Página Inicial Saúde Síndrome Sjögren: entenda a doença rara de Fernanda Keulla – 09/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Síndrome Sjögren: entenda a doença rara de Fernanda Keulla – 09/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

Publicado pela Redação

Fernanda Keulla, 39, campeã do BBB 13 e influenciadora, revelou que convive com a síndrome de Sjögren, doença autoimune, rara e sem cura. Nas redes sociais, ela relatou cansaço e dores frequentes, mas disse que só identificou a condição recentemente. Especialistas afirmam que o diagnóstico precoce e o acompanhamento constante ajudam a controlar os sintomas e a evolução da doença.

Segundo a reumatologista Cristina Ellert Salomão, especialista em dor, a síndrome de Sjögren é mais comum em mulheres, especialmente a partir dos 40 anos, mas pode acometer também homens e pessoas de outras faixas etárias.

“É uma doença imunológica, em que o nosso sistema imunológico passa a atacar partes do próprio organismo”, explica. Ela destaca que se trata de uma condição multifacetada: “Um paciente é diferente do outro. A doença tem muitas manifestações distintas”.

O sintoma mais frequente é a secura nos olhos e na boca. Isso ocorre porque os linfócitos (células de defesa) atacam as glândulas responsáveis por produzir lágrimas e saliva, reduzindo a produção desses fluidos. O paciente pode sentir ardência, coceira, desconforto à luz e até desenvolver ulcerações de córnea em casos mais graves. A boca seca, por sua vez, pode causar dificuldade para engolir alimentos secos, aumento de cáries, gengivite, sapinho (monilíase oral) e infecções.

Além da secura ocular e oral, a síndrome também pode causar ressecamento da pele, nariz e região vaginal. A reumatologista Valéria Valim, membro da Comissão Científica da Doença de Sjögren da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia), destaca que esse sintoma, apesar de característico da doença, muitas vezes é negligenciado tanto por pacientes quanto por médicos, o que contribui para o atraso no diagnóstico.

O quadro pode levar a dor, desconforto durante a relação sexual e queda da libido. As glândulas salivares, como as parótidas e submandibulares, também podem inchar e ficar visivelmente aumentadas, como em casos de caxumba.

Outros sintomas incluem fadiga intensa, dores nas articulações (artralgias), inflamação articular (artrites) e manifestações em órgãos vitais, como pulmões, rins, fígado, cérebro, vasos e coração.

“No pulmão, a pessoa pode ter desde tosse seca e pigarro até uma fibrose pulmonar. Já no sistema neurológico, há desde dormência nas extremidades até perda de memória, foco e concentração”, relata Salomão.

O comprometimento pode levar ainda a inflamações no músculo cardíaco, nas válvulas ou no pericárdio (membrana que envolve o coração), além de aumentar o risco de doenças cardiovasculares.

Em alguns pacientes, a síndrome aparece sozinha (forma primária). Em outros, surge associada a doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide ou esclerose sistêmica.

A causa exata da síndrome ainda é desconhecida. “Ela pode surgir de forma espontânea, sem um gatilho claro, quando o sistema imunológico começa a atacar, por engano, partes do próprio corpo”, explica a médica.

Diagnóstico e tratamento

De acordo com a médica, o diagnóstico da síndrome de Sjögren é feito com base em um conjunto de sinais, sintomas e exames. Não existe um único teste definitivo, como no caso do diabetes, por exemplo. O ponto de partida costuma ser a queixa de secura nos olhos e na boca. Exames oftalmológicos ajudam a verificar a produção lacrimal, e testes específicos podem avaliar o funcionamento das glândulas salivares. Além disso, exames de sangue detectam autoanticorpos característicos da doença.

“Contudo, cerca de 30% dos pacientes não apresentam esses anticorpos. Nesses casos, o diagnóstico depende de uma biópsia da glândula salivar”, destaca Valim.

Ainda não há cura para a síndrome, mas há tratamentos que aliviam os sintomas e evitam complicações. Pacientes com manifestações leves podem se beneficiar apenas do uso de lágrimas artificiais e substitutos de saliva. Já nos casos mais graves, podem ser necessários medicamentos anti-inflamatórios, corticoides ou imunossupressores.

O tratamento é individualizado e depende do grau de comprometimento. Segundo a especialista, embora muitas pessoas consigam levar uma vida relativamente normal com acompanhamento médico, outras, com formas mais agressivas e multisistêmicas da doença, podem ter a qualidade de vida comprometida.

Para Valim, um dos maiores desafios é o tempo até o diagnóstico. Os sintomas da doença podem levar o paciente a procurar diferentes especialistas, como oftalmologistas, dentistas, ginecologistas, pneumologistas ou neurologistas, antes de receber o diagnóstico correto. Segundo a médica, o atraso no diagnóstico chega a oito anos, tanto no Brasil quanto em outros países.

Outro risco importante da doença é o aumento da chance de desenvolver linfoma, um tipo de câncer que pode estar associado à síndrome de Sjögren, especialmente em quadros mais graves ou com inflamação persistente das glândulas.

Valim estima que de 5% a 10% dos pacientes desenvolvem linfoma, sendo essa, ao lado do acometimento pulmonar, uma das principais causas de mortalidade associada à doença.

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