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A desinformação circula solta nas redes sociais. Quando falamos sobre saúde, ela é muito mais presente do que a informação baseada em ciência.
Há estratégias que fazem com que ela viralize. Em geral, são formas rápidas e simples de resolver problemas complexos (“quer emagrecer? Tome um shot de [insira aqui um alimento extremamente ácido] todo dia”).
Ou ainda o uso de autoridades para embasar a informação falsa. Afinal, quem não acredita num estudo da Universidade Harvard sobre alimentação? Ou num médico oncologista falando sobre a cura do câncer?
Vamos falar sobre mitos que circulam nas redes sociais. Conversei com a bióloga Mari Krüger, que faz divulgação científica na internet, e ela me listou seis deles. Veja:
Frio causa gripe ou resfriado
Gripes e resfriados são causados por vírus. “É mais um desses mitos que a gente cresceu ouvindo da nossa mãe e das nossas avós”, afirma Krüger.
Mas há um motivo para essa ideia ser tão difundida: no frio, as pessoas ficam mais doentes. A causa não é o frio em si, mas os hábitos que adotamos por causa dele.
No inverno, a tendência é ficar em locais fechados, sem ventilação, o que favorece a circulação dos vírus. Lembra da pandemia de Covid-19, quando a orientação era buscar locais abertos, ventilados e com distanciamento social?
Há mais um fator: é nessa época do ano em que casacos e cobertas saem dos armários —e, muitas vezes, não são lavados antes do uso. Isso aumenta a incidência de alergias e rinites, que muitas vezes se confundem com gripes e resfriados.
Então, não é o frio que causa doenças, mas os hábitos do inverno que facilitam o contato com os vírus. Inclusive, andar descalço e tomar sorvete também não deixam ninguém doente.
Suco verde faz detox
“É um suco super nutritivo, mas não vai desintoxicar ninguém”, explica a bióloga.
A notícia boa é que não é preciso que algo desintoxique o corpo, pois ele faz isso sozinho. Essa é a função do fígado, que se junta com outros órgãos, como os rins e os pulmões, para criar um sistema que limpa as toxinas do organismo e mantém somente o que é necessário.
O “suco detox” pode ser uma forma interessante de consumir vegetais, principalmente para quem tem dificuldade em variar a alimentação (dê preferência para a versão sem coar, que mantém as fibras). Mas só.
O mesmo vale para outros produtos. “O mais importante é a gente saber que não precisa de nada que nos desintoxique […] Muitas pessoas que usam isso pra nos vender protocolos, produtos milagrosos e enganosos que prometem fazer detox”, afirma Krüger.
Preciso beber três litros de água por dia
Daria para dizer que esse é um mito do bem. Ele é geralmente difundido como um incentivo para que as pessoas bebam mais água.
O cálculo indicado por especialistas é de 35 ml por cada quilo. Então, se uma pessoa pesa 55 kg, ela precisa de 1.925 ml de água diariamente.
Por isso, a recomendação é individual. E vale ficar atento para dias muito quentes, em que se perde mais água por meio do suor. O ideal é beber um pouco mais do que você beberia no inverno.
Ainda há alimentos muito ricos em água, como algumas frutas (melão, melancia…). Tudo isso é computado.
“Observe a cor da sua urina. Ela é um ótimo indicativo”, orienta Krüger. Se tem cor escura e cheiro forte (assim como acontece na primeira ida ao banheiro do dia), é um sinal de que você bebe menos água do que deveria. O ideal seria uma cor amarelo claro.
Posso contrair ISTs na academia
Não é à toa que as ISTs têm esse nome: infecções sexualmente transmissíveis. Grande parte das doenças precisa do contato de mucosas ou de um objeto compartilhado, explica a bióloga.
“Para contrair uma IST na academia, eu brinco que a gente teria que usar um equipamento pelado logo depois que outra pessoa, também pelada, usou”, diz.
Higienizar os aparelhos antes de usar é uma ótima prática para evitar o contato com o suor alheio, não evitar ISTs. A prevenção dessas infecções é feita com uso de preservativo durante a relação sexual e exames de rotina.
Vinagre é eficiente para limpeza
Ele até tem uma função de neutralizar odores, mas não higieniza, ou seja, não age para eliminar microrganismos.
Então, se você usa vinagre para higienizar frutas, verduras e legumes, é importante mudar. O recomendado é usar hipoclorito de sódio —você pode obtê-lo gratuitamente pelo SUS em UBS (Unidades Básicas de Saúde) ou usar água sanitária.
“Tem que ficar atento se a água sanitária é pura. Sem perfume ou alvejante junto. A indicação pra lavagem de alimentos vem no rótulo mesmo, com a diluição correta também”, orienta a bióloga.
Não se deve sentar no vaso um de banheiro público
Se você é mulher, provavelmente foi orientada a não encostar no vaso sanitário ao fazer xixi e ficar em uma posição de isometria, com os joelhos dobrados, fazendo força nas coxas.
Mas fazer isso pode ser muito mais arriscado à saúde do que somente sentar. Isso porque, nessa posição, não é possível relaxar totalmente a bexiga.
Nessa situação, fica mais difícil esvaziar a bexiga por completo e aumenta o risco de uma infecção urinária. Além disso, a longo prazo, a prática pode favorecer escapes de urina, de acordo com Krüger.
“Fora que você deixa o banheiro sujo para o próximo. Se todo mundo sentar, ninguém vai precisar não sentar”, afirma.
Você pode limpar a tampa do vaso, passar um papel higiênico ou lencinho. Mas, de forma geral, se você não estiver com algum machucado, a pele funciona como uma barreira eficiente contra bactérias.
Dica final: desconfie de profissionais que trazem soluções generalistas e simples para problemas complexos. Se ficar em dúvida sobre alguma informação que leu na internet, busque fontes confiáveis, como entidades médicas e instituições sérias.
E um convite: a bióloga Mari Krüger vai se juntar à biomédica Jaqueline Goes, que participou do sequenciamento genético do vírus da Covid, em uma palestra no Geração Senac para discutir ciência e comunicação. O evento é gratuito e acontece nos dias 23 e 24 de maio no Pavilhão da Bienal de São Paulo, no Parque Ibirapuera (saiba mais aqui).