A farmacêutica suíça Novartis anunciou nesta terça-feira (8) a aprovação do primeiro medicamento contra malária específico para recém-nascidos e bebês, uma nova arma no combate à doença que mais mata crianças menores de cinco anos.
A empresa recebeu a aprovação da agência reguladora suíça Swissmedic para o remédio, chamado Coartem, destinado a tratar bebês com menos de 4,5 kg. Oito países africanos onde a malária é endêmica, incluindo Nigéria, Tanzânia e Quênia, já participam do processo e devem conceder aprovações rápidas em breve.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), são registrados por ano 263 milhões de casos e quase 600 mil mortes por malária, com a grande maioria ocorrendo na África. Crianças menores de cinco anos representam mais de três quartos das vítimas fatais.
Atualmente, bebês com menos de 4,5 kg recebem medicamentos desenvolvidos para crianças mais velhas, o que, segundo a Novartis, cria uma “lacuna de tratamento” e aumenta os riscos de overdose e toxicidade. A empresa estima que cerca de 30 milhões de bebês nascem anualmente em áreas de risco de malária na África.
A farmacêutica afirma que planeja oferecer o medicamento sem fins lucrativos para melhorar o acesso em regiões endêmicas. Os esforços globais contra a malária sofrem com cortes em ajuda internacional, enquanto a área de atuação do mosquito Anopheles, transmissor da doença, deve aumentar devido às mudanças climáticas.
“Por mais de três décadas, mantivemos o curso na luta contra a malária, trabalhando incansavelmente para entregar avanços científicos onde são mais necessários”, disse Vas Narasimhan, CEO da Novartis. “Com nossos parceiros, orgulhamo-nos de ter desenvolvido o primeiro tratamento clinicamente comprovado para recém-nascidos e bebês, garantindo que até os mais pequenos e vulneráveis recebam o cuidado que merecem.”
O novo tratamento foi desenvolvido em parceria com a organização sem fins lucrativos Medicines for Malaria Venture (MMV). O Coartem é um antimalárico já estabelecido, baseado na artemisinina, um extrato da planta Artemisia annua, usada há muito tempo na medicina tradicional chinesa. Desde 1999, a Novartis já distribui mais de 1,1 bilhão de tratamentos antimalária, quase metade para bebês com pelo menos 5 kg.
Vacinas mais recentes contra a malária, produzidas por outros laboratórios e implementadas com apoio de instituições de saúde internacionais, não são autorizadas para os bebês mais novos.
“Os tratamentos disponíveis só foram testados adequadamente em crianças a partir de seis meses”, diz Umberto D’Alessandro, professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine. “Isso é importante porque recém-nascidos e bebês pequenos têm função hepática imatura e metabolizam alguns medicamentos de forma diferente, então a dose para crianças mais velhas pode não ser adequada.”
Os planos dos EUA de reduzir drasticamente os gastos com uma campanha emblemática contra a malária ameaçam causar milhões de casos adicionais e dezenas de milhares de mortes extras na África neste ano, segundo projeções publicadas na revista Lancet no mês passado.
A administração de Donald Trump propõe cortar quase pela metade o orçamento de uma iniciativa presidencial contra a malária, lançada há 20 anos sob George W. Bush.