O órgão regulador de medicamentos do Reino Unido (MHRA, de Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency) emitiu um alerta sobre a eficácia de contraceptivos orais quando o paciente também está utilizando medicamentos análogos do GLP-1, muito usados no tratamento de obesidade, recomendando a utilização de outros métodos para prevenir a gravidez.
O alerta vale para medicamentos como Wegovy, Mounjaro, Saxenda, Victoza, Ozempic e Rybelsus.
Essa classe de fármacos modula os mecanismos naturais de saciedade e regulação metabólica, contribuindo para perda de peso.
Os medicamentos GLP-1 fazem o estômago esvaziar mais devagar, e remédios eventualmente ingeridos se mantêm por mais tempo na região estomacal. Com isso, a absorção da pílula contraceptiva oral pode ser atrasada ou reduzida, diminuindo sua eficácia, especialmente em mulheres com sobrepeso ou obesidade.
O endocrinologista Renan Montenegro Jr., presidente do Departamento de Lipodiatrofia da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), explica que, nas primeiras semanas de tratamento, quando a redução do trânsito digestivo é mais acentuada, náuseas e vômitos são mais frequentes, podendo interferir ainda mais na absorção de contraceptivos orais.
Para evitar gravidez indesejada, os métodos contraceptivos mais recomendados são os dispositivos intrauterinos hormonais (DIU), afirma Rodrigo Rosa, ginecologista obstetra especialista em reprodução humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).
“Ambos são altamente eficazes, seguros e não sofrem interferência de medicamentos que agem no receptor GLP-1, oferecendo uma proteção mais confiável”, explica Rosa.
Em posicionamento enviado à Folha, a Novo Nordisk, que produz e comercializa os medicamentos Wegovy, Ozempic e Rybelsus, afirma que, “embora a semaglutida provoque um retardo no esvaziamento gástrico, em estudos de farmacologia clínica, a semaglutida em estado de equilíbrio (steady state) não afetou de forma clinicamente relevante a absorção de medicamentos orais —incluindo os anticoncepcionais orais etinilestradiol e levonorgestrel”.
Já a Eli Lilly do Brasil, responsável pelo Mounjaro, afirma que está na bula do medicamento que ele “atrasa o esvaziamento do estômago e, por isso, tem o potencial de afetar a absorção de medicamentos orais administrados ao mesmo tempo” e não é indicado para pessoas grávidas sem orientação médica.
A perda de peso significativa observada com o uso desses medicamentos pode aumentar as chances de gravidez principalmente em pacientes com sobrepeso ou obesidade.
“Mulheres com obesidade têm maior chance de ter ciclos anovulatórios e infertilidade. A síndrome dos ovários micropolicísticos (SOP) é uma causa comum de infertilidade, sendo mais prevalente em mulheres com sobrepeso ou obesidade, afirma o endocrinologista.
Esses medicamentos também não são indicados para gestantes, e seu uso deve ser interrompido em caso de gravidez.
“Até o momento, não há relatos de malformações fetais ou efeitos graves em bebês de mulheres que engravidaram usando esses medicamentos. No entanto, como são tratamentos relativamente novos, ainda não existem estudos robustos sobre os efeitos durante a gestação”, completa.
Na mesma linha, a Novo Nordisk afirma que “há dados limitados sobre o uso de semaglutida em mulheres grávidas que permitam determinar um risco associado ao medicamento em relação a desfechos maternos e fetais adversos. Os produtos à base de semaglutida devem ser descontinuados pelo menos dois meses antes de uma gravidez planejada, devido ao longo período de eliminação da substância”. Tais informações também estão disponíveis nas bulas dos fármacos com semaglutida.