Página Inicial Saúde Tenho mais medo do fim do mês do que do fim do mundo – 19/06/2025 – Equilíbrio

Tenho mais medo do fim do mês do que do fim do mundo – 19/06/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Nas últimas décadas, quase todas as profissões foram uberizadas. O próprio Uber já não oferece mais balinha ao final da corrida, porque está ganhando em balinha para poder trabalhar. Com roteiristas e escritores, não é muito diferente. O ChatGPT está aí passando o rodo e, para o meu desespero (e o de tantos outros profissionais), a ferramenta ainda vai substituir muita gente. Diante de um futuro cada vez mais minguado, encontrar um plano B para ganhar dinheiro começou a roubar minhas noites de sono.

Mas o que eu poderia fazer além de escrever?

Um dia, uma ideia me veio —literalmente— à cabeça. Peguei piolho da minha filha e, como tinha um evento na mesma noite, fui a uma clínica que prometia acabar com aquela desgraça em apenas uma consulta. Pela bagatela de 400 pilas, passaram um aspirador na minha cabeça para sugar os danados, seguido de um pentinho de ferro para finalizar o piolhocídio.

Saí com os cabelos limpos e uma ideia na cachola: abriria uma clínica daquelas. Por 400 reais a hora, eu tiro até demônio do corpo. Usaria minha filha como propagadora da peste na escola e assim conquistaria minha primeira clientela. Depois, a coisa andaria no boca a boca —ou melhor, no cabeça a cabeça. Faria lobby no Congresso para que toda criançada com piolho tivesse que apresentar atestado da minha clínica para regressar à escola. E, assim, ficaria milionária.

Mas o sonho de riqueza ruiu quando voltei a me infestar e descobri que o pente de ferro, por modestos R$ 9,90, ainda era o melhor investimento.

Estudei usar minha poupancinha para investir em outro tipo de franquia. Fui a uma rede de estética com a certeza do lucro. O Brasil pode até ficar sem a floresta amazônica, mas não fica sem botox. Ao chegar em casa, meu marido me relembrou do dia em que tentei dividir 0,1 por 1, provando que, como empresária, sou uma excelente escritora. Seria falência no primeiro mês.

No ápice do desespero, fui consultar um médium, que disse, olhando para as minhas mãos: “Está aqui a sua resposta”. Desesperada, perguntei: “É massagem? Manicure não deve ser… eu arranco cada bife que Deus me livre.”

Saí da consulta sem futuro e sem o pouco dinheiro que doei ao centro espírita. No fim, acho que o médium tinha razão: a resposta estava mesmo nas minhas mãos. Escrever é o que sigo fazendo. Pelo menos até inventar um plano mirabolante que me deixe rica. Ou, pelo menos, me leve até o fim do próximo mês.

Você também pode gostar

Deixe seu Comentário