O governo britânico “está acompanhando de perto” o modelo brasileiro dos agentes comunitários de saúde, estudando aplicar algo semelhante no NHS, o sistema de saúde do Reino Unido, segundo reportagem publicada pelo jornal The Telegraph na segunda-feira (07).
A reportagem, assinada por Laura Donnelly e Claudia Marquis, pergunta no título: “O NHS está perto do colapso —um projeto radical das favelas brasileiras poderia salvá-lo?”.
De acordo com o jornal, o governo britânico está fazendo um projeto-piloto inspirado no modelo brasileiro em Pimlico, um bairro de Londres. O projeto deve ser ampliado depois para 25 regiões na Inglaterra.
No Brasil, os agentes comunitários de saúde fazem parte da chamada Estratégia Saúde da Família, sob o guarda-chuva do SUS (Sistema Único de Saúde).
Segundo a reportagem do jornal britânico, os agentes comunitários propiciaram “melhorias drásticas” em indicadores de saúde no Brasil.
“Poucos meses após vencer a eleição, o governo [do partido] trabalhista ficou bastante interessado na Estratégia Saúde da Família brasileira, enviando representantes da área de saúde ao Rio para assinar uma carta de intenções sobre a cooperação em saúde entre o Reino Unido e o Brasil”, diz um trecho da reportagem.
Ainda de acordo com o texto, o ministro da Saúde britânico, Wes Streeting, convidou especialistas em saúde do Brasil para obter informações sobre os programas de saúde da família e para usar esse conhecimento em um planejamento de dez anos para o NHS.
Esse plano deve ser publicado em junho, de acordo com o Telegraph, com maior ênfase na prevenção a doenças e um deslocamento do foco dos hospitais em direção às comunidades, o que seria inspirado no modelo brasileiro.
Durante a campanha eleitoral, na véspera da vitória trabalhista em julho de 2024, Streeting apontou que um dos maiores problemas do sistema britânico era a dificuldade de acesso a médicos.
‘Senso de comunidade’ funcionaria no Reino Unido?
A reportagem do Telegraph, que visitou equipes de agentes comunitários e pacientes em cidades como Rio de Janeiro, Duque de Caxias (RJ) e Manaus, destaca que esses profissionais atuam nas áreas onde moram e são obstinados em realizar seu trabalho —mesmo enfrentando as consequências da pobreza, as longas distâncias na amazônia e a violência das grandes cidades brasileiras.
É enfatizado também que os agentes não têm diplomas em saúde, mas recebem treinamento —a partir daí, indo de “porta em porta, oferecendo escuta atenta, recomendações de saúde e educação e conexões com os serviços de saúde”.
Muitos, inclusive, são sobrecarregados pelas centenas de famílias que precisam atender, diz também o Telegraph.
São mostradas histórias reais de trocas, inclusive afetivas, entre os agentes e a população. Confiança e até segredos de família fazem parte dessa relação, contam Donnelly e Marquis.
Mas as repórteres colocam em dúvida se um dos ingredientes do sucesso brasileiro, a proximidade entre os agentes e a população, funcionaria do outro lado do Atlântico: “Talvez seja menos claro se a Grã-Bretanha moderna tem um senso de comunidade que poderia ser aproveitado ou se uma batida na porta seria tão bem-vinda.”
Este texto foi originalmente publicado em BBC Brasil.