Quando a maioria das pessoas pensa em transtorno obsessivo-compulsivo, é comum imaginarem comportamentos que viram na TV —como lavar as mãos repetidamente, ligar e desligar luzes e organizar itens pequenos meticulosamente várias vezes.
Mas o transtorno se manifesta de muitas outras formas. Alguns pacientes ficam obcecados com a ideia de que podem machucar alguém, enquanto outros se fixam em certos aspectos de relacionamentos pessoais.
A comediante Maria Bamford, por exemplo, chamou seu TOC de “síndrome dos pensamentos indesejados”. No “The Late Show With Stephen Colbert”, ela compartilhou uma história sobre como não conseguia parar de ter pensamentos horríveis sobre seus familiares.
Nas mídias sociais, as pessoas descrevem muitos tipos de obsessões e compulsões: ” TOC de relacionamento”, “TOC de orientação sexual” ou “TOC de contaminação emocional”. Esses não são diagnósticos separados, mas sim expressões diferentes do mesmo transtorno —assim como pessoas com fobias podem sofrer de medos diferentes, explica Carolyn Rodriguez, especialista no transtorno e professora de psiquiatria e ciências comportamentais na Faculdade de Medicina de Stanford, nos Estados Unidos.
Entender essas distinções pode ajudar os médicos a elaborar um plano de tratamento preciso, acrescenta. E esses são sinais importantes para o público que, caso contrário, podem sofrer do transtorno sem ao menos saber, diz Rodriguez.
Pessoas com medo de machucar os outros podem pensar: “Talvez eu seja uma assassina”, afirma ela. “Se eu contar essas coisas para alguém, vou para a cadeia.”
Entenda abaixo as diversas formas de manifestação do TOC.
Primeiro, o que é TOC?
O TOC envolve um conjunto de obsessões e compulsões que causam grande sofrimento e afetam a qualidade de vida das pessoas.
Obsessões podem incluir pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos indesejados que dominam a mente.
Compulsões são ações repetitivas que as pessoas realizam em resposta às suas obsessões para tentar se sentir melhor.
Esses sintomas de TOC podem consumir tempo, durando pelo menos uma hora por dia, de acordo com o manual de diagnóstico usado por profissionais de saúde mental.
Se alguém se preocupa excessivamente com a possibilidade de incendiar a casa ao deixar o fogão ligado acidentalmente, por exemplo, ele pode verificar várias vezes para ter certeza de que os botões estão na posição desligado.
Estima-se que cerca de 2,3% dos adultos dos EUA já tiveram TOC em algum momento da vida, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental do país. As mulheres têm maior probabilidade de receber um diagnóstico do que os homens.
Mais pesquisas são necessárias para entender melhor as origens do TOC, mas acredita-se ter causas genéticas e ambientais.
Quais são os diferentes tipos de TOC?
Embora todos os portadores do transtorno tenham obsessões e compulsões, “o TOC entre os pacientes quase nunca é exatamente o mesmo“, afirma Jeremy Tyler, codiretor de psiquiatria ambulatorial da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia.
Pessoas com TOC podem divergir em muitos aspectos, incluindo a presença ou não de tiques (movimentos ou vocalizações involuntários e repetitivos). Os pacientes também variam em seu grau de “insight”, que é o nível de consciência de estar doente, bem como em como se sentem quando seus sintomas são desencadeados.
Outra diferença entre os pacientes é o conteúdo de suas obsessões e compulsões.
Preocupações com contaminação, necessidade de simetria ou ordem, pensamentos proibidos ou tabus e medo de prejudicar os outros ou a si mesmo são temas comuns, afirma Helen Blair Simpson, professora de psiquiatria e pesquisadora de TOC na Universidade Columbia.
A International OCD Foundation também lista outros temas, incluindo pensamentos sexuais; fixações em relacionamentos; preocupações relacionadas à responsabilidade, como ser responsável por algo terrível acontecer; ou medos relacionados ao perfeccionismo, como demonstrar preocupação excessiva em cometer erros.
Pacientes e terapeutas rotularam alguns desses temas em fóruns on-line, cunhando termos como “TOC de simetria e ordem” e “TOC de perfeccionismo”. Criar nomes para diferentes expressões do transtorno pode ajudar os pacientes a se sentirem menos sozinhos, explica Rodriguez.
Muitas vezes, mais de um tema pode estar presente ao mesmo tempo, e o conteúdo da obsessão ou compulsão de uma pessoa pode mudar ao longo do curso da doença, afirmam os especialistas.
Como é o tratamento do TOC?
O TOC é geralmente tratado com antidepressivos, terapia de exposição e prevenção de resposta, ou ambos. A terapia envolve pedir aos pacientes que vivenciem seu estresse e ansiedade sem realizar uma compulsão em resposta.
Os terapeutas também incentivarão os pacientes a permitir que suas obsessões venham à tona, em vez de tentar continuamente afastá-las.
É importante que os profissionais conheçam o “tipo” do TOC de alguém ao realizar a terapia de exposição e prevenção de resposta porque os clínicos podem garantir que os pacientes estão sendo expostos aos tipos exatos de situações que despertam suas obsessões, observa Tyler.
“Eu como comida do chão com as pessoas; seguro facas com as pessoas”, diz ele. Pode parecer “louco”, acrescenta, mas, no processo, os pacientes aprendem que aquilo que mais temem provavelmente não vai acontecer.