Página Inicial Saúde Usuários de apps de namoro usam IA para aprimorar conversa – 05/07/2025 – Equilíbrio

Usuários de apps de namoro usam IA para aprimorar conversa – 05/07/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Richard Wilson sentiu que havia encontrado um tesouro: o homem de 31 anos conheceu alguém em um aplicativo de namoro que queria trocar mais do que o superficial “e aí?”.

Ele enviava mensagens longas, de vários parágrafos, e ela reconhecia cada um de seus pontos, entrelaçando detalhes que ele havia mencionado antes. Suas discussões alimentavam a faísca romântica, segundo ele, mas quando enfim se encontraram pessoalmente, sua parceira não demonstrou nenhuma das habilidades de diálogo que havia mostrado por mensagem.

A confusão de Wilson transformou-se em suspeita quando ela mencionou que usava o ChatGPT “o tempo todo” no trabalho. Em vez de tropeçar naquelas primeiras conversas desajeitadas, será que ela havia recorrido à IA?

Empresas de aplicativos de namoro como o Match Group —que possui Hinge, Tinder e uma série de outros apps de relacionamento— dizem que a IA pode ajudar usuários que estão muito ocupados ou tímidos para conseguir encontros. Mas um número crescente de solteiros como Wilson está descobrindo que o uso de IA torna os namoros mais complicados, levantando questões sobre etiqueta e ética nos relacionamentos.

Com a IA ajudando todos a soarem mais charmosos —e editando comentários antes que sejam proferidos—, fica mais difícil avaliar se um potencial parceiro é de fato atraente e inofensivo, diz a coach de namoro Erika Ettin.

“Normalmente, você consegue ver no chat que tipo de linguagem eles [potenciais parceiros] usam, se pulam rapidamente para assuntos sexuais e como interagem com estranhos”, diz Ettin. “Quando algum bot está conversando por eles, você não consegue mais coletar essas informações sobre aquela pessoa.”

Com quase um terço dos adultos americanos dizendo que já usaram aplicativos de namoro e a maioria dos relacionamentos começando online agora, essas empresas estão ansiosas para descobrir como a IA de ponta pode fortalecer seu modelo de negócios.

O Hinge, por exemplo, adicionou ferramentas de IA que leem os perfis dos usuários e examinam suas fotos, sugerindo mudanças que teoricamente aumentam suas chances de conseguir um “match”. O Tinder usa IA para ler as mensagens trocadas na plataforma, alertando quando entende que o usuário enviou ou recebeu algo de mau gosto.

Amanda Gesselman, psicóloga do Instituto Kinsey, diz que sua pesquisa com o Match Group sugere que uma parcela significativa de solteiros usa IA para “melhorar suas vidas amorosas”. Ela concorda que a tecnologia poderia ajudar pessoas que têm dificuldade em navegar no app, dar match, conversar e marcar encontros. Mas reconhece que os recursos vêm com complicações éticas e teve dificuldade em dizer quando o uso de IA é aceitável e quando não é.

“Quando você usa IA para mensagens está usando a ferramenta de uma forma que amplifica a si mesmo e sua capacidade de ter conversas”, diz Gesselman.

O design dos aplicativos de namoro já incentiva comportamentos que fazem o flerte parecer impessoal, dizem alguns usuários. Certos solteiros ansiosos deslizam para a direita em todos os perfis (mecanismo que funciona como uma “curtida”), maximizando suas chances de conseguir um match. Outros dão ghosting, cortando a comunicação após um encontro ruim em vez de oficialmente terminar as coisas. E muitos tentam manipular os algoritmos dos aplicativos de namoro dizendo “não” a parceiros pelos quais se sentem atraídos, numa tentativa de sinalizar ao algoritmo que são exigentes e desejáveis.

Eve Tilley-Coulson, advogada em Los Angeles, administra um negócio paralelo no qual entra nas contas dos usuários no Hinge e usa o aplicativo em nome deles, jogando com o algoritmo a seu favor. Para usuários já frustrados com apps de namoro, recursos de IA para diálogo provavelmente não serão bem recebidos, disse Tilley. Quando a IA do Hinge solicita que os usuários escrevam respostas mais detalhadas em seus perfis, por exemplo, alguns temem que o aplicativo esteja coletando dados extras para fins nefastos, diz ela. O Match não comentou sobre a coleta de dados.

Na visão de Tilley, os recursos de IA serão, na pior das hipóteses, usados como arma contra os usuários para mantê-los usando o aplicativo e pagando. Na melhor das hipóteses, eles vão direcionar os usuários para respostas e conversas mais uniformes, já que a IA generativa tende a fazer referência a ideias e conversas que viu antes.

A porta-voz do Match Group, Vidhya Murugesan, afirma que os algoritmos da empresa são projetados para direcionar os usuários para conexões presenciais, tirando-os dos aplicativos. “À medida que integramos a IA em nossos produtos, estamos priorizando autenticidade, transparência e segurança, garantindo que essas ferramentas melhorem a experiência do usuário e ajudem a fomentar mais dessas conexões.”

O Match também usa IA para ler as mensagens dos usuários e alertá-los se estiverem prestes a enviar algo potencialmente ofensivo, abusivo ou estranho. Os remetentes recebem a pergunta “tem certeza?” e têm a oportunidade de reformular sua mensagem.

Cerca de 20% das pessoas que recebem esse alerta optam por não enviar a mensagem original, diz Yoel Roth, chefe de confiança e segurança do Match Group, no palco de uma conferência de IA em junho. Os destinatários também podem receber o alerta “isso incomoda você?”.

“Muito do que estamos pensando enquanto construímos aplicativos que ajudam as pessoas a se conectarem é: como podemos usar a IA para melhorar essa experiência, seja para torná-la mais segura e autêntica, seja para ajudar pessoas a se conhecerem e se expressarem?”, afirma Roth.

As dificuldades em manter um diálogo podem prejudicar alguns namorados que não têm jeito com as palavras, diz Roman Khaves, cofundador do aplicativo Rizz, que se apresenta como um coach de namoro com tecnologia de IA. Os usuários podem fazer upload no Rizz de capturas de tela de suas conversas em aplicativos de namoro e pedir dicas sobre o que dizer.

“A IA está ajudando as pessoas a terem um pouco mais de confiança em si mesmas e dando a elas esse carisma”, conta. “Há muitos caras ótimos por aí que não são bons em mensagens de texto, e o Rizz está ajudando todos esses caras ótimos a serem vistos.”

As normas sociais sobre quando e como é apropriado usar IA estão se desenvolvendo mais lentamente do que a própria tecnologia.

No local de trabalho, onde o objetivo é realizar tarefas com eficiência, terceirizar para a IA é menos eticamente complexo do que em aplicativos de namoro, onde o objetivo é revelar seu verdadeiro eu, diz Giada Pistilli, principal especialista em ética da empresa de IA Hugging Face. Quanto mais dependemos da IA para facilitar nossas conexões emocionais, menos somos capazes de nos expressar genuinamente.

“Embora nos faltem regulamentações formais, temos fortes intuições morais sobre autenticidade em relacionamentos íntimos”, afirma Pistilli. “Considere como uma carta de amor perde praticamente todo o seu impacto emocional quando descobrimos que foi gerada por IA, em vez de vir do coração.”

As pessoas, quando se abrem para alguém novo, querem saber se o outro também está mostrando seu verdadeiro eu, diz Kathryn Coduto, professora de ciência da mídia na Universidade de Boston e que estuda aplicativos de namoro. “Você se expõe, mas a outra pessoa está tão desconectada que está usando IA. Parece uma incompatibilidade.”

Depois de conhecer a mulher que ele suspeitava estar usando o ChatGPT para lhe enviar mensagens, Wilson marcou um segundo encontro. Talvez com mais tempo, pensou ele, conseguiria vislumbrar sua verdadeira personalidade.

Mas ele não gostou do que viu. Embora nunca tenha descoberto com certeza se ela havia confiado em um chatbot, o encontro ruim fez Wilson se sentir ressentido com a IA e exausto com os aplicativos de namoro. Se essa mulher tivesse sido forçada a escrever mensagens por conta própria —sem ajuda do ChatGPT ou alertas do Hinge impedindo-a de enviar mensagens potencialmente estranhas—, talvez ele pudesse ter determinado mais cedo que eles não formavam um bom par.

Segundo Wilson, eles haviam trocado mensagens por semanas. Mas com quem ele realmente estava falando? “É quase como se nunca tivéssemos conversado.”

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