Página Inicial Saúde Terapias com células-tronco ganham popularidade nos EUA – 12/06/2025 – Equilíbrio

Terapias com células-tronco ganham popularidade nos EUA – 12/06/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

A promessa da terapia com células-tronco é poderosa. Cientistas podem extrair células versáteis do corpo humano e aplicá-las para reparar lesões e combater doenças de dentro para fora.

Mas nem todas as terapias com células-tronco são feitas da mesma forma. Algumas, como os transplantes de medula óssea, são respaldadas por décadas de pesquisa clínica e consideradas seguras e eficazes. Outras ainda estão em ensaios clínicos, o que significa que são conceitos promissores, mas que ainda não foram colocados em prática.

Ao mesmo tempo, spas médicos e clínicas de longevidade dos Estados Unidos estão comercializando cada vez mais seus próprios tratamentos com células-tronco para artrite, dores nas articulações, doença de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica e até mesmo para uma pele melhor.

Cientistas alertam que os tratamentos promovidos por esses spas e clínicas não são comprovados, custam caro e podem ter efeitos colaterais perigosos.

“Esta indústria clínica representa todos os tipos de riscos para o público”, diz Paul Knoepfler, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia Davis, que estuda células-tronco.

Alguns especialistas em células-tronco, incluindo Knoepfler, estão preocupados e temem que a Food and Drug Administration (órgão equivalente à Anvisa nos EUA) possa afrouxar a supervisão da terapia com células-tronco, o que poderia confundir o público sobre a diferença entre tratamento com respaldo científico e terapias não testadas.

Suas preocupações advêm, em parte, das observações do Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., sobre o assunto, incluindo uma publicação no X (antigo Twitter) em outubro do último ano, pedindo o fim da “supressão agressiva” da FDA às terapias com células-tronco.

Durante um podcast recente com o influenciador de longevidade Gary Brecka, o secretário disse que havia viajado para Antígua para receber um tratamento com células-tronco para a garganta —Kennedy, que tem uma condição neurológica que afeta a garganta e a voz, disse que a terapia o ajudou “enormemente”.

“Por que eu tive que ir a Antígua para isso?”, disse no episódio, sugerindo que trabalharia para expandir o acesso a tratamentos com células-tronco e outras terapias experimentais.

Como as células-tronco são reguladas atualmente?

Empresas que desenvolvem terapias com células-tronco podem solicitar à FDA autorização para iniciar estudos em humanos. Se a terapia parecer eficaz, a empresa pode então buscar a aprovação da agência, que analisa os dados do tratamento.

Além disso, a FDA tem o poder de regulamentar os produtos oferecidos em clínicas privadas, que geralmente não são aprovados. A agência já exigiu que algumas clínicas parassem de vender tratamentos com células-tronco não comprovados, que poderiam prejudicar os pacientes ou levá-los a adiar tratamentos mais legítimos.

Menos regulamentação, no entanto, pode significar menor supervisão de empresas “que cobram muito dinheiro por algo que não foi realmente validado”, diz Clive Svendsen, professor de ciências biomédicas que lidera um laboratório de pesquisa de células-tronco no Cedars-Sinai, em Los Angeles.

Por que os cientistas estão animados?

Células-tronco são as células vazias a partir das quais todos os tecidos e órgãos do corpo são criados. Ao contrário de muitas outras células, certas células-tronco também podem se regenerar. Por isso, os cientistas acreditam que podem oferecer um suprimento infinito de células que podem ser manipuladas para substituir aquelas “danificadas” no corpo.

Alguns tratamentos dependem de células-tronco adultas colhidas do sangue ou da medula óssea. Outros usam células normais da pele ou do sangue, que são reprogramadas em células-tronco em laboratório.

Para terapias aprovadas, essas células-tronco são normalmente manipuladas para se tornarem um certo tipo de célula e, então, entregues em tecidos específicos na esperança de substituir células perdidas ou danificadas, explica Tenneille Ludwig, diretora do Banco de Células-Tronco WiCell em Wisconsin, que distribui células usadas em pesquisas e ensaios clínicos.

Quais tratamentos disponíveis estão sendo estudados?

Atualmente, apenas algumas terapias com células-tronco são aprovadas pela FDA, principalmente para o tratamento de câncer no sangue e distúrbios do sistema imunológico.

Em transplantes de medula óssea, um dos tratamentos aprovados pela agência norte-americana, células-tronco de um doador são injetadas em um paciente, onde se tornam células sanguíneas ou imunológicas que podem substituir aquelas danificadas pela quimioterapia ou radioterapia.

Um ensaio clínico em andamento está investigando se as células-tronco podem substituir os neurônios produtores de dopamina que morrem durante a doença de Parkinson, o que poderia potencialmente reverter os sintomas. Outro estudo está analisando se células produtoras de insulina derivadas de células-tronco podem ser usadas no tratamento do diabetes.

E há outras pesquisas que alguns cientistas consideram promissoras. Estudos sugerem que células-tronco reprogramadas em células virgens e, posteriormente, em células cardíacas podem ser capazes de restaurar parte da função cardíaca. Ensaios clínicos mais amplos sobre tratamentos neurológicos e cardíacos —incluindo ELA e insuficiência cardíaca— estão em andamento, mas até agora ficaram “aquém das expectativas”, afirma Jeffrey Karp, chefe do departamento de anestesiologia do Mass General Brigham e da Escola de Medicina de Harvard.

E os tratamentos experimentais em clínicas particulares?

Milhares de clínicas nos EUA agora oferecem o que alegam ser tratamentos com células-tronco para uma ampla gama de doenças. Essas terapias não são cobertas por planos de saúde e podem custar entre alguns milhares e dezenas de milhares de dólares por injeção, afirma Svendsen.

Normalmente, essas clínicas extraem células-tronco do corpo do paciente ou de um doador, às vezes da própria gordura da pessoa, e as injetam novamente sem qualquer manipulação, afirmam especialistas. (Isso pode permitir que as empresas contornem a FDA, que não regula alguns tratamentos com células-tronco, se os provedores disserem que estão manipulando apenas minimamente as células.)

Se esses tratamentos realmente oferecerem algum alívio, “é muito provável que seja um placebo”, explica Svendsen, acrescentando que não há uma explicação científica sólida para o motivo pelo qual células-tronco que não foram manipuladas em tipos celulares mais específicos ofereceriam quaisquer benefícios à saúde. “Eles estão apenas pedindo US$ 7.000 (aproximadamente R$ 38 mil) para que suas células sejam reintroduzidas no seu corpo.”

Há outros riscos a serem considerados. Primeiro, não há garantia de que as clínicas utilizem células-tronco verdadeiras, diz Karp: embora possam estar coletando células da medula óssea ou da gordura de um paciente ou doador, não há garantia de que as células coletadas sejam as que se regeneram.

As clínicas também não são obrigadas a informar a origem das células-tronco do doador, o que significa que elas podem estar contaminadas, completa Karp. Além disso, injeções inadequadas —e células contaminadas— podem levar a sérios problemas de saúde, como coágulos ou células que viajam para os órgãos errados do corpo, explicam os especialistas.

A FDA já havia alertado sobre relatos de cegueira, formação de tumores e infecções após tratamentos com células-tronco não aprovados. Em 2017, três pacientes na Flórida tiveram danos permanentes à visão após receberem as células em seus olhos na tentativa de tratar a degeneração macular.

“É claro que você vai ter muitos charlatões e pessoas com maus resultados”, reconhe Kennedy em recente participação em podcast. “E, no fim das contas, não dá para evitar isso de jeito nenhum.”

Segundo Karp, “os cenários mais perigosos tendem a ocorrer em clínicas com fins lucrativos que operam sem supervisão”.

“Essas clínicas costumam fazer alegações exageradas e ignorar protocolos de segurança cruciais”, completa.

Embora pessoas com dor crônica ou outras doenças possam estar desesperadas por alívio, esses tratamentos não comprovados representam uma “séria possibilidade de lesões”, diz Ludwig, acrescentando que os pacientes devem perguntar quais protocolos regulatórios as clínicas seguem e até que ponto a literatura científica respalda seus tratamentos. “Eu ficaria muito cauteloso.”

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