Nivaldo Almeida, 62, precisou de um transplante de pulmão anos após receber diagnóstico de enfisema pulmonar, em 2005. Ex-fumante, o aposentado passou longos anos convivendo com a doença degenerativa. Entrou na fila do transplante em março de 2019 e, em setembro, conseguiu o órgão.
Já Maristela Bitencourt, 50, passou por transplante de pulmão em setembro de 2022, após receber diagnóstico de fibrose pulmonar idiopática, uma doença crônica.
No último dia 14 de julho, acompanhados de uma equipe médica do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), eles foram dois dos três pacientes transplantados de pulmão que subiram os 2.791 metros de altitude do pico das Agulhas Negras, o quinto mais alto do Brasil. Em dez horas, chegaram ao cume do local, que fica no Parque Nacional de Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, e retornaram em segurança.
O desafio foi fruto de um projeto inédito nas Américas, conduzido pelo Serviço de Cirurgia Torácica do hospital. A ideia, conta o idealizador Isaac Rodrigues, surgiu quando, durante sua especialização na Áustria, viu um projeto semelhante ser conduzido em 2019, para o monte Kilimanjaro, na Tanzânia.
“Quando participei, nasceu a semente, a ideia de replicar isso no Brasil. E no ano passado fui para o Agulhas Negras já investigando como seria a logística e a infraestrutura”, afirma o médico.
Para a subida, foram necessários três meses de reabilitação e muito trabalho para que os profissionais de saúde conduzissem o projeto sem impor risco aos pacientes. Além de Isaac Rodrigues, o projeto envolveu uma equipe de profissionais da cirurgia torácica, enfermagem, biomedicina, fisioterapia e medicina intensiva.
Para a preparação, entre abril e junho, os três pacientes passaram por uma bateria de exames e uma reabilitação baseada em três pilares: avaliação cardiopulmonar, nutricional e reabilitação muscular.
Durante a subida, tiveram apoio de dois guias treinados e estavam munidos de um comunicador satélite, cilindros de oxigênio e mochila com equipamentos médicos. Além disso, no percurso, pacientes e equipe médica passaram por avaliações com coleta de amostras de sangue, testes pulmonares, avaliação da saturação de oxigênio e sinais vitais, controle de sintomas de altitude, testes de esforço monitorizados e ultrassom de tórax.
“O céu é o limite. Nós fomos bem preparados, mas eu tenho certeza que qualquer pessoa que não tenha outros problemas de saúde e que venha passar por esse transplante, pode fazer qualquer coisa”, diz Nivaldo.
O céu é o limite. Nós fomos bem preparados, mas eu tenho certeza que qualquer pessoa que não tenha outros problemas de saúde e que venha a passar por esse transplante, pode fazer qualquer coisa
O projeto, segundo ele, intensificou a união entre ele e Maristela. Os dois se conheceram em 2018, no hospital, e se casaram em 2022. “Foi muito bom, os dois juntos, dando força um para o outro. Ao longo do tempo fomos intensificando os nossos treinos, participando de todos os exames”, diz.
Para Isaac Rodrigues, provar que o paciente transplantado tem condição de chegar a vários lugares foi um dos objetivos atingidos. Mas, para ele, a principal ideia do projeto é inspirar as pessoas a vencer suas limitações e a doar órgãos. “Isso é importante para que a gente possa devolver a vida normal a esses pacientes.”