Página Inicial Política Sindicato do IBGE afirma que novo mapa-múndi “compromete a credibilidade“

Sindicato do IBGE afirma que novo mapa-múndi “compromete a credibilidade“

Publicado pela Redação

A Associação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN) se manifestou sobre a nova versão do mapa-múndi lançada pelo instituto na última quarta-feira (7).

Segundo uma publicação feita nas redes sociais, a iniciativa, ao invés de informar e representar a realidade, distorce e cria uma “encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente”.

Ainda de acordo com a associação sindical, o país enfrenta problemas sociais, como a desigualdade estrutural, carência educacional, insegurança, perda de competitividade e, afirmando que esses problemas não podem ser combatidos com “ilusões gráficas”.

O grupo também criticou a gestão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alegando que “em vez de proteger a função pública do Instituto, tem insistido em empurrá-lo para o campo da imagem, da alegoria, da ação promocional”.

A ASSIBGE-SN é responsável pelos direitos e interesses dos funcionários do IBGE. A nota de repúdio foi publicada pelo Núclero Chile da Associação, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

Confira a íntegra da nota:

Manifesto pela Integridade Técnica do IBGE

Em defesa da ciência, da razão institucional e do Brasil real

A Coordenação do Núcleo Sindical Chile – ASSIBGE/SN que representa os trabalhadores da base do Complexo Chile/Horto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), manifesta, com base em compromisso constitucional, técnico e ético, repúdio à divulgação oficial do mapa-múndi invertido, em que o Brasil aparece artificialmente no topo e ao centro do mundo — um gesto sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais.

Trata-se de uma iniciativa que, em vez de informar, distorce; em vez de representar a realidade com rigor, cria uma encenação simbólica que compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente.

O que se vende como símbolo de autoestima nacional esconde um paradoxo desconfortável. O Brasil ainda enfrenta graves mazelas sociais: desigualdade estrutural, carências educacionais, insegurança, informalidade, perda de competitividade.

A presidência da República, com a reconhecida coragem e senso de responsabilidade que sua trajetória comprova, tem enfrentado essas realidades de peito aberto, sem disfarces, promovendo reconstrução institucional, investimento social e resgate da dignidade pública.

Mas não se combate a realidade com ilusões gráficas. Colocar o Brasil no centro do mapa não resolve nada — e pode, inclusive, enfraquecer a seriedade de um projeto nacional que justamente busca enfrentar, e não ocultar, os desafios que temos pela frente.

Esse não é um caso isolado. Em janeiro de 2025, a publicação Brasil em Números 2024 — uma das mais tradicionais do IBGE — foi lançada com um prefácio assinado pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, exaltando realizações regionais em um documento historicamente técnico e impessoal.

Servidores alertaram para o desvio institucional. A justificativa da gestão — de que haveria apoio financeiro envolvido — foi negada publicamente por entidades mencionadas, como a Sudene.

Esse episódio revelou o mesmo padrão de conduta presente na adoção do mapa invertido: uso político, simbólico e personalista de um órgão técnico de Estado.

A responsabilidade por esses desvios recai inteiramente sobre a atual gestão do IBGE, que, em vez de proteger a função pública do Instituto, tem insistido em empurrá-lo para o campo da imagem, da alegoria, da ação promocional.

Não há desculpa técnica, jurídica ou pedagógica para esse tipo de prática.

Nenhum país se torna mais respeitado por estar no centro de um papel. A grandeza internacional se conquista com políticas públicas consistentes, instituições confiáveis e dados transparentes — não com encenações visuais.

Machado de Assis descreveu, com precisão, o vício de parecer antes de ser. De exibir a forma no lugar do conteúdo. De buscar na estética a glória que só a realidade poderia justificar.

Transformar a cartografia oficial do Estado em gesto de vaidade simbólica é oferecer à população um consolo ilustrado, quando o que ela precisa é verdade, responsabilidade e seriedade.

Além do problema ético, os atos recentes violam três princípios constitucionais da administração pública:

* Finalidade administrativa – o IBGE existe para produzir informação técnica e objetiva, não material simbólico ou político;

* Impessoalidade – a instituição serve à sociedade, não a narrativas de governantes ou gestões;

* Moralidade administrativa – recursos públicos devem ser usados com integridade e respeito à função estatal.

Também se fere o princípio da eficiência, pois a adoção de padrões gráficos não reconhecidos confunde a educação, prejudica comparações internacionais e deslegitima produtos oficiais.

A gestão atual do IBGE vem falhando, repetidamente, em proteger o valor técnico e a integridade institucional do órgão.

O IBGE não pertence a pessoas. Pertence ao Estado, à sociedade e ao futuro.

O Brasil não precisa estar no centro do papel. Precisa estar no centro da honestidade técnica, da responsabilidade pública e do compromisso com a verdade.

Por isso dizemos, com serenidade firme: não ao mapa da vaidade. Sim à ciência, à integridade e à maturidade institucional.

Coordenação do Núcleo Chile

Novo mapa-múndi

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou uma nova versão do mapa-múndi: invertido e com o Brasil no centro. A imagem do mapa foi publicada pelo presidente do IBGE, Marcio Pochmann, nas redes sociais na última quarta-feira (7).

“O IBGE lançou um novo mapa-múndi com o Brasil no centro, contendo o Sul na parte superior do mapa, também identificado por mapa invertido”, afirmou Pochmann em publicação no X (antigo Twitter)

Segundo ele, “a novidade busca ressaltar a posição atual de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais como no BRICS e Mercosul e na realização da COP 30 no ano de 2025”.

A COP30 está marcada para novembro e será sediada pela capital do Pará, Belém.

Ainda em 2024, o instituto havia divulgado um novo Atlas Geográfico Escolar com o Brasil no centro do mapa-múndi, que gerou controvérsia nas redes sociais.

(Com informações de Laura Molfese, da CNN)

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