no aprendizado respondem por dois terços dessa perda de capital humano.
A primeira infância também está mais exposta a poluentes do ar. Crianças respiram mais rápido que os adultos, inalando um volume maior de ar em relação ao tamanho do seu corpo. Os sistemas respiratório, reprodutivo, endócrino, imunológico, digestivo e neurológico das crianças, ainda em desenvolvimento, são diretamente afetados.
O Índice de Risco Climático das Crianças (IRCC), publicado pela Unicef, considera a exposição das crianças a choques climáticos e ambientais, como poluição do ar e ondas de calor, bem como a vulnerabilidade a esses choques, com base no acesso a serviços essenciais. O Brasil é classificado como um país de IRCC médio. Entretanto, no que se refere à exposição a choques climáticos, o país apresenta o risco mais elevado.
O futuro do Brasil depende do investimento feito na primeira infância. Esse investimento precisa ser sensível à crise climática. Estará a primeira infância no centro das discussões da COP30?
Como disse Nelson Mandela, “não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como ela trata as suas crianças”.
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