Página Inicial Saúde Transtornos alimentares: o que aprendi e desaprendi – 06/06/2025 – Não Tem Cabimento

Transtornos alimentares: o que aprendi e desaprendi – 06/06/2025 – Não Tem Cabimento

Publicado pela Redação

Quando escrevi o primeiro texto deste blog, há um ano, me perguntava como funcionava a distorção de imagem. Eu lidava com o medo de provar certos alimentos, além de não sentir fome e precisar ser lembrada de comer. Já são décadas acompanhada por esse inconveniente: o meu transtorno alimentar.

Logo na estreia, o coordenador do Ambulim, Táki Cordás, me explicou que esses transtornos são psiquiátricos, com origem multifatorial, decorrente de aspectos genéticos, biológicos e sociais. Entendi porque é tão difícil ir contra hábitos nocivos –e que não tem a ver com força de vontade. Pessoas como eu têm uma interação cerebral diferente, que faz a autoimagem oscilar de acordo com o humor. Junto da terapia, a informação me ajudou a espantar o mal-estar algumas vezes.

Encarei um aumento de autocobrança, é claro. Afinal, como posso ter “recaídas” diante de tantas informações? Que direito eu tenho de me sentir aflita se eu quem decidi falar sobre isso? Mas apenas por ser também personagem pude achar as perguntas que precisava fazer.

Como eu saberia que dá para não sentir fome por anos se eu já não soubesse? E com ajuda da nutricionista Sophie Deram, descobri que isso tem até nome: interocepção. Pessoas com esses transtornos podem perder a habilidade de perceber as sensações do corpo. Me senti menos maluca.

É óbvio que a angústia do reflexo indecifrável, o medo das calorias e a resistência para comer não sumiram. Meu inconveniente segue ao lado –em uns dias, aos berros, mas em outros, agora, aprendeu a sussurrar. É que frente a explicações para coisas que pareciam invenções da minha cabeça consegui assimilar alguns fatos: comer carboidratos é essencial para o funcionamento do corpo (eles devem corresponder a metade do consumo diário), dietas low carb vão te fazer perder água, suco detox e “soluções mágicas” talvez só te façam perder tempo. Não é simples. Mas saber as coisas nos permite escolher um pouquinho melhor o próximo passo.

Desde criança essa estratégia funciona comigo: quando eu rejeitava um alimento, minha avó dizia para comer porque fazia bem –para o coração ou o cabelo. E se fazia bem, eu comia. Agora, sabendo que eu e a comida precisávamos nos entender, comi doces, macarrão e pão, coisas que eu achava verdadeiramente não gostar. Me arrependi. Fiquei orgulhosa. Fechei os olhos para todas as dietas que vi. A montanha-russa continua, mas luto diariamente para querer viver mais do que querer perder peso.

“Os 10 kgs que você quer perder combinam com a vida que você quer levar?”, foi a pergunta da Micaela Charlone, historiadora, nutricionista e influenciadora, que me fez assimilar. Ela também lidou com transtornos alimentares e fala sobre isso no Comida Sem Regra.

São 12 meses encontrando boas fontes para falar sobre o tema, pessoas que sofrem com esses transtornos e até gente com outras doenças que pôde recalcular a rota –como alguém que amo e iniciou um tratamento para obesidade após nos ler. Na ânsia por desnaturalizar “soluções mágicas”, não sabia que remédios podem ser válidos em alguns casos. Agora eu sei, agora ela sabe. Agora, como indicam comentários de leitoras que se identificam com nossos relatos, algumas pessoas sabem algumas coisas. Que o próximo ano, enfim, nos permita continuar descobrindo para escolher cada dia um pouco mais.


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