Um projeto que reúne diferentes hospitais privados, laboratórios e operadoras de plano de saúde pretende integrar as informações dos pacientes dessas instituições.
Liderado pelo InovaHC, núcleo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o projeto busca testar a interoperabilidade, que é a integração e o compartilhamento de dados dos pacientes —com autorização dos usuários—, permitindo o acesso de profissionais de diferentes instituições às informações.
A ideia, afirmam, é facilitar o atendimento —o paciente não precisará informar sobre alergias, histórico de cirurgias ou outras doenças, por exemplo, agilizando o processo.
Os dados já existem porque a maioria dos hospitais e laboratórios possui um sistema interno de informações. Para integrá-los, contudo, as instituições precisam seguir os mesmos protocolos.
O projeto diz se inspirar no modelo do mercado financeiro, que utiliza o open finance (sistema aberto de compartilhamento de dados financeiros) para permitir que bancos e instituições troquem informações com a autorização do cliente.
O InovaHC afirma que, para o paciente, haveria redução de exames desnecessários e acesso mais rápido a informações críticas. Para os médicos, melhoraria a tomada de decisão e reduziria erros.
“A gente tem muitas expectativas de que isso possa reduzir custo ou aumentar a segurança nos tratamentos e outros benefícios que a gente vai aprender ao longo do tempo”, diz Marco Bego, diretor do InovaHC. A ideia é que o primeiro teste comece em 90 dias.
Bego cita como exemplo o atendimento do HC em comunidades indígenas do Alto Xingu, onde pacientes perdiam laudos ao serem transferidos para centros especializados.
“Se eu não começar a trocar dados, não adianta eu ficar levando eventos para mais longe se, quando a pessoa precisa de um atendimento que é mais urgente, mais crítico, ela tem que entrar na fila de novo.”
O projeto, diz o InovaHC, começou cerca de três anos atrás, com a organização de informações.
Outros atores do setor que produzem dados, como hospitais, laboratórios diagnósticos e redes de farmácias, também participam do projeto.
Entre os participantes que estão na fase final de negociação para o primeiro teste do produto estão os hospitais Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, além de Santas Casas, laboratórios Fleury, Dasa e Sabin, redes de farmácias Raia e Drogasil e a Bradesco Saúde.
Para Daniel Greca, diretor de inovação e saúde populacional do Sírio-Libanês e membro do comitê executivo, o projeto é inovador e diferente e requer testes para entender como deve funcionar na prática.
“A partir do momento em que você consegue conectar tudo isso, as informações fluindo devidamente protegidas, lógico, a gente consegue ter um entendimento melhor do que acontece no sistema de saúde e na jornada do paciente”, afirma.
O projeto é feito com o acompanhamento do Ministério da Saúde, especificamente de Ana Estela Haddad, secretária de informação e saúde digital da pasta. A expectativa é que haja também uma troca de dados entre os sistemas público e privado.
O governo já utiliza uma política de interoperabilidade no SUS (Sistema Único de Saúde) —a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) armazena dados de municípios, estados e instituições federais nos padrões da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Sobre a proteção das informações, Bego, do InovaHC, diz que que o projeto “não quer, de maneira alguma, fugir do que já é consenso”. “A LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais] é uma lei, e eu tenho que segui-la.”
Em documento de 2024, o Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) afirmou que, embora a integração de dados possa ser utilizada para potencializar a gestão e o acesso à saúde, “o compartilhamento de dados também pode resultar em abusividades e discriminações” se as informações forem usadas para fins não relacionados a assistência ou interesse público.