Associações médicas de endocrinologia, ginecologia e cardiologia publicaram uma nota conjunta alertando sobre o uso de testosterona em mulheres.
As SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e o Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) ressaltam que a única indicação clinicamente reconhecida e respaldada pelas diretrizes internacionais e nacionais para o uso terapêutico da testosterona em mulheres é o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa.
Ainda assim, somente após a exclusão de outras causas, como depressão, fatores psicossociais e hipoestrogenismo. A testosterona, como afirmaram as entidades, não tem queda abrupta na menopausa e seus níveis caem progressivamente a partir dos 30 anos, com redução discreta e gradual.
Além disso, as associações reforçam que não existe nenhuma formulação do hormônio aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para terapia com testosterona em mulheres.
As entidades médicas afirmaram que a terapia, quando indicada, deve ser feita com formulações de qualidade comprovada.
“Hormônios divulgados como sendo bioidênticos, biodisponíveis ou naturais constituem, na realidade, apenas estratégias de marketing para comercialização de formas manipuladas por farmácias magistrais e têm riscos semelhantes aos hormônios sintéticos”, disseram.
A reposição de testosterona se tornou popular nos últimos tempos. No ano passado, a cantora e ex-BBB Juliette, 35, se envolveu em comentários polêmicos ao mostrar a aplicação de um creme manipulado nos pulsos. Ela explicou aos seus seguidores que estava fazendo acompanhamento médico, mas levantou a questão de quando e para quem é indicada a reposição do hormônio.
A testosterona é comumente associada à natureza masculina, mas também está presente no corpo das mulheres. Ela pode desempenhar funções importantes, como influenciar na função dos ovários, no desejo sexual, no metabolismo e até na cognição.
Apesar disso, em meio ao entusiasmo cultural pela testosterona —e a um debate recente sobre ajudar as mulheres a se sentirem bem na transição e após a menopausa— nuances sobre o medicamento estão se perdendo, afirmam especialistas.
Enquanto décadas de evidências sugerem que doses baixas de testosterona podem aumentar o desejo sexual de algumas mulheres com poucos efeitos colaterais, alguns defensores estão exagerando na capacidade do medicamento de melhorar o humor, cognição, força muscular e saúde do coração e minimizando seus riscos potenciais.
As Sociedades reforçaram ainda que não é recomendado o uso de implantes subcutâneos ou formulações manipuladas de testosterona devido à ausência do controle de qualidade. Tal prescrição, fora da única indicação reconhecida, se configura como prática off-label sem respaldo científico. Entre os efeitos adversos citados na nota, estão: acne, alopecia, alterações cardiovasculares e até dependência psíquica.
As entidades afirmaram que “a abordagem da saúde sexual da mulher deve ser baseada na ética e na ciência, evitando reducionismos hormonais”.
Para a menopausa, a terapia hormonal continua baseada no uso dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, afirmam as entidades.
Reforçam também que não existe respaldo científico para uso de testosterona com fins estéticos, para aumento de massa magra, emagrecimento, melhora de disposição ou efeitos antienvelhecimento. “Alertamos para os riscos da prescrição hormonal sem indicação formal, prática que pode trazer mais danos que benefícios à saúde da mulher.”
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